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domingo, 13 de março de 2011

Caixa de Pandora - Parte 1

Capítulo 2 - Lascívia - A punição

A tensão era palpável, sensível.... talvez palpável seja melhor porque sim, podia sentir-se concretamente.  Nua ela esperava a decisão sobre sua roupa e quando foi chamada a vestí-la, não pode acreditar o que via em cima da cama. 
Uma roupa de vinil preta, daquelas que amolda-se ao corpo de quem a veste. Vestí-la é um desafio, usá-la, outro maior. Agradeceu aos céus pelo dia não estar tão quente quanto estava antes porque seria insuportável usá-la em outra condição. Botas, um pequeno colar com as cores da casa de seu Dono completavam o vestuário.
Sentia que a roupa realçava suas formas, seus seios volumosos, suas coxas igualmente fortes, suas nádegas, enfim, explicitava aquilo que fora ordenada a esconder e isso a aterrorizava pois sabia que havia algo mais por trás disso.
Entraram no carro e dirigiram-se ao seu clube de frequência costumeira. O que a aguardava? Essa era a questão que jamais fugiria de sua mente. Antes de chegar ao local, seu Dono estacionou o carro em um lugar pouco recomendável, zona de prostituição e ordenou-a a sair.
Ela não poderia negar o cumprimento dessa ordem mas temeu por si. O Dono ligou o carro, deu a volta no quarteirão quando outros carros passavam devagar por ela, dirigiam palavras e olhares. Ele parou o carro à uma curta distância e baixou os faróis. 
- Caraca, velho! Olha a gostosa que está ali! 
Sentia-se pequena, humilhada, detestável. O pior é que tudo o que estava acontecendo poderia ter sido evitado, poderia , de fato, nem ter acontecido. Sentiu que o olhar das pessoas era repugnante, os homens que lhe dirigiam palavras, propostas de programa que sabia que Ele não desejava que aceitasse mas também não desejava que os postulantes não fossem atendidos.
Os minutos tranformaram-se sucessivamente em agrupamentos aterrorizantes até completarem trinta e quando isso aconteceu, Ele ligou o carro e parou frente a ela abrindo a porta.
- Eita! O macho da puta chegou! Cara de sorte! - exclamou em voz alta um dos passantes.
Ela tinha vontade de falar, de pedir desculpas, de jurar que jamais se repetiria mas sabia que era vã essa tentativa, que perdão não se fazia daquela forma. 
- É bom ser desejada, menina?
Baixou a cabeça sabendo que deveria responder o óbvio mas que ele não daria conta das sensações que invadiam sua mente. 
- Não , Senhor! Não dessa forma, meu Dono.
Silêncio absoluto, nenhuma palavra, nenhum murmúrio ao menos. Subitamente, começa a chover e pensou que estava satisfeita em não ter começado quando encontrava-se na avenida, exposta, o que acrescentaria a dimensão física à humilhação que sentia.
Finalmente chegaram ao local pretendido e foram recebidos como sempre, conversaram com a proprietária como de costume e brindaram com vinho um momento que parecia marcar a superação do estado de mal estar que reinava entre ambos. 
Ele era risos fartos e simpatias a todos mas ela sabia, intuição talvez, que algo ali estava em uma vibração diferenciada da habitual. Secretamente sua mente começou a cogitar o que mais estaria reservado para ela, logo naquele lugar onde os recursos são tantos e com pessoas tão dispostas às artes da nova escravidão.
O vinho descia-lhe amargo pela garganta, não agradável como sempre mesmo sendo de sua uva e origem favoritas. Sem notar, tomava as taças fartamente servidas pelo Dono e , não fosse sua grande capacidade de resistência ao álcool, com certeza estaria bêbada.
No entanto, nesse estado, o seu olhar tinha uma agudeza incomum, e pode observar um sinal discreto ao Dono por parte da proprietária do estabelecimento. Conferenciaram alguns poucos minutos e apontando para sua escrava, ordenou que acompanhasse a mulher.
- Agora sim, teremos o acerto de contas ! - pensou ao cumprir o ordenado.
Foi encaminhada a uma sala em um cômodo distante do local de reunião do grupo. Fora mandada despir-se de suas botas e de sua roupa de vinil. A pele suada foi cuidadosamente seca pelas auxiliares, todas submissas daquela dominadora.
Seus cabelos foram novamentes penteados até ter uma brilhante e constante superfície e foram cuidadosamente arrumados depois de colocada a coleira de sessão e um corset underbust que apenas ressaltaram o volume e a forma dos atraentes seios que tinha.
Agora sim, temia ela, seria submetida à humilhação pública que tanto temia. Sabia que pelos preparativos não havia a mínima hipótese de escapar do verdadeiro castigo que aquela primeira "amostra" não era suficiente. 
Para complementar, botas longas que chegavam acima dos joelhos e nada mais. Sentia-se totalmente despida de quaisquer adornos mesmo estando trajada daquela forma. Era terrível, demais para si, sentia-se no auge de um sentimento que misturava a ansiedade do que havia por vir e a humilhação que tinha certeza de passar.
