Pesquisar este blog / Search in our blog

domingo, 31 de janeiro de 2010

Características de um Dominante bem sucedido (Raven Shadowborne)

Gastei muito tempo discutindo com outros no meio o que faz um bom Dominante, o que distingue um Dominante verdadeiro de um jogador ou principiante. Li muito do material que me chega às mãos. Através dessas dicussões e pesquisas, consegui compilar a lista seguinte de características. Listei as que foram repetidamente ditas para mim, muitas das quais aparecem em todas as conversas sobre o assunto. Estive envolvida na maior parte dos escritos que li. Meu agradecimento de coração aos maravilhosos insights de Mistresslec, EZRiser e Magistar em particular. As palavras deles, insights e honestidade ajudaram-me a criar a lista tão concisa quanto pude.

ACEITAÇÃO

Aceitação de Si, do que há dentro de Si, do que são Suas buscas e Seus desejos. Aceitação de Suas limitações e do seu submisso. A habilidade de aceitar outros seres humanos e a pessoa que são, incluindo as limitações, e aceitando, especialmente, as Suas próprias. Aceitar o que a Dominação significa para o indivíduo e não sentir-Se envergonhado ou intimidado pelas próprias necessidades, mas sentir-Se feliz no padrão mental de Dominante.

COMUNICAÇÃO

É a habilidade de falar e discutir assuntos. É uma parte integrante de qualquer relacionamento, mas uma necessidade absoluta em uma relação D/s. Um Dominante deve ter habilidade em comunicar Suas necessidade, demandas, desejos, medos, pensamentos, limites ou o que quer que seja que venha junto. A habilidade para falar também tem relação com a hontestidade e confiabilidade do Dominante.

Uma vez que a comunicação é aberta, o Dominante deve mantê-La, ininterruptamente, de forma honesta. Não fazer isso significa ameaçar-Se fisicamente (por não dizer ao submisso Sua experiência e outras necessidades) e emocionalmente.

COMPAIXÃO

A habilidade de ver e, ao menos, tentar entender os aspectos emocionais da psique de Seu submisso. Entender e estar atento à multitude de coisas da realidade que podem afetar o submisso psiquica, emocional e mentalmente. Ser capaz de aplicar esse entendimento para muitas situações que aparecem na vida diária e possam impedir que Seu submisso o sirva com todo seu potencial. Usar a compaixão de modo sábio permite que ajude Seu submisso. Apoiá-lo durante os momentos de estresse mostra que você é verdadeiramente um Dominante formado, Aquele que percebe que tanto o Dominante quanto o submisso são, também, pessoas. Sem compaixão Você não é um Dominante, apenas um sádico.

CORTESIA

Esta característica é um tanto auto-explicativa, mas algumas pessoas me pediram para ser específica no aspecto cortesia. É a habilidade de usar as maneiras apropriadas, como o "por favor" e o "obrigado", e dirigir-se a alguém com um tom de voz respeitoso. Um Dominante deve mostrar cortesia com Seu/Sua submisso/a e outros submissos ao seu redor. Apenas por ser um Dominante não Lhe dá o direito de ser rude ou cruel. Isso inclui a cortesia com Seus pares.

ELEGÂNCIA

Elegância na maneira de um Dominante ao apresentar-Se é um elemento da personalidade importante e desejável que qualquer submisso diz preferir. O jeito do Dominante portar-Se, Seu estilo de “play”, não importa o quão “gráfico” possa parecer, deve fluir com estilo e elegância. Suas ações não devem ser hesitantes, lentas ou confusa. Se isso é falta de habilidade, o Dominante deve aprender e crescer em sua área.

DOMINÂNCIA

Essa é a característica mais importante em um Dominante, sua habilidade inerente e natural de liderar e exercer seu poder de uma maneira respeitosa, inteligente e humilde; a força de caráter que permite o exercício do controle necessário em um relacionamento de troca de poder; a habilidade de cuidar do outro como um ser completo.

HONESTIDADE

Pessoalmente, sinto que isso não deveria necessitar ser dito, mas há muitas pessoas cuja falta de honestidade faz com que isso tenha de ser dito. Honestidade é a habilidade de falar, de ser aberto e confiável no que você diz. Não esconda Suas emoções, medos, limites, fantasias, idéias e pensamentos. Não fale ao submisso o que ele/ela quer ouvir. Honestidade é a base para que se acredite, sem o que não há nenhuma credibilidade e, sem isso, não há nenhum relacionamento. Um Dominante bem sucedido é o honesto, que não mente e não tenta enganar, cuja fala é confiável. A coisa mais importante é ser honesto sobre Seu nível de experiência. Nesse aspecto, mentir é colocar em risco a vida de um submisso.

HUMILDADE

É basicamente a habilidade em ver-Se falível como uma pessoa, não apenas como um Dominador. Ver que algumas vezes, na realidade, Suas necessidades devem ser colocadas de lado a favor do relacionamento (possibilidade de desfazer um mal-entendido, colocar limites ou coisas dessa natureza). Um Dominador bem sucedido sabe que cometerá erros, que não é perfeito. Certamente tem orgulho de Suas habilidades mas também deve saber que todos crescem constantemente e que não precisam ser o centro das atenções o tempo todo. Isso permite ao Dominante ser aberto ao aprendizado de coisas novas e não ter uma atitude soberba.

Isso coloca em questão o “bullying”. “Bullying” é usar Seu status de Dominante para submeter sem qualquer preocupação com o bem-estar do bottom. “Bullying” é uma ação completamente egoísta. Um Dominante que constantemente comete “bullying” afastará os submissos de Si e perderá o respeito de Seus pares. Isso mostra uma falta de humildade e que pode mascarar, inclusive, uma baixa auto-estima ou um abusador usando o meio para esconder sua natureza.

