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quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Estação 45



Jurei mentiras
E sigo sozinhoAssumo os pecados
Uh! Uh! Uh! Uh!...
Os ventos do norte
Não movem moinhos
E o que me resta
É só um gemido...
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Uh! Uh! Uh! Uh!
Minh'alma cativa...

Rompi tratados
Traí os ritos
Quebrei a lança
Lancei no espaço
Um grito, um desabafo...
E o que me importa
É não estar vencido
Minha vida, meus mortos
Meus caminhos tortos
Meu Sangue Latino
Minh'alma cativa...

domingo, 25 de outubro de 2009

A educação os sentidos - Parte 12 - The Education of the senses - Part 12

"- Estás contente - pergunta Eduardo - por ele querer escrever, trabalhar, por ele estar exaltado em vez de destruído?
- Estou.
- O verdadeiro teste virá quando começares a querer usar o teu poder sobre os homens destrutivamente e com crueldade.
Chegará esse dia?"
(Anaïs Nin, Henry & June, Editorial Presença, página 71)


O contato se fez da ponta dos pés, logo abaixo os dedos, até o calcanhar. Metal, chapas de refrigerante, bordas dentadas, marcas de intensidade variável dependentemente da pele em cada região. Suspiros e um pequeno gemido que deveria se fazer imperceptível para quem não deixa passar detalhe.
- Caminhe , querido aleph... - Caminhe para sua Senhora! Caminhe... Venha para mim, aleph...
Cada passo representava uma dor que apenas era amplificada pela aceleração do passo exigido pela Dominadora. Nesse contexto, tornava-se inacreditável saber que a Senhora não pretendia utilizar aquele instrumento que considerava excessivo, principalmente no caso de aleph. Vira esse apetrecho em um documentário sobre BDSM e decidira construir um apenas para ver como ficaria e logo aprendeu que nada é ao acaso e , uma vez disponível, fatalmente seria utilizado.
- aleph, aleph... Acha que sua dor permanece desapercebida de sua Senhora? Que pretensão... Gema, aleph, gema...
- Não , Senhora, desculpe-me! Eu suporto essa dor que Me impõe e eu a mereço, cada porção dela, ilimitadamente.
- Porque merece, aleph?
- Porque essa é Sua vontade e sempre será a Sua vontade que prevalecerá.
- Minha vontade, aleph? O que sabe você sobre minha vontade? Eu o contemplo com seus desejos e você me diz que isso é da minha vontade? Aprenda, Domme, todos os submissos tentarão iludi-La que estão cumprindo a Sua vontade mas na verdade impõe as suas. Pretensão, a maior de todas!
O último passo o colocou de frente à Senhora.Foi mandado descer das sandálias e mostrar as solas dos pés. As marcas nas solas dos pés são visíveis e sangrantes e para "aliviar" foi mandado colocar os pés em uma solução de água com sal bastante carregado e pela primeira vez expressou profunda dor.
- Era isso que queria sentir, aleph? - falou com mais ênfase a Senhora.
aleph por sua vez, calava. Se de fato houvera dito o que a Senhora alegava que ele dissera, sim, era exatamente aquilo que queria mas se não, qual seria a próxima armadilha na qual ele inevitavelmente cairia?
- Responda aleph, eu lhe fiz uma pergunta!
- Sim... Senhora... - era exatamente isso o que eu disse.
Ela simplesmente caminhou para o fundo da sala , fora do alcance do olhar do submisso. Ordenou-lhe ficar de joelhos, cabeça baixa, à mercê dela. Tomou o açoite e marcou-lhe as costas, mandou que ficasse em pé e seguiu açoitando-o até que uma vermelhidão que aquecia a pele ao contato se fizesse presente.
Domme acompanhava tudo com os olhos sem entender tão bem o quanto seria possível tudo o que estava acontecendo. Não sabia pensar se aquilo era enfim a punição que aleph merecia, se é que o merecia, ou apenas mais uma sessão que começara a pouco.
- Gostaria de amarrá-lo, querida Domme? No pelourinho, com as costas voltadas para mim.
- Como quiser, Senhora. Grata pela oportunidade.