- Você bem conhece seu Senhor, seu rigor e sua inclemência. Sugiro que você se submeta aos seus desígnios e complementar toda a sua pena. Depois, com sua mudança de comportamento, terão a oportunidade de construir uma esplêndida relação.
- Sim, Senhora. Farei isso! Grata por seus sábios conselhos.
Ela nada falou, apenas colocou a guia à coleira de sessão e a encaminhou à uma sala na qual não havia ninguém ainda. A guia fora retirada da coleira e colocada em um gancho na parede. 
- Aguarde. - disse a mulher saindo da sala.
A espera durou não mais que cinco minutos e foram entrando na sala um pequeno número dos dominadores e submissos presentes no grande salão. Eram doze, seis homens e seis mulheres, muita das quais ela conhecia pessoalmente e sabiam ser dominadoras firmes e submissas absolutamente dedicadas e obedientes.
O Dono da supliciada pegou a guia, colocou na coleira e atou-a em um poste às suas costas. Com isso, estava absolutamente privada de movimentos e, com certeza, não poderia reagir a qualquer coisa mesmo que essa não fosse sua intenção.
- Caros Senhores e Senhoras, meus estimados submissos e submissas. Agradeço a cada um a presença. Todos sabem o quanto prezo e o quanto é necessário prezar pela obediência e hoje sinto-me, exatamente por isso, autorizado a compartilhar um ato de desobediência que merece o respectivo castigo. Peço aos Senhores e Senhoras que permitam que seus submissos e submissas também participem desse ato de justiçamento. 
Todos concordaram, sem qualquer hesitação.
Ela sentia-se totalmente apavorada, consciente dos enganos que cometera e de que a punição era amplamente não apenas permissível mas totalmente justificável, era legítima. Sentia a sua culpa brotar por cada poro, cada segmento de seu corpo.
- Qual é a base do erro de sua submissa, caro Senhor? - pergunta-lhe uma bela submissa do lado oposto da sala.
- Lascívia, desejo de mostrar mais sensualidade do que do que estava autorizada a fazer. Considera que seu corpo seja demasiado belo para não ser exibido, sua mente muito pervertida para permitir um pouco de decoro.
- Com sua permissão, Senhor, devo dizer que o corpo de sua submissa realmente é belo.
Ele riu. A submissa que estava sentada pediu licença à sua Senhora e encaminhou-se até a escrava amarrada.  Tomou o rosto dela em suas mãos, começou a percorrer o corpo com suas pequenas mãos. 
Agora sim - pensou a suplicidada - começa minha punição. Nada mais sou do que uma transgressora, menos, sou apenas um brinquedo nas mãos de alguém que não conhecia. Poderia bem pensar naquele gesto , naquele toque, como algo que desejava imensamente e que ainda não lhe fora permitido pelo seu Dono mas agora sentia que não poderia suportar a humilhação que apenas começava.
As mãos da submissa agora deslizava por seus seios, pelo seu ventre, pelas suas coxas sem atingirem seus genitais e de repente, com uma ordem de seu Dono, a mesma mão que a acariciava explodiu em seu rosto em um tapa firme e intenso. Se pudesse baixá-lo naquele exato momento, o teria feito mas só pode abaixar os olhos por pouquíssimo tempo.
Cada um naquele grupo manifestou sua opinião, a sua atitude sobre aquele engano e a fizeram arrepender-se brutalmente de seu erro. Palavras foram escritas em seu corpo que transformou-se em um mural de afirmação do seu erro, castigos físicos torturaram sua carne mas nada poderia comparar-se à dor moral que experimentava.
O que doía mais era a questão de que poderia ser evitado. Fosse um erro que acontecera por algum pequeno imprevisto , poderia haver punição, por certo mas não aquela. Não havia as palavras escritas em tinta no seu corpo, não haveria o chicoteamento, não haveria o desejo cru de homens e mulheres, haveria só o Dono a querê-la e a possuí-la. 
Concluiu que o que se demandava era uma medida não apenas de preservação de si mas de dedicação exclusiva que, às vezes, não conseguia compreender. Agora abriam seus olhos para o fato que lealdade, de fato, era devoção, dedicação específica àquele que tomara sua alma e seu corpo. Portanto, o que era para si uma imposição, na verdade exercício da vontade mais importante que havia.
Ao fim de todos os atos de humilhação, seu Dono aproximou-se e perguntou sobre o que tinha a dizer:
- Meu Senhor, o que eu tenho a dizer é que tenho profunda vergonha do que fiz, do meu erro. Dedicarei e mostrarei apenas esse corpo ao seu comando, quando quiser. Agradeço a todos os Tops e todas as bottoms pelo aprendizado que me deram.
Sem nada falar mas com uma face mais serena aplicou-lhe o último castigo, a "clamp" que torturou o bico de seus seios como nunca antes e que demorou a ser retirada. Sentia seus seios doendo e a consciência igualmente.
Agora, finda a sessão, fora retirada de seu "cativeiro" , limpa pelas auxiliares da proprietária do local e vestida como antes. Sentia-se ensinada e aliviada. Naquela noite, foi aceita novamente como submissa e sabia que os erros não são perdoados mas deveriam ter sua paga como justiça.
Tivera a sua.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Caixa de Pandora - Parte 1