INTELIGÊNCIA

Com o termo “inteligência” não me refiro a um conhecimento “enciclopédico” , a fazer equações matemáticas longuíssimas ou a montar e desmontar um computador. Aplicada a um Dominador bem sucedido, inteligência é a habilidade de aprender o próprio jeito de usar os “brinquedos” inerentes ao meio antes de usá-los em uma pessoa, a vontade e habilidade em pesquisar e aprender sobre o meio, de tomar decisões baseadas em informações sobre quais são Suas necessidade e como se ater à elas enquanto a “dominação” acontece. A habilidade de dedicar tempo de conhecer Seu parceiro fora dos papéis de Dominante e submisso, vê-la (o) como a pessoa que é, o que gosta e não gosta. A habilidade de aprender o que agrada Seu submisso e lembrar dessas coisas. O dominante não deve gastar seu tempo e inteligência para conhecer apenas ferramentas de dominação físicas mas também deve considerar as mentais, aliadas a alguns aspectos psicológicos básicos de Seus submissos . O conhecimento deve crescer assim como as pessoas mudam: constantemente. Não há nada mais medonho do que ver um Dominador ignorante tentando usar a humilhação como uma ferramenta de domínio. Humilhação é uma ferramenta difícil que requer maturidade, inteligência e habilidade.

LEALDADE

Essa é a característica mais importante em um Dominante. É a habilidade de manter Sua honra e manter-Se verdadeiro nos acordos com Seu submisso, como na questão da monogamia, por exemplo, ou qualquer outra. Deslealdade é muito pouco atraente para um Dominante e perigoso para o bem estar emocional dos submissos que O servem.

PACIÊNCIA

Um bom Dominante tem paciência, a habilidade de esperar pelas coisas. Ser apressado é pressionar, não dominar. Isso não significa que Você deva ser “leve e solto” mas aprender que há um tempo apropriado para exigir e o tempo inapropriado para tal. É também a habilidade de esperar por aquelas coisas que levam tempo para se desenvolverem e para aprender, especialmente com Você mesmo. Sabendo que leva tempo para um submisso aprender todo os “meandros” de servi-Lo, Você deverá ter paciência para ensinar ao submisso as Suas preferências.

ORGULHO

Essa é a habilidade de conhecer as Suas capacidades e perceber que Você não é apenas uma boa pessoa, mas um bom Dominante, reconhecendo Suas próprias fortalezas. Isso não significa que você deva fechar Sua mente para novas idéias, nem que deve descuidar-Se de Seus erros e ter um ego inflado. Orgulho de Sua dominação é uma bela coisa, arrogância e falso orgulho são mortais. O falso orgulho normalmente mascara inseguranças que podem ser ameaçadoras à vida de um submisso.

RESPEITO

Um Dominate bem sucedido deve mostrar respeito o tempo todo, inclusive no momento em que o submisso prova que ele/ela é indigno de tal respeito. Um Dominante desrespeitoso não ganha o respeito de Seus pares ou dos submissos à Sua volta. Respeitando os outros, conseguirá respeito para Si.

RESPONSABILIDADE

Um bom Dominante deve ter senso de responsabilidade e estar atento àqueles que controla na cena. Ele deve assumir essa responsabilidade seriamente e agir de forma que manterá a Si e o submisso tão seguros quanto possível. Um bom Dominante deve assumir a responsabilidade de Seus atos, mesmo admitindo que errou e não transferindo a culpa para alguém. Um bom Dominante deve usar Seu senso de responsabilidade para aprender antes de agir.

AUTO-CONTROLE

Um bom Dominante deve estar no controle de Si antes de controlar o outro , para que possa fazê-lo de modo seguro. Um bom Dominante não é aquele que tem um comportamento descontrolado, furioso e outras ações que mostram sua falta de auto-controle. Um Dominante deve ser capaz de manter Suas necessidades físicas em ordem para que a cena seja segura ao Seu submisso. Um bom Dominante deve também ter auto-controle para mostrar Suas “armas” quando confrontado com um sub iniciante, ou algo que seja novo e Ele saiba ser perigoso, ou do qual não tenha experiência.

AUTO-RESPEITO

Um bom Dominante Se valoriza e respeita Seus limites. Um sólido senso de valor próprio é necessário para um Dominador pois, sem este senso, pode causar sérios prejuízos para a psique do Seu submisso. Isso não significa agir como se Você fosse um presente do universo para a dominação.

SENSO DE SERVIR

É aplicável aos Dominantes, mas não do mesmo modo que aos submisso. Um Dominante serve Seu submisso através de Sua Dominação, por aplicar inteligentemente Sua natureza Dominante. Ao ir ao encontro das necessidades físicas e emocionais do submisso, o Dominante mutuamente serve o submisso. Um Dominante bem sucedido lembra-Se que, sem o submisso, não há nada a dominar e que receber a submissão de uma pessoa é um presente. O Dominante, por essa razão, cuidará desse presente e fará o Seu melhor para mantê-lo e não abusar dele. Essa é a chave de um relacionamento de troca de poder.

Essas são as características que tenho ouvido repetidamente para um Dominante bem sucedido. Muitos Deles adicionarão outras, que podem ser aplicadas em todos os relacionamentos - não apenas os D/s. Ouço-as também de muitos submissos, que as mencionam quando estão procurando um Dominante.