Havia um pelourinho na Sala de Suplícios, copiado de uma gravura do tempo da escravidão, uma peça construída sobre medida e com destreza Domme prendeu aleph e o colocou a disposição da Senhora.
Um chicote de três línguas, um metro e meio de extensão, com golpes planejados nas áreas aquecidas. O deslizar das línguas deveriam ser sentidas não apenas com uma extensão aleatória mas com a destreza inigualável da Senhora.
- Esse é o segredo, Domme querida... Deixe com que as linguetas deslizem sobre as costas como se cada uma tivesse uma vida única, jogue os pulsos, amplifique a força aos poucos mas não seguidamente.
- Como assim, Senhora?
- A dor espalha-se como uma onda gerada pela pedra no lago, caríssima. Se você bater seguidamente, a dor não se irradia e sua peça não sente como deve, não tem ciência de toda extensão de seu poder. Esse cãozinho, não satisfeito, ainda quer mais dor, cara Domme e eu juro que ele terá!
Notava-se que por traz daquele discurso havia algo oculto , ao menos para a Domme mas claro no sentido de que não cabia a aleph desejar. E o que é dor? Uma sensação física que desaparece em poucos dias e carece de ser renovada constantemente? Ou a dor de um olhar e de palavras que reverberam eternamente pela mente do infrator como aleph teve a oportunidade de experimentar na prisão de sua própria mente? Ou ambos?
A Senhora agora toma um açoite cujo uso era restritíssimo, feito de fios de aço finos e em quantidade. Apenas áreas muito específicas deveriam ser batidas com esse acessório tão digno dos grandes espancadores como era a Senhora.
- Poderia vendá-lo, Domme?
Domme vendou-o e a Senhora começou o ritual de passar os fios de aço sobre as costas, peito, pescoço de aleph, obviamente não para açoitá-lo ali o que poderia causar dano irreversível mas para fazê-lo sentir a textura e a temperatura do material.
Acostumado com os couros, aleph sentiu-se arrepiar quando a temperatura e a textura não correspondiam ao que conhecia. Sutilmente moveu-se como a testar a forma que estava preso mas não havia como escapar.
A primeira e única batida do açoite provocou um grito que ainda não era conhecido de Domme, assim como um sangramento onde os fios atingiram a pele bela e acetinada de aleph. O submisso começou a chorar de dor e foi imediatamente acomodado pela sua Senhora que o acariciou, confortando-o.
- Ainda deseja dor, aleph? Ou deixará que sua Senhora escreva no seu corpo as marcas que julga necessárias e adequadas para você?
aleph soluçava ante a dor sofrida e entendia, ainda sobre o efeito da dor lascinante, que a si não cabia qualquer direito em querer nada mas depositar, fielmente, sua vida nas mãos da Senhora, essa mesma que tratava de suas feridas, aplicava unguento para aliviá-las e considerava sua peça parte de si mesma, integralidade no domínio e na necessária subordinação.
- aleph...
- Sim, minha Senhora.
- Entenda que primeiramente puniu a si mesmo de forma desnecessária já que não foi deixado só por conta do que aconteceu mas para aprender a entender o vazio. Em seguida, desejou a dor e agora a tem em sua dimensão mais completa e ficará atado ao pelourinho até que eu decida tirá-lo, novamente em solidão para que pense bem em seu pouco ou nenhum direito em desejar. Será cuidado desse ferimento mas será açoitado a cada meia hora durante o tempo que estiver aqui, seja por mim, seja por Domme. Entendido?
- Sim, minha Senhora.
- E pense, reflita porque dessa reflexão poderá decorrer muitas coisas, algumas que se não são desejadas, serão inevitáveis frente aos fatos.
aleph não respondeu e a Senhora sabia que ele havia entendido. Tanto ela como a Domme saem dos aposentos e deixam o submisso sozinho, atado entregue aos seus próprios pensamentos. O que decorreria daqueles momentos? Para sabermos, devemos deixá-los passar.