Capítulo 1 - Lascívia - A culpa


Vênus de Ticiano
Seios fartos presos sob um decote que não deixava antevê-los plenamente e o restante conservado secretamente sobre panos, fechos e disfarces para a sua sensualidade natural. Conhecia bem a armadilha que era expor-se demais: de um lado, a óbvia questão do conceito social que, em sua posição profissional,   consistia um perigo fundamental e bem conhecido. De outro lado, sabia muito bem que a essência da sensualidade era o segredo, o ocultar , o não revelar totalmente.
Havia uma segunda razão não declarada: ordens de alguém que chamava de Mestre e Senhor, o seu Dono, a dimensão não revelada de sua vida. Bem sabia que O deveria obedecer e jamais desafiar já que, segundo Ele mesmo, não havia punição mas apenas o justiçamento e  a correção dos desviantes.
Raramente apresentava-se pessoalmente mas sua presença sempre fazia-se sentir e sabia disso apesar de que por algumas vezes se esquecesse desse fato aparentemente simples e ousasse desafiar suas regras.
Assim foi quando quebrando a regra fundamental vestiu-se exageradamente sensual, fora dos padrões rigorosos de recato que haviam sido prescritos e uma roupa exageradamente colada ao corpo revelava aos olhos desejosos dos passantes suas formas esculturais.
Sentiu, como acontece quando a consciência da culpa invade, olhos rigorosos sobre ela e, mesmo à distância desejou que não fossem os de seu Dono, quis voltar agora para mudar de roupas mas coincidentemente não teve tempo e nem condições de fazê-lo: o celular tocou e um frio atravessou-lhe a espinha ao ver o nome no identificador de chamadas informando-lhe ser o Dono que ligava.
- Venha agora para cá!  - disse sem cumprimentá-la e sem dar oportunidade para qualquer reação. 
"A consciência de seu erro te acompanhará" - assim afirmava o ditado que conhecera a tanto tempo atrás e de fato, nesse exato momento, era um fato concreto e indiscutível. Pensou em pedir-lhe para trocar de roupas mas isso tornaria evidente que algo estava errado e , ao mesmo tempo, assim já encontrava-se.
- Sim, Senhor, imediatamente.
Naquele momento de fazer com que o tempo não pasasse, sucedia exatamente o contrário: o táxi apareceu rápido, o trânsito estava bom, a chegada foi rápida, a consciência estava a sentir o peso do erro, as roupas incomodavam, cada vez mais os detalhes excessivamente sensuais apareciam e a consciência, em uma verdadeira voragem a dominava completamente.
O carro parou frente à casa onde Ele morava e ela pagou ao motorista e estava na rua, sentindo a roupa a salientar-lhe as formas como se a sua capacidade de provocar o desejo fosse um pecado inconciliável com sua condição de submissa, fêmea e mulher.
Tocou a campanhia: sua mão tremia ao pressionar o botão, suas pernas ensaiavam rebelar-se contra o controle e essa sensação de desconforto que se ampliou quando Ele abriu o portão eletrônico. Subiu as escadas e logo encontrou-se frente á Ele.
Ajoelhou-se no lugar de costume mas foi mandada ficar em pé. Sim, ele notara o excesso, a exposição fora do padrão, os seios fartos exposto mais do que deviam, as coxas também excessivamente mostradas , os cabelos longos e negros soltos e bem cuidados, unhas em vermelho escuro, vinho.
- Vejo que hoje caiu na tentação de parecer sensual aos outros . - comentou desdenhoso.
Ela pensava , sem cessar que mesmo havendo um erro para centenas de acertos, era esse que lhe seria cobrado. Sentia toda a carga que aquilo representava e arrependera-se de coração mas não ousava pronunciar sua contrição. 
Pegou um livro em sua vasta estante, um dicionário,  procurou á página e mandou-a ler em voz alta para que Ele também ouvisse.


