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domingo, 18 de setembro de 2011

Saindo do Muro das Lamentações

Eu não quero fazer desse blog, aliás no qual não tenho escrito a algum tempo, um muro das lamentações. No entanto, quando as coisas começam a se repetir durante muito tempo e por muitas pessoas, é motivo para pensar-se algumas vezes e de forma o mais responsável possível.
A pergunta a ser feita é exatamente essa: afinal do que se está realmente "a fim" quando se fala em BDSM? Sempre tive claro para mim que o BDSM seria um dos espaços onde eu poderia encontrar uma expressão qualificada de minha sexualidade mas não o ponto final de tudo o que eu gostaria de viver e sentir mas apenas uma das coisas que mais gosto de fazer não em prejuízo de outras.
Atualmente parece que as coisas ficaram um tanto, como dizer, doidas: primeiro que em um mundo que orgulha-se em chamar "kink", uma série de pessoas vêm dizer que há um "verdadeiro BDSM" e, via de regra, são os mesmos que aplaudem quando a gente diz que a liturgia BDSM é algo , inclusive, dispensável.
O que mais me preocupa, no entanto, é que as coisas estão, de fato, saindo fora de um controle, com pessoas inclusive morrendo. Aí fica a pergunta? O que está, de fato, acontecendo?Parece que foi implantado o vale tudo em completa disconsideração com a vida humana.
Além disso, as coisas estão parecendo uma religião de fanáticos: o que é certo é nosso, é BDSM e o que é errado, vamos achar um critério para dizer que não é BDSM. Oras ! Dá um tempo! Mesmo que algo que deu errado não tenha sido feito por alguém do "meio" não seria interessante, já que são atividades que também nós fazemos, aprender com as lições dos erros para fazer que nós mesmos não os cometamos? Não! Melhor dizer que não é BDSM.
O absurdo é tão grande que estão querendo subverter, inclusive, a semântica da língua portuguesa. Dizem aí que consenso é a apresentação de um "programa" para a adesão por parte do bottom. Cara, isso não é consenso, é formulário de adesão à um clube esportivo, cultural e recreativo escola de samba unidos da chibata. É disso que se trata mesmo? Se for fica muito complicado!!!
Aliás, no caso do shibari mal sucedido na Itália, o sujeito teve a desfaçatez de dizer que não era assassino porque  as meninas que participaram da ação mal sucedida, concordaram... Que coisa, hein???????
Além de subverter a língua, desejam também subverter a toxicologia. Na discussão dessa mesma questão da Itália onde , agora de forma definitiva, os envolvidos usaram álcool e drogas, elementos que reconhecidamente restringem a capacidade de julgamento, a manifestação de alguns contra o consumo dessas substâncias virou algo rotulado como "BDSM Puritano". 
Insurgi-me contra isso mas fico pensando se eu deveria ter ficado quieto e pensado que cada um faça o que quiser e quem quiser de se submeter, que se submeta. No entanto, fico pensando o quanto as pessoas de fato têm consciência de que nossas práticas são potencialmente perigosas, que ninguém está com uma Real Doll mas com um ser humano sob sua responsabilidade, nos várias aspectos que essa palavra possa ter.
Se tudo virou válido, sinceramente, eu sou o primeiro a voltar atrás com minha "reinvindicação" da retirada das diferentes prática do CID-10 e DSM-IV. Se houver um pequeno grupo que seja, que sinceramente pense que vale tudo, acredito que essas práticas devam estar em ambos documentos. A ciência médica não pode prescindir desse balizamento para casos congêneres à nossa prática. Não gostaram dessa afirmação? Sinto muito!
Eu sou um ser social e, apesar de recluso por questões alheias à minha vontade, quem me conhece pessoalmente sabe que adoro estar com todos, brincar, conversar sério , dar risadas e até chorar se for necessário. No entanto, eu fico dentro de tudo conquanto me faça bem.
Sei que o "meio" segue comigo ou sem mim porque o todo será sempre maior do que indivíduo. No entanto, sinceramente, eu sei que o que vale é a vida que tenho com astharoth, minha menina, entre quatro paredes com pessoas que comungam dos mesmos ideais que eu. 
Será que o BDSM mudou tanto assim a ponto de eu quase não reconhecê-lo mais? Espero estar enganado!