Existe um filme do genial cineasta americano (jurava que ele era inglês) Stanley Kubrick chamado "Full Metal Jacket" que no Brasil recebeu o nome de "Nascido para Matar". Ele narra a trajetória de um soldado, apelidado pelo instrutor de Joker, durante a Guerra do Vietnã e a sua progressiva perda da inocência durante o conflito.
Quero chamar a atenção sobre dois personagens desse filme: o Sargento Hartmann e Leonard, o recruta chamado de Gommer Pyle (Pilha de Gosma numa tradução literal). Hartmann e´o sargento de instrução duro, inclemente que habitualmente humilha aqueles a quem deve treinar ("Aqui não há discriminação racial(...) vocês são igualmente inúteis", "Quanto você mede? Um metro e setenta e cinco, Senhor! Não sabia que empilhavam merda tão alto") e Leonard é o recruta obeso que não consegue acompanhar o ritmo dos demais colegas e por conta disso é humilhado até o limite e além, fazendo com que, progressivamente, ele desenvolva um distúrbio de comportamento e acabe por matar o Sargento Hartmann e cometer suicídio, passagem ilustrada no blog por essa foto que vocês vêem.
A questão que se coloca é a seguinte: obviamente Hartmann tinha o direito institucional de aplicar a força que achasse necessária para chegar ao objetivo de transformar os recrutas em soldados que não tivessem clemência pelo inimigo no campo de batalha e todos deveriam responder positivamente à essa pressão ou não serem incorporados ao Corpo de Fuzileiros.
No entanto, como pode-se ver (se não viram esse filme fica a dica para todos) Leonard não pode responder ao demandado e foi levado no sutil limite entre a sanidade e a insanidade o que, por sua vez, levou ao assassínio de Hartmann e o suicídio do recruta. É possível fazer uma ponte entre o que aconteceu aqui e alguns resultados de ações dentro do BDSM? Ao meu ver, sim, mesmo que não acabem de forma tão dramática e trágica.
Não cabe ilusões aqui: resguardar-se sobre o manto do "Consensual" não nos desobriga enquanto "Tops" a cuidar de alguns detalhes que são vitais na relação com nossos subs. Não é porque se concorda ou se estabelecem limites que os mesmos não representem algum risco do "bottom" estar avaliando a sua capacidade muito além do que realmente pode aguentar.
E a quem cabe a missão de verificar se a sanidade do seu sub está sendo mantida? Ao Dominante,sem dúvida. Para ilustrar , narro (evidentemente sem mencionar nomes) o caso de um Top que distante de sua sub usou o telefone para uma "sessão" à distância. Durante uma determinada atividade, notou que a moça soltou um gemido que só aconteceria se ela estivesse se ferindo. Perguntada , respondeu que de fato não havia usado a palavra de segurança para paralisar a atividade quando essa estivesse causando mal estar, algo permitido pelo Top.
Analisando outras atitudes após o acontecido, apurou que, na verdade, havia naquela mente uma disposição para a dor não como prazer (como seria de se esperar) mas com uma apelo ao sofrimento como um processo auto-destrutivo que teve como cobertura uma sessão de BDSM. É um risco único, só nesse caso? Com certeza não ! Cabe-nos a responsabilidade de, na dúvida, paralisar o processo de dominação e apurar o que acontece e , inclusive, não realizar sessões antes que a/o bottom procure ajuda especializada.
Agora: é fácil conseguir perceber o sofrimento psicológico? A resposta é clara: NÃO! Sendo assim, como chegar a esse sutil equilíbrio que proponho? Imagino que cada um saiba da vida de seu bottom, de seus comportamentos quando submetidos à pressões, humilhações e outras práticas. Isso é uma chave fundamental para que saibamos muito bem onde devamos ir.
Rompimento de barreiras? Sim, esse é o grande o momento, o sublime tanto para dominados como para dominantes! Alguém tem ilusão que esse momento chegará apenas dentro de um horizonte maior de tempo e de possibilidades, ou seja , constitua-se no resultado de um processo de desenvolvimento? Se pensam assim, como dizia um comercial de uma marca de automóveis, é bom "rever seus conceitos".