  Lascívia

Datação
1612 cf. VascAM

Acepções
 substantivo feminino
1    qualidade ou caráter de lascivo (pessoa ou animal)
Ex.: a propalada l. dos felinos 
2    propensão para a luxúria, sensualidade exagerada; lubricidade
Ex.: a l. da corte francesa 
3    caráter do que está marcado pela sensualidade ou do que produz a propensão para a sensualidade; impudicícia
Ex.: a l. dos seus passos, dos seus gestos, de cada tecido que punha sobre a pele

Etimologia
lat. lascivìa,ae 'ação de pular, de brincar pulando (com respeito aos animais), divertimento (das pessoas), bom humor, galhofa', p.ext. 'intemperança, desregramento, devassidão, impudicícia'; f.hist. 1612 lascivia, 1716 lascîvia

Sinônimos
ver sinonímia de lubricidade

Aquela leitura a atemorizou definitivamente: compreendia de uma vez por todas que fora, além de desaprovada em sua atitude, sentenciada a cumprir a paga considerada adequada por seu deslize.
- Lúxúria, sensualidade exagerada, impudícia, propensão á sensualidade, intemperança, desregramento, devassidão... Tudo isso aplica-se à você? - perguntou em voz leve porém acusadora.
- Senhor... Eu...
- Aplica-se ou não aplica-se?
Baixou a cabeça: aquela interrupção já era o início de sua punição já que ao contrário do que habitualmente acontecia, as carícias foram interrompidas em nome da severidade e da coerção.
- Sim, meu Senhor, aplica-se.
Pegando-a pelo queixo, nivelou os olhos dela os dele e ela queria desviar o olhar mas não conseguia e , ao mesmo tempo, não desejava já que isso poderia causar-lhe mais dissabores dos que já experimentava.
O dia transcorreu sem alguma novidade e nada fora mencionado sobre o ocorrido mesmo ela sabendo que não ficaria sem consequência. Como sempre, fora a responsável pelo cuidado com seu Senhor, com sua alimentação, corpo, vestimentas e mesmo quando tudo era de Seu agrado, parecia-lhe torturante a visão da reprovação implícita.
Por um momento desejou que a noite não caísse mas o transcurso do tempo é algo que o humano impôs à natureza e era o que delimitava inexoravelmente o fim do dia e o começo da noite.


- Banhe-se!
- Sim, meu Senhor.


Desnudar-se, como nunca antes, foi um ato que a enchia de uma intolerável tristeza. Sabia que seu corpo era admirável mas sentia-se aterrorizada pelo fato de ter sido desobediente às ordens Dele. Sentiu vontade de negar a sua sensualidade mas seria exatamente dela que precisaria para super uma prova além do tolerável e que estava prestes a ser-lhe imposta.
Secou-se e submeteu-se ao escrutínio de seu Dono e foi examinada rigorosamente, os perfumes escolhidos, o cabelo com seu penteado determinado e o conselho, desnecessário, para que tudo ficasse perfeitamente ao Seu agrado.
Apenas ficou à ser determinado o que vestiria e só aquele fato indicava que as coisas não seriam da forma que sempre foram, um corset negro delicadamente manufaturado à mão, botas e jóias que a faziam-se sentir uma humilde servidora.
O cabelo fora cuidadosamente seco e penteado e adotou um volume não usual mas não menos belo. Sentiu que a pele que logo receberia seu adorno acrescentaria uma nova visão de beleza que era permitida sem a dimensão que ela viria a  ser a sua pena.
(Final do Capítulo 1)