Nem todos trazem essas características dentro de Si e algumas podem ser aprendidas ,mas elas estão refletidas nos verdadeiros Dominantes. Essa lista pretende ser apenas uma ajuda e não um código estrito que estará regulando o que faz um Dominante.

NOTA DO TRADUTOR: Aqui o termo “submisso” é usado para designar tanto homens como mulheres.

(Tradução: Janus SW - Revisão: astharoth de Janus)

Devolução de coleira: a dimensão inexplorada (Janus SW)


















Para os quarentões, como eu, chamaria este artigo aos moldes do Jornada nas Estrelas: “Devolução de coleira, a fronteira final”; para os mais novos, que não tiveram a chance de assistir às aventuras de Kirk, Spock e demais e aproveitando o ambiente de ação cidadã, eu diria que esse artigo chamaria “submisso, saiba seus direitos”.

Falando sério, na vivência que tenho do BDSM, sempre é exaltado os direitos e prerrogativas do Dominante: porque o Dominante pode decidir tudo em relação ao submisso, porque ao Dominante cabe escolher o lugar onde a sessão ocorrerá, porque ao Dominante cabe a escolha das práticas e por aí vai. Ninguém nega a precedência do Dominador ou Domme sobre a vida e relação do submisso, o que seria uma imensa bobagem.

No entanto, convém refletir: se assumimos a relação SM como tal, ou seja, um processo de interação dado em bases estabelecidas de antemão, provindas de uma negociação (que esperamos seja bem feita), espera-se que as bases que foram assentadas sejam mantidas e que haja algum nível de satisfação mútua e respeito ao indivíduo, tanto ao Dominante quanto ao submisso. Sou um daqueles que não hesitaria em exercitar minhas prerrogativas de Dominante: jamais admitiria que minha submissa adotasse qualquer postura inconveniente, cometesse deslizes de conduta, enfim, não fosse digna de minha coleira.

E a contraparte? O quanto o submisso deve suportar de inconveniências? Ressalte-se que eu não admito, e falo em causa própria, que a relação estabelecida careça tanto de interação entre as partes ao ponto de que não haja uma observação e que não se tenha conhecimento das necessidades, limites e, porque não dizer, inclusive vontades dos que compartilham conosco essa estrada. Assim sendo, não me parece complicado que haja uma “acomodação” entre a extensão do poder do Dominante e o que na verdade o submisso tem como seus princípios porque, afinal, o ser humano que serve deve ser respeitado e exaltado em sua sublime entrega.

E quando isso não acontece? Como dissemos, ao Dominante cabe tomar a coleira do submisso que não O serve condignamente. Da mesma forma, o submisso não deve apassivar-se tanto a ponto de violentar-se em nome do serviço ao Dominante, à medida que a entrega é algo de livre exercício da vontade, uma opção sublime e consciente, um desvelo que avoluma-se a partir da clara consciência de que não há outra alternativa senão colocar-se fisica e espiritualmente de joelhos frente ao Senhor ou Senhora.

Os eventuais abusos por parte do Dominante - e não estou dizendo o rigor e intensidade de práticas já que isso faz parte do jogo - e que torne a convivência insustentável, deixará ao submisso a única possibilidade de devolver a coleira, já que não a conseguirá honrar e a cujo Dono ou Dona não conseguirá servir com a qualidade que o dignifica como submisso. A entrega de coleira é, portanto, um gesto de dignidade e que não precisa ocorrer apenas nos casos que expusemos. Em qualquer percepção na qual não haja clareza que o servir seja feito em bases ótimas e esperadas pelo Dominante, declarar-se incapaz de cumprir o que se quer é um gesto que dignifica o submisso já que honra tanto a coleira que serve com o nome que tem.

Ressalte-se também que caminhar nas bases da honestidade, clareza e respeito sempre fazem desse momento algo que, por mais doloroso que seja, constitua-se como o final de uma relação que, indubitavelmente, ensejará boas lembranças e a certeza de que, até onde foi possível, foi uma relação que apenas trouxe frutos, ensinamentos e lições para as próximas relações, aperfeiçoando o servir tanto quanto o Domínio e nos fará crescer como seres humanos dentro desse imenso mundo que é o BDSM.


O sadomasoquismo na obra de Guido Crepax (Janus SW)

Valentina em cena de contexto BDSM. Ora como submissa, ora como  Domme


Já foi dito que “um furacão varreu a Europa” no final da década de 60 e disso não se pode discordar de forma alguma: em 1969, Paris estava de pernas para o ar por conta da revolta estudantil; no Vietnã, a ofensiva do Tet corria solta pondo mais uma pedra no túmulo da intervenção americana e mesmo na “pátria mãe” (deles) as manifestações anti-guerra e anti-racismo, algumas promovidas pelo Rev. Martin Luther King, pregavam uma revolução nas relações entre negros e brancos, propondo a integração racial, algo que, como tristemente se provou, não era sequer uma possibilidade muito bem aceita, vide o assassinato do reverendo por James Earl e, para variar, o Brasil estava imerso no “golpe dentro do golpe”, ou seja, o AI-5, publicado na malfadada sexta feira, 13 de dezembro de 1968.

É claro que essa agitação não poderia passar sem provocar um repensar nas relações de gênero e na própria elaboração que cada indivíduo ou grupo fazia sobre o papel que teria de cumprir e sob qual estatuto esse papel estava assentado. O feminismo que hoje nos parece absurdamente risível era, na verdade, a legítima manifestação de descontentamento das mulheres com os papéis tradicionais que lhes eram impostos, principalmente agora que avanços da tecnologia havia colocado a procriação como algo a se programar , viabilizando uma liberdade de práticas sexuais inédita.