Já dizia o velho ditado: "devagar se vai ao longe" e ele é válido aqui. Eu costumo dizer que o Top tem de ser obsessivo com segurança e é um fato. Nesse aspecto, concordo com os que dizem que a palavra de segurança (safeword) possa tornar-se desnecessária uma vez que passa irrestritamente ao Top a obrigação de resguardar a integridade mental e física de sua peça.
Resumidamente, poderíamos dizer que há uma linha tênue entre a sanidade e a insanidade, entre o prazer e o sofrimento que não conduz ao êxtase. Zelar por isso é garantir que nosso bottoms tenham por nós o respeito e porque não dizer, o carinho que todos queremos. Ao invés de novos Leonards, pessoas que desfrutam o BDSM como um todo.
E , para finalizar, à luz dessa constatação, podemos dizer que há sim um poder ilimitado por conta do Top, ele tem , como disse em outro artigo "o poder do príncipe" , o poder de livremente deliberar sobre o que será feito, quem fará e o que se fará do seu bottom. No entanto, se limitação há (e nem faço essa leitura) ela não é ditada pelo chamado "bom senso" (algo que eu repugno) mas sim pela objetividade da existência dos limites pessoais que falamos anteriormente. Se o Top não conseguir ou não aceitar esse dever, sinceramente, a sua prática poderia ser chamada de tudo menos de BDSM.
As consequências da não observação dos limites físicos e psicológicos do bottom são, muitas vezes, a permanente "mutilação" de uma pessoa. Se não conseguirmos zelar por isso, como ousamos nos intitular Dominadores, Mestres e outras denominações?
Saudações
Quero chamar a atenção sobre dois personagens desse filme: o Sargento Hartmann e Leonard, o recruta chamado de Gommer Pyle (Pilha de Gosma numa tradução literal). Hartmann e´o sargento de instrução duro, inclemente que habitualmente humilha aqueles a quem deve treinar ("Aqui não há discriminação racial(...) vocês são igualmente inúteis", "Quanto você mede? Um metro e setenta e cinco, Senhor! Não sabia que empilhavam merda tão alto") e Leonard é o recruta obeso que não consegue acompanhar o ritmo dos demais colegas e por conta disso é humilhado até o limite e além, fazendo com que, progressivamente, ele desenvolva um distúrbio de comportamento e acabe por matar o Sargento Hartmann e cometer suicídio, passagem ilustrada no blog por essa foto que vocês vêem.
A questão que se coloca é a seguinte: obviamente Hartmann tinha o direito institucional de aplicar a força que achasse necessária para chegar ao objetivo de transformar os recrutas em soldados que não tivessem clemência pelo inimigo no campo de batalha e todos deveriam responder positivamente à essa pressão ou não serem incorporados ao Corpo de Fuzileiros.
No entanto, como pode-se ver (se não viram esse filme fica a dica para todos) Leonard não pode responder ao demandado e foi levado no sutil limite entre a sanidade e a insanidade o que, por sua vez, levou ao assassínio de Hartmann e o suicídio do recruta. É possível fazer uma ponte entre o que aconteceu aqui e alguns resultados de ações dentro do BDSM? Ao meu ver, sim, mesmo que não acabem de forma tão dramática e trágica.
Não cabe ilusões aqui: resguardar-se sobre o manto do "Consensual" não nos desobriga enquanto "Tops" a cuidar de alguns detalhes que são vitais na relação com nossos subs. Não é porque se concorda ou se estabelecem limites que os mesmos não representem algum risco do "bottom" estar avaliando a sua capacidade muito além do que realmente pode aguentar.
E a quem cabe a missão de verificar se a sanidade do seu sub está sendo mantida? Ao Dominante,sem dúvida. Para ilustrar , narro (evidentemente sem mencionar nomes) o caso de um Top que distante de sua sub usou o telefone para uma "sessão" à distância. Durante uma determinada atividade, notou que a moça soltou um gemido que só aconteceria se ela estivesse se ferindo. Perguntada , respondeu que de fato não havia usado a palavra de segurança para paralisar a atividade quando essa estivesse causando mal estar, algo permitido pelo Top.
