Lembro-me de quando, pela primeira vez, li essas 4
letrinhas: BDSM. Já tão conhecida de muitos, para mim seria o começo de uma
grande descoberta. Quando as vi pela primeira vez, nosso contato foi curioso e
de estranhamento. Eu não me reconhecia nelas, as imagens associadas eram
deveras dissonantes daquilo que me representava. Um mundo “exótico demais”, que
não representava minha sexualidade mas me intrigava tanto quanto me repelia.
Apesar do universo erótico associado a um novo modismo,
quase um Glam BDSM, me atraírem profundamente por sua estética apurada e ousada
(para meus antigos padrões), aquilo que me alcançava do “real” me assustava.
Afinal, como ter sentimentos tão antagônicos? O que significam, de fato, essas
4 letrinhas?
Além do significado já tão conhecido, como Bondage,
Disciplina, Sadismo e Masoquismo, aquelas letras significaram um novo universo
de exploração de sensações. À medida que
eu buscava seu sentido, me sentia cada vez menos conhecedora do que elas
representavam. Um mundo confuso de representações, de rituais “enfadonhos” à
total anarquia catártica, nada parecia saciar essa tal curiosidade e tampouco
elucidar esse mistério.
Nesse caminho de descoberta,
ouvi algo que parecia um norte a seguir: afinal, é tão importante
definir? Que tal sair um pouco desse universo teórico e diverso e buscar algo
que te faça sentir o sentido o que busca?
Ao ouvir isso, pensei em como poderia viver essa experiência
se sequer me sentia confortável com os papéis pré-estabelecidos em muitas
práticas: Domme? Escrava? Serva? Submissa? Nomes que pareciam macular minha
essência, como praticar se tudo parecia tão repulsivo ao meu EU feminista e
progressista, que abominava as figuras de servidão ou de dominação?
No entanto, em meio a tantos pensamentos confusos, uma ação
relampeou em minha cabeça e iluminou essa escuridão: estar de joelhos, para
mim, era tão erótico quanto um beijo. Excitava-me inexplicavelmente estar à mercê de um alguém
que conduzisse meu corpo e minhas ações para o seu prazer. Em resumo: servir me
excitava.
Mas como conciliar tamanha entrega com uma personalidade
cotidiana combativa e dona de si? Por que algo que feria tanto meu EU me dava
tamanho prazer? Afinal, seria eu uma mulher servil que maquiava a sua essência
com um verniz socialmente aceito por OUTROS?
Até que me dei conta que meu servir era um ato de doação
daquilo que eu tinha de melhor a um alguém que havia CONQUISTADO minha
mansidão. Um alguém que se materializava de maneira tão grandiosa aos meus
olhos que minha única ação possível seria adorá-lo e render-lhe todas as minhas
homenagens. Descobri o que é ter um SENHOR e DONO. E, principalmente, minha
submissão era um ato de escolha, o caminho pelo qual elegi viver aquela maneira
de se obter prazer. Poderia ter optado por outros destinos, outros nomes ou
mesmo não nomear nada. Mas decidi dar um nome ao que sou. E, assim, me permiti
entregar-me.
Após tamanho ato de libertação dos meus desejos e vontades,
após percorrer um tortuoso caminho para descobrir o prazer e de auto-aceitação,
não cabe a OUTROS tentar definir o que sou. Basta-me a minha convicção e
Daquele que me chama SUA.