Também os famosos relatórios sobre a sexualidade começavam a ser publicados, permitindo uma discussão e um entendimento sobre as fantasias, expectativas, desejos e vontades de homens e mulheres, sem nos esquecermos da afirmação de grupos homossexuais que reinvindicavam, justamente, respeito à sua opção sexual sem terem de ser alvo de repressão policial. Foi nesse final de década que aconteceu a famosa rebilião de Stonewall que foi o marco para que se começasse a lutar pelos direitos de todos , independente de sua opção sexual.

Óbvio que a arte não poderia ficar alheia a todo esse turbilhão e quanto mais a história em quadrinhos. Nessa época havia em toda Europa, mais notadamente na Itália e na França, um movimento que poderíamos inclusive chamar de “alternativo” que se propunha a fazer uma história em quadrinhos que refletisse e repensasse o universo da sexualidade como um todo, SM incluído, é claro.

Diga-se, de passagem, que talvez seja injusto apenas resaltar o SM, já que as fantasias D/s estavam explícitas na pena de soberbos desenhistas como Manara e , o meu favorito, Guido Crepax.

Nascido em 1933 em Milão e morto na mesma cidadade em 2003, criou em 1965 uma personagem baseada em Louise Brooks, atriz do cinema mudo que aparece como coadjuvante nas histórias de Neutron, chamada Valentina, ou melhor, Valentina Rosseli.

Valentina é uma fotografa que vive as aventuras mais intensas que têm grandes reflexos na questão sexual que é mencionada mas não explícita, no sentido de ser gratuita e sem nexo. Elas compõe o universo imaginativo e dos devaneios da personagem e algumas práticas BDSM são ilustradas com grande qualidade, digna desse grande talento.

Vale a pena visitar as obras de Valentina que são compostas de vários livros, filmes e mesmo uma série de TV que não foi lançada no Brasil ao menos pelo que tenho notícias. Alguns livros de Valentina foram publicados mas o mais interessante é o “Desnudando Valentina” que percorre e analisa toda a obra de Crepax e a trejetória de Valentina.

Mas Valentina não foi a única personagem com temática BDSM que está no mundo do genial italiano. O famoso livro de Pauline Reage, História de “O” teve uma versão em quadrinhos que sobre transpor com grande maestria o universo do livro. Uma edição razoavelmente rara mas que merece ser buscada nos melhores sebos e lojas do ramo.

Fica aqui uma dica a todos que gostam de quadrinhos e de quadrinhos e de um momento particular da história da cultura da humanidade que trouxe a sexualidade (BDSM incluído) para o centro dos holofotes. Boa leitura.

Para saber mais:

Marco Antonio Luccheti – Desnudando Valentina – Ed. Ophera Gráfica.

Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Guido_Crepax

domingo, 24 de janeiro de 2010

Humilhação Erótica (Tradução Janus SW)

Humilhação erótica é o uso consensual de humilação psicológica em um contexto sexual, onde uma pessoa se excita ou tira excitação erótica da mistura de fortes emoções em ser humilhado e diminuido ou em humilhar os outros. A humilhação não necessita ser sexual em si, como muitas das outras atividade sexuais, seus sentimentos são derivados de quais são tiradas, independentemente da natureza da atividade real.
A humilhação pode ser verbal ou física e pode ser pública ou privada. Normalmente pode ser ritualizada e ao contrário de algumas variações sexuais, ela pode ser facilmente feita à distância ou “on line”. A distinção entre humilhação e dominação, em uma atividade como o spanking é que o resultado primordial é a humilhação, sendo a atividade apenas um meio para justificar os fins.

Apesar da humilhação fraca ou moderada não ser uma parte incomum do BDSM e de outras cenas de cunho sexual, ela pode ser levaa à um ponto onde passa a ser considerada uma prática extrema por muitas pessoas, devida a sua natureza extrema e a controvérsia acerca do seu impacto psicológico. Esse é uma questão subjetiva e depende fortemente do contexto.

TERMINOLOGIA E VISÃO GERAL

Uma pessoa a ser humilhada é geralmente chamada de “bottom” e a pessoa que humilha é geralmente chamado de Dominante (apesar desses termos padrão, usados nas relações D/s não são específicos à humilhação) e se mulher é chamada , algumas vezes de humiliatrix. Outros nomes comuns são escravo ou sub/sumbisso para o bottom e Mestre/Mistress ou Dom/Domme para os “top”.

Humilhação não é o mesmo de Dominação uma vez que o submisso não necessariamente procura receber ordens. A humilhação provém de sua própria força sexual quando o submisso procura a himilhação com e de qualquer meio, por exemplo, quando o spanking é primariamente valorizado pela humilhação envolvida. Como tal, ela abrange um grande especto da parafilia, em particular o fetiche por pés, sapatos, spanking, bondadge e a maioria dos estilos de BDSM. Ela pode ser tão básica como o desejo de beijar e massagear os pés como antecedente ao sexo, ou ser complexa, envolvendo o desepenho de papéis ou a demonstração pública de subserviência. Ela também pode acontecer em um período de tempo (uma “cena”) ou ser uma face do relacionamento. A “humilhação” não é intrínsica ao ato ou ao objeto, ao contrário, é simeoticamente carregado pela atitude compartilhada dos parceiros envolvidos no ato. São eles que investem atos específicos, objetos ou partes do corpo com seu aspecto de humilhação.