Analisando outras atitudes após o acontecido, apurou que, na verdade, havia naquela mente uma disposição para a dor não como prazer (como seria de se esperar) mas com uma apelo ao sofrimento como um processo auto-destrutivo que teve como cobertura uma sessão de BDSM. É um risco único, só nesse caso? Com certeza não ! Cabe-nos a responsabilidade de, na dúvida, paralisar o processo de dominação e apurar o que acontece e , inclusive, não realizar sessões antes que a/o bottom procure ajuda especializada.
Agora: é fácil conseguir perceber o sofrimento psicológico? A resposta é clara: NÃO! Sendo assim, como chegar a esse sutil equilíbrio que proponho? Imagino que cada um saiba da vida de seu bottom, de seus comportamentos quando submetidos à pressões, humilhações e outras práticas. Isso é uma chave fundamental para que saibamos muito bem onde devamos ir.
Rompimento de barreiras? Sim, esse é o grande o momento, o sublime tanto para dominados como para dominantes! Alguém tem ilusão que esse momento chegará apenas dentro de um horizonte maior de tempo e de possibilidades, ou seja , constitua-se no resultado de um processo de desenvolvimento? Se pensam assim, como dizia um comercial de uma marca de automóveis, é bom "rever seus conceitos".
Já dizia o velho ditado: "devagar se vai ao longe" e ele é válido aqui. Eu costumo dizer que o Top tem de ser obsessivo com segurança e é um fato. Nesse aspecto, concordo com os que dizem que a palavra de segurança (safeword) possa tornar-se desnecessária uma vez que passa irrestritamente ao Top a obrigação de resguardar a integridade mental e física de sua peça.
Resumidamente, poderíamos dizer que há uma linha tênue entre a sanidade e a insanidade, entre o prazer e o sofrimento que não conduz ao êxtase. Zelar por isso é garantir que nosso bottoms tenham por nós o respeito e porque não dizer, o carinho que todos queremos. Ao invés de novos Leonards, pessoas que desfrutam o BDSM como um todo.
E , para finalizar, à luz dessa constatação, podemos dizer que há sim um poder ilimitado por conta do Top, ele tem , como disse em outro artigo "o poder do príncipe" , o poder de livremente deliberar sobre o que será feito, quem fará e o que se fará do seu bottom. No entanto, se limitação há (e nem faço essa leitura) ela não é ditada pelo chamado "bom senso" (algo que eu repugno) mas sim pela objetividade da existência dos limites pessoais que falamos anteriormente. Se o Top não conseguir ou não aceitar esse dever, sinceramente, a sua prática poderia ser chamada de tudo menos de BDSM.
As consequências da não observação dos limites físicos e psicológicos do bottom são, muitas vezes, a permanente "mutilação" de uma pessoa. Se não conseguirmos zelar por isso, como ousamos nos intitular Dominadores, Mestres e outras denominações?
Saudações
Ter a devida consciência do limite a que se pode chegar junto a seu botton, é algo ao meu ver primordial para se prosseguir dentro de uma relação D/s, se meu Top não me conhece a ponto de saber exatamente como me sinto em relação ou durante uma sessão como posso confiar uma entrega total a Ele?! Mas não é tão fácil ou simples assim, na prática encontramos alguns "Tops" e "subs" que passam pela safeword como se usa-la fosse sinal de incompetência ou fraqueza, quando é justamente o contrário, o zelo por sua sub tem que ser levado a sério, com responsabilidade e equilibrio.
ResponderExcluirMaravilhoso texto!
Abs,
{cristal}_DARIUS
Querido Amigo Senhor Janus SW!
ResponderExcluirSaudades do Senhor, fazes falta.
Acheu o texto muito bom e educativo, aliás como são seus textos. Este está particularmente útil, sobretudo para que iniciantes entendam como devem se precaver.
Entretanto, o Senhor sabe que meu DONO e eu dispensamos a consensualidade e vivemos um SM bem pra lá de pesado.
No entanto, ELE me conhece até os poros e entende cada meu respirar. Por isso me abandono e podemos ter o luxo de viver um SM intenso e menos "calculado".
Senhor Janus, muito bom ve-lo de volta ao blog, postando como nunca.
Doces e respeitosos besos
{Amar Yasmine}_DEXPEX