MÉTODOS DE HUMILHAÇÃO

A humilhação sexual é muito aberta. Ela pode ser, genericamente, em aspectos verbais e físicos. Os aspectos verbais podem incluir:

  • Diminuição verbal, tais como “escravo” , “rapaz”, “garota”, “bicho”.
  • Insultos e abusos verbais tais como “gordo”, “feio”, “estúpido”, “inútil”.
  • Referências degradantes como “puta”, “sem vergonha”, “viado” e “biscate”.
  • Desmerecendo partes do corpo ou comportamentos tais como referências cruéis ou diminutiva aos seios, aparência facial, genitália ou tamanho dos genitais, traseiro e ironizar de alguns maneirismos como caminha, respostas ou padrões de cuidados pessoais.
  • Ter de pedir permissão para atividades do dia-a-dia como ir ao banheiro, comer ou gastar dinheiro.
  • Humilhação devido a seios pequenos onde a humilhação é dirigida a suposta inadequação aos padrões de seios femininos adultos ou sua inabilidade em agradar um homem (ou, por conseqüência, a intulidade dos seios da mulher em ser objeto de uma sessão).
  • Humilhação devido a pênis pequeno onde a humilhação é dirigida a supsota indadequação com os genitais adultos do home e sua inabilidade de satisfazer uma mulher (e por conseqüência , a inutilidade de ser objeto de uma sessão).
  • Repetição forçada, como ser obrigado a repetir os comandos dados para confirmá-los.
  • Gentileza forçada, como , por exemplo, concordar que toda decisão do Dominante é sábia, correta e justificada, enquanto eleogia as características físicas e de personalidade dele.
  • Ironizar e ridicularizar.

Os aspectos físicos e tangíveis podem incluir:

  • Ejacular, defecar, cuspir, bater ou ourinar sobre o corpo do submisso ou, especialmente, no rosto.
  • Fazer tarefas menores ou ter uma carga de trabalho abusica como, por exemplo, limpar o chão com escovas de dente.
  • Desempenhof requente de serviços sexuais passivos/ativos para o Dominante como massagem erótica, cunnilingus, analingus ou felação sem expectativas de atos recíprocos ou ato sexual.
  • Acompanhamento detalhado e contro de como gasta o tempo ou atividades feitas, incluindo lista de trabalhos para fazer, orientações precisas de como fazer o trabalho de casa e exatamente como agir e comportar-se.
  • Rituais específicos e intervenções a serem adotadas. Isso inclui mostras de subserviência como acender cigarros, andar um passo atrás do dominante, apenas falar quando permitido, ajoelhar-se ou prostrar-se na frente do Dominante enquanto espera ordens, comendo apenas após os outros ou no chão, um lugar mais baixo para dormir e uma variedade grande de atividades de adoração corporal como beijando ou chupando os pés dos Dominantes, botas, traseiro, ânus, vulva etc. para experessar agradecimento, subserviência, vergonha, ou mesmo emoções positivas como alegria ou excitação.
  • Suprimir a liberdade de movimentos. Isso pode incluir não poder deixar a sala enquanto o Dominante estiver presente sem sua permissão, e que pode ser proibido de deixar a casa ou masmorra, em geral para demonstrar a escravidão ou servidão.
  • Punições detalhadas para uma variedade de “infrações” ou má conduta como ter que permanecer em um canto olhando para a parede por algumas horas, açoitamento ou chicoteamento, comida racionada ou exercício forçado.
  • Personificação de papéis de stauts inferior como animais (cavalos ou cães por exemplo) ou bebês.
  • Spanking, chicoteamento, retenção ou qualquer atividades BDSM como tortura de pênis e escroto (cock and ball torture – CBT).
  • Proibições ou restrições de vestimenta, mesmo em público. Para mulheres, um exemplo comum é de serem comandadas a vestir apenas um biquini revelador ou lingerie. Para homens, isso poderá incluir feminização ou cross dressing. Para ambos sexos pode se esperar a ir completamente nus, com objetos decorativos como colares, tiaras, bandanas , sendo a algema a única exceção.
  • Uso de cintos de castidade ou outras formas de negação erótico-sexual.
  • Uso de símbolos externos de “propriedade” tais como a coleira.
  • Ter amigos, familiares ou estranhos cientes ou presenciando o tratamento do sbumisso (exemplo: humilhação pública).
  • Tratamento erótico de objeto, onde o submisso é colocado no papel de um objeto como um escabelo.
  • Embaraços.
  • Ter de pedir permissão para orgasmo durante sexo ou masturbação.
  • Forçar a portar uma gag e/outros restritores no corpo.

Algumas formas de humilhação sexual envolvem causar dor mas a maioria diz respeito ao ridículo, ao escárnio, à degradação e ao embraço.

O desempenho de papéis sexuais pode envolver ou não humilhação. Por exemplo, uma pessoa pode desempenhar o “papel” de cão porque gosta de ser diminuído – forçado a fzer isso e o Dominante dará ênface da pequenês do submisso, reduzindo seu “status” ao de um animal enquanto outras pessoas podem desempenhar o seu papel de animal sem qualquer tipo de humilhação mas sim da experessão do “animal interno” ou do espírito brincalhão que o submisso tem.

PSICOLOGIA DA HUMILHAÇÃO

Geralmente a humilhação toca fortemente os “botões emocionais”, e ainda mais quando torna-se sexualizada. Devido isso, o consentimento e , paradoxalmente, um grande grau de acompanhamento e comunicação se fazem necessários, para assegurar que o reultado seja o desejado ao invés de abusivo. Por exemplo, um submisso pode gostar de ser insultado de algumas maneiras mas ser genuinamente ofendido e devastado se humilhado de outra forma.

O fetichismo também tem conexão com um fetichismo sexual, no qual as atividades não sexualizadas, tornam-se sexualizadas pela associação com a excitação e também podem ser associadas com o exibicionismo no sentido de querer que os outros testemunhem (e fique excitada por isso) com a degradação sexual dele.

Para algumas pessoas, atividades como chamar de um nome é outro caminho para a redução do ego ou superar inibições sexuais. Por exemplo, entre as pessoas gys, associados com a homofobia podem ser usados, como “viado”.

Como todas as atividades sexuais, agumas pessoas têm fantasias sexuais sobre humilhação e cdomo outros realmente a aotam como um estilo de via em uma sessão. As fantasias relacionadas à humilhação leve não são incomuns. Algumas atividades de humilhação (plays como animais ou de idade , em particular) é combinada com lealdade e dedicação de cuidados para estender esses fetiches que podem ser apenas exercícios de carinho ao contrário de, primiliminarmente, o fetiche de humilhação.

Considere que o desejo de estar inferiro ao outro parceiro durante o intercurso, a idéia de “ser pego” como quando tiver sexo no jardim ou na mata, ou fantasias de estrupo suaves (onde as pessoas imaginam serem forçadas de uma forma que gostariam e que deve parecer completamente diferente de qualquer forma de estupro), são jogos emocionais suaves que enfatizam as posições, vunerabilidade e controle. Todavia, para a maioria das pessoas, tais idéias mantêm-se uma fantasia das quais têm uma reserva muito forte de torná-las públicas ou arrumar um parceiro para torná-las rais, apesar do quão erótica a idéia possa ser.

Se uma pessoa revela para seu parceiro sobre seu fetiche, isso usualmente é resultado de uma grande confiança que compartilham, devido ao grande esforço psicológico que as pessoas devem dedicar para dizer ao outro. Muitas pessoas temem ser ridicularizadas pelo seu fetiche e tal ridículo para seu parceiro poderia ser psicologicamente catastrófico. Portanto, muitas pessoas utlizam humilhação on line (onde quem humilha e outros envolvidos usam a internet, chat, e-mail, websites, etc.) como um compromisso entre o exibicionismo e a relaidade de um lado e segurança e anonimato entre outros.

HUMILAÇÃO “ONLINE”

A humilhação “on line” é o desejo de ser visto em um contexto de embraço sexual na internet. Essa prática permite ao submisso procurar parceiros de fetiche em todo o mundo.

MÉTODOS COMUNS DE HUMILHAÇÃO ON LINE PODEM INCLUIR:

  • Pelourinhos públicos.
  • Tarefas em fotografia ou vídeo que conduza a embraços aos submissos.
  • Ordem para que os submissos mantenham diáiros on line detalhando informações pessoais taiscomo frequência de masturbação e detalhes sobre elas.
  • Abuso verbal.

Essas práticas podem ser conduzidas via chat, webcam, e-mail ou sites de contato BDSM.

(Fonte: http://en.wikipedia.org/wiki/Erotic_humiliation) – Tradução: Janus SW

sábado, 23 de janeiro de 2010

Cela de veludo: considerações sobre as relações D/s à partir de um poema de Adélia Prado (Parte 2)

NO BALANÇO DAS TRÍADES

O poema me suscitou emoções muito dadas por fatos que me aconteceram dentro e fora do “meio”. Todas essas coisas, esses fatos, me fizeram ver que o amor e a submissão, o enamoramento e o domínio, são todas facetas distintas do mesmo processo.

Parece-me que algumas pessoas têm resistência máxima em admitirem-se nesse processo de sedução, conquista, realimentação/revisão das expectativas, renovação e inclusive a separação e o distanciamento. Pergunto-me porque e encontro uma resposta que para mim , respeitadas as opiniões divergentes, bizarra: temem os dominadores (as) que a sua autoridade seja solapada por mostrarem-se interagentes no processo que uniu Dominador(a)/submisso(a).

O poema de Adélia, nesse sentido, mostra um antídoto à essa visão torta: é através do sentir-se acolhida, aceita, legitimada que procedeu-se à submissão, à entrega e à sacralização que tornou-se indispensável para atingir-se o estado que fez da personagem uma cultuadora, cuidadora e devota de seu amado.

Talvez falte-nos , ou ao menos para alguns, a visão de uma pessoa em presença, fisica, icônica ou real (segundo o sentimento de cada um) , de um santo. Jogado de joelhos, não pede, implora pelo seu favor. Já presenciei em Igreja de minha cidade, uma mulher que atirou-se ao chão para humilhar-se e pedir uma cura.

A quem mais poderia se tributar tanta reverência e poder senão ao ser que poderia retirar-lhe de sua angústia e de devolver-lhe aquilo que perdera, no caso, a saúde?

A quem mais um(a) submisso(a) consciente de que sua felicidade está diretamente ligada ao ser aceita e legitimada em sua forma de sentir prazer, tributaria fidelidade, desvelo e serviço? Com certeza àquele(a) em quem reconhecesse tal capacidade e tal poder. Portanto, ao meu ver, o enamoramento e a dedicação são os únicos meios de chegar-se à tal devoção, necessitando de um empenho especial por parte do(a) Dominador(a) para que tal estágio seja atingido.

Ao ver alguns casais “BDSMistas” não tenho quaisquer dúvidas que ocorra algo assim. No entanto, se nem no “baunilhismo” isso é norma, não esperaria que fosse possível no BDSM que não tem, em essência, tanta diferença assim das práticas habituais, só tem um caráter um tanto diferente nas práticas.

Isso contempla uma das tríades que H. propôs tão bem, o “Nós dos Nós”. Lembro-me que ali ela pontua que as emoções transcendiam as dores e chegavam à unir almas em algo muito maior , unindo almas e corações. Perfeito!

Passei boa parte da tarde (estou escrevendo na noite/madrugada) pensando o que o masoquismo supostamente afetaria nessa construção que o poema propôs. Concluo que o masoquismo não aspira consumir-se em si , apesar de poder aspirar a isso eventualmente. No entanto, se prazer causa, carece e espera realimentar-se para tornar a ser satisfatório até quando isso não mais ocorra e transmute-se, eventualmente, em algo mais (ou menos).

Portanto, a concepção do “Nós de nós” está vinculado ao prazer, à dimensão criadora da vida. E a união só se legitima no prazer que aspira e na realização dele.

E o “Tocar as raias”? Será que poderíamos afirmar que “Tocar as raias” é um processo físico, de chegar aos extremos nas práticas? Todos sabem que não. Na verdade, mesmo a prática mais extrema não tem sentido nenhum se não vier secundada de uma profunda ligação erótico-afetiva.

A falta dessa percepção, na minha opinião, empobrece muito o diálogo D/s. Reduzir essa relação em um bate/apanha é empobrecê-la , sem com isso fazer qualquer condenação a quem se proponha a viver algo assim.

E é esse a grande lição que o poema aponta: a submissão talvez não necessite, necessariamente, das práticas mas do grau de sedução que um(a) Dominador(a) tem sob seu submisso(a) e vice e versa.

Alguém tem alguma dúvida que isso também aconteça no enamoramento mais “comum”? Quem confrontado com um(a) “adversário(a)” não empunha todas as armas para afastá-lo? Quem, tendo a “coleira” devolvida, o rompimento do pacto original, não se desestruture? Quem, em separando-se definitivamente do(a) amado(a) não perca o próprio significado de sua vida?

Para encerrar: a maior lição que esse poema nos dá é a da intensidade da entrega, seja no “baunilhismo” seja no BDSMismo. Isso deve inquietar ao nos instigar a pensar em que entrega e que Dominação estamos exercendo. Saber que os mecanismos são sutis e a prática não pode ser menos sensível à essa sutileza.

Transformar a realidade falsamente árida que o BDSM propõe para uma plenitude que o poema transborda. Algo para a reflexão. Desculpe se essa foi muito extensa.

Saudações à todos.

Cela de veludo: considerações sobre as relações D/s à partir de um poema de Adélia Prado (Parte 1)

(Nota: esse texto foi originalmente publicado na comunidade “Desejo Secreto” do Orkut, no tópico “Projeto Ciranda”, numa sugestão de reflexão à partir do texto de Adélia Prado , reproduzido abaixo. Por sua extensão, foi dividido em duas partes).

Para o Zé

(Adélia Prado)

(em Poesia Reunida, Editora Siciliano, S.Paulo, 1991, p.99)

“Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo,
estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho.

Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.

Calma! Você não lerá um artigo acadêmico por dois motivos: aqui não é o espaço e não tenho cabedal para fazê-lo. Vou apenas tentar compilar algumas coisas que eu escrevei para ninguém ler e o tanto que está em minha cabeça à partir de algumas experiências D/s que vivo.
Porque chamar essa série de reflexões de “Cela de Veludo”? Primeiramente porque o poema lindíssimo de Adélia Prado trata muito de submissão e, como é (ou deveria ser) regra, uma submissão voluntária como pode-se facilmente notar. Em segundo lugar, porque é uma cela confortável, que não tem a intenção de provocar um dano físico ou mental de alguma monta.
Como acredito ter esboçado na minha primeira intervenção, o poema é reconhecidamente “submisso”, estando a palavra entre aspas por uma assunção de que no “diálogo amoroso” não deveria importar (ao menos idealmente) um exercício de poder explícito mas eventualmente construído na dinâmica das relações.
Tudo muito bem, tudo muito bom mas JB, o que tem isso a ver com o BDSM? – podem dizer os mais apressados. Apesar do que há de peculiar no relacionamento amoroso comum (baunilha?) e no relacionamento Dominador(a)/submisso(a)? Para mim ambos guardam, no fundo, grandes similaridades e igualmente grandes diferenças.
A primeira similaridade, ao meu ver, refere-se ao processo de sedução. Por mais que possamos (queremos?) negar, o processo de “negociação” é na verdade um processo de sedução baseado em características de personalidade pré-existentes e que começam a ser construídas/reconstruídas e/ou moldadas durante esse mergulho no mundo do fetiche.

Um parêntese: tenho visto muitas intervenções em várias comunidades, discutindo se a submissão é construída ou conquistada do submisso(a). Dentro da minha experiência, vejo que a submissão, no BDSM, é uma expressão sistematizada de algo que sempre esteve presente na personalidade do submisso, algo que os psicólogos e demais profissionais de áreas afins podem explicar com mais competência do que eu e acredito piamente que o mesmo valha para os Dominadores(as).
Isso ao meu ver, tem implicações fáceis de serem previstas mas que não tenho visto serem enunciadas: há um processo legítimo de “enamoramento” do Dominador(a) por seu submisso(a). Isso não é novidade? Ufa! Que bom! É novidade? Vamos expandir um pouquinho.
Deve dar calafrios em determinadas pessoas saberem que de repente se enamoraram de seus parceiros BDSM. Isso é rendição ao “baunilhismo”? De forma alguma.
Recorro ao meu “Velhíssimo Dicionário da Língua Brasileira” para achar a significação do verbo “enamorar” e encontro:

“ENAMORAR, v.t. Encantar; enfeitiçar; apaixonar; p. Deixar-se possuir por amor; apaixonar-se; enlevar-se”.

Uia! “Deixar-se possuir por amor”??? Caraca! Porque não “deixar-se possuir pelo desejo” ou “deixar-se possuir-se pelo fetiche” ou finalmente “deixar-se possuir-se pela entrega”? Será que invalida o argumento trocar as palavras? Ao meu ver, não, muito pelo contrário, porque deixar-se possuir é entregar-se (mesmo vocês senhores e senhoras Dominadores e Dominadoras!!!!!). No caso do submisso, essa entrega ocorre no universo do servir e no caso dos (das) Dominadores(as) no receber o gesto de servir.

Sei que muitos vão “torcer o bico” ao ler essa frase mas ao menos para mim, é o que acontece. Mesmo o mais sádico dos dominadores (as) sofrem ou são agentes de um processo de sedução que leva ao enamoramento versão BDSM.
O mais importante é assumir , e não vejo nenhum problema nisso, que somos enamorados de nossos(as) submissos(as) em diversos graus de envolvimento. Assim é a vida e não há porque negá-la.

PASTOREANDO NOS CAMPOS BDSMISTAS

Se não é tão ofensivo ao nossos pudores e conceitos que nos apaixonamos e nos envolvemos com nossos parceiros BDSMistas , vai ficar mais fácil a gente ver o grande contato que há do poema baunilha com os nosso processos de negociação e vivência dentro do BDSM.
Com certeza o “José” do poema é um homem poderoso em sua sutileza e na expressão do seu amor à personagem do poema. Não podemos perceber (ao menos eu não percebo) nenhum sinal de sofrimento ou de dor , ao contrário, transmite-se uma sensação de plenitude que faz com que a personagem viva em intensidade o bem-querer à ponto de colocar-se de “joelhos” ante ao objeto (ops!) de seu amor.
Como já disse anteriormente, a personagem coloca o seu amado em uma altar, há uma sacralização dele de forma inquestionável. A frase do poema “Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor”, vai além dos limites simplistas de uma relação amorosa e coloca no amado a potência de proporcionar não apenas a felicidade mas a “redenção” através dessa experiência, transcendendo os níveis “normais” de uma relação, tocando outra poetisa fantástica, Florbela Espanca, no seu fabuloso poema “Fanatismo” onde ela declara mais explicitamente: “Por que és como Deus, princípio e fim”.
Nesses casos, detecta-se no amado a capacidade de prover o “manjar dos deuses”, o “Maná do deserto”, donde obtém-se a graça (no sentido religioso) e o favor indispensáveis à plenitude de quem ama, portanto, legitimando o servir.

Ops! Cheirinho de BDSM no ar? Huuuuuuuuuum… Estou aqui curtindo-o! Cheiro doce da construção da submissão através da “exposição” (muitas vezes nem tão exposta assim) de um “plano de vôo” que faz subir aos céus, mesmo experimentando uma sessãozinha hard de spanking…rs…
Se o exposto está minimamente coerente, podemos escrever assim: “A relação D/s constituí-se de um processo de sedução onde o(a) submisso(a) coloca o seu Dominador(a) como o único agente que pode, não apenas usufruir de sua submissão, mas de justificá-la, legitimá-la e dar-lhe corpo.
Os cariocas como a Helena diriam: “Que responsa, mermão!!!” Pois é! Pois é! Não vou nem dizer que ser Dominador é mais fácil do que ser submisso porque sei que essa discussão não tem pé nem cabeça até porque , como diria Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, uma frase lapidar. No entanto, isso pode suscitar uma discussão (em outro lugar e momento) se os Dominadores(as) e submissos(as) sabem realmente com o que estão lidando, a responsabilidade e gravidade de cada gesto e/ou atitude tomada.
Se é verdade que a personagem do poema de Adélia é indiscutivelmente submissa e o José um Dominador, convém examinar algumas pistas do caráter da relação que constróem.

(continua)

sábado, 9 de janeiro de 2010

Por fatores além de nosso controle.... For reasons beyond our control...

Queridos amigos leitores.

Infelizmente, por uma falha grave no meu equipamento, esse blog entra em recesso por 15 a 20 dias, retornando em breve.
Peço desculpas e espero contar com a leitura de vocês no retorno que acontecerá entre os dias 23 a 28 de janeiro.
Saudações a todos!


Dear readers.

Unfortunelly I came through a huge fail on my computer so I will be unable to post in the next 15 or 20 days.
Hope you all join me again by January 23th or 28th when to the blog´s comeback!

sábado, 2 de janeiro de 2010

Ui! Isso dói!!! Ouch! It hurts!

Há a dor dada pela execução da ação por parte do Top, uma dor física que realmente torna-se palpável à medida que a sessão tem seu curso. No entanto, há uma outra dor registrada pelo vídeo e que, sinceramente, me é mais interessante: a pré-batida, a inevitabilidade do ocorrido uma vez que se está (no caso da garota) amarrada e à mercê do Dono.
Dominar a mente e infundir aquilo que se quer é a tarefa mais bela e mais complicada dentro do BDSM o que, infelizmente, não é tão valorizada quanto a dor física. Na minha concepção enquanto não se domina a mente e a alma , nada acontece.
Espero que gostem do vídeo.

There´s a certain ammount of pain that can be easily felt and percieved but there´s another that is more important in my point of view and that is very well pictured in this video: the anxiety of been whiped in the clamps, a pain that is felt just in mind , specially in the case of this video where the girl is tied and can be subject of her Master´s wishes.
To master someone else´s mind is a goal that is not appreciated as the physical dominance. In my personal believes there´s no true dominance as far we can master someone else´s mind.
Hope you enjoy the video