(Fim da parte 12)
(Dedicado à Domme Andrasta)

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sábado, 24 de outubro de 2009

Barbie e Ken

História real para ser analisada o mais desapaixonadamente possível. Há dominação e submissão? Qual é o limite entre a psicopatia e o exercício saudável de uma relação D/s? Um bom ponto de partida para uma ótima discussão.
Para assistir, clique aqui. Caso demore para carregar, tenha paciência. O vídeo dura 11 minutos.

Submissão?


"Encontro Henry na estação cinzenta, com uma instantânea efervescência do sangue, e reconheço as mesmas sensações nele. Diz-me que mal conseguia andar a caminho da estação porque estava coxo com o seu desejo por mim. Recuso-me a ir para seu apartamento porque Fred está lá e sugiro o Hotel Anjou, onde Eduardo me tinha levado. Vejo a suspeita nos seus olhos, e agrada-me, vamos para o hotel. Ele quer que eu fale com a porteira. Peço-lhe o quarto número três. Ela diz que são trinta francos. Eu digo:
- Vai fazer-nos por vinte e cinco. - E retiro a chave do chaveiro. Começo a subir as escadas. Henry detém-me a meio para me beijar. Estamos no quarto. Ele diz com aquele seu riso quente:
- Anaïs, tu és um demónio. - Não digo nada. Ele está tão ávido que não tenho tempo de me despir.
E aqui eu cambaleio, por inexperiência, tonta pela intensidade e selvajaria daquelas horas. Apenas recordo a verocidade de Henry; a sua energia, a sua descoberta das minhas nádegas, que ele acha belas - e ah, o fluir do mel, o paroxismo do prazer, horas e horas de coito. Igualdade! As profundidades por que anseei, a escuridão, o fim, a absolvição. O âmago do meu ser é tocado por um corpo que domina o meu, imunda o meu, que contorce a sua língua em chamas dentro de mim com tamanho poder. Ele exclama:
- Diz-me, diz-me o que sentes.
E eu não consigo. Há sangue nos meus olhos, na minha cabeça.
As palavras são abafadas. Quero gritar selvaticamente, sem palavras - gritos inarticulados, sem sentido, vindos do fundo mais primitivo do meu ser, jorrando do meu ventre como o mel.
Prazer até às lágrimas, que me deixa sem palavras, conquistada, silenciada.
Céus, conheci um tal dia, tais horas de submissão feminina, uma tal entrega de mim mesma que não pode haver mais nada para dar.
Mas eu minto. Embelezo. As minhas palavras não são suficientemente profundas, nem selvagens. Disfarçam, omitem. Não terei descanso enquanto não tiver contado a minha descida à sensualidade que foi tão escura, tão magnificente, tão louca, como os meus momentos de criação mística foram atordoantes, extáticos, exaltados".
Anaïs Nin
Henry & June
Editorial Presença, 2002, p.76
Para astharoth de Janus

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Switcher (Janus SW)

Não tenho medo de confessar coisas sobre os "grandes temas" da sexualidade e me pasmar quando há tanto estranhamento acerca de coisas óbvias como gostar-se de vastidões, de possibilidades, de oportunidades de viver e (literalmente) gozar a vida.
Pensar que alguns processos são tranquilos simplesmente porque se encara de uma forma despreocupada a vida é ignorar que , por mais que não nos preocupemos com outros, vivemos e convivemos onde as pessoas fazem julgamentos de valor à partir da opção sexual, da cor da pele, do gênero etc., emprestando para essas subdivisões considerações positivas ou negativas dependendo do que concebam fatos e atitudes individuais.
Talvez eu seja mais tranquilo quanto a opção sexual do que quanto a minha condição de switcher apesar de ser respeitado pela maioria daquelas pessoas com as quais tenho o prazer de conviver.
Fico aqui pensando que se já vivemos em um mundo de tanta repressão, tanta segregação, tanta discriminação, porque seremos nós, praticantes do BDSM, os opressores de outros que compartilham conosco a mesma preferência pelo Bondadge, Dominação/submissão, sadomasoquismo e seus derivados? Para mim, um BDSMista que discrimina é alguém que não entende muito bem onde está , com todo o respeito.
Acredito, mais uma vez, que há uma grande confusão nesse mundo: não é necessário sequer aceitar alguém ou algo que seja derivado de uma opção que não ameace a liberdade de viver e amar como queiramos mas sim, devemos aceitar como legítimas as manifestações e as opções das pessoas, dentro dos parâmetros de respeito pela vida e pelo direito de existir de cada um de nós.
Fico me perguntando se o switcher assusta porque sabe fazer uma leitura mais integral do mundo do BDSM ou , ainda, dê um certo grau de indefinição que confunda as mentes mais cartesianas de muitos de nós. Não encontrei a resposta mas senti já olhares e falas que me indicam não ser incorretas nenhuma das duas hipóteses.
O que me inquieta é uma tentativa de se enquadrar as pessoas e os casais (trincas, quadras, o que for) em termos como "verdadeiros", "falsos", "adequados", "inadequados" e por aí vai. Isso é admissível entre as pessoas que não têm o direito sequer de sair com seu(sua) bottom de coleira na rua? Parece-me que não.
Desculpem o desabafo mas a cada dia que passa me parece mais necessário firmar posição em direção a um mundo mais libertário e , porque não sonhar, libertino, Dentro de nossa "parafilia" descobrir um universo que poucos mortais se dão o direito de viver e ser uma vanguarda ao invés de agentes do regresso o que muitos que convivem entre nós insistem em ser.
Saudações!

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Temas recorrentes: Liturgia no BDSM (Janus SW)

Q/queridos(as) amigos leitores.
Parece que estou a inaugurar uma nova seção em nosso blogue, a dos temas recorrentes. No entanto, acredito ser importante colocar alguns pontos de vista, sabendo que todos são muito particulares e filtrados pela minha visão de mundo, como sempre.
O tema de hoje é um daqueles palpitantes e cuja escritura ensaieei outro dia mas deixei de lado quando comecei a pensar que estava sendo extremamente repetitivo, situação que percebo, agora, não ser rigorosamente verdadeira.
A primeira questão, na minha concepção, é a própria definição do que seja liturgia. Podemos pensar na liturgia como uma sequência de atos ritualizados que perfazem uma determinada função dentro de um contexto específico.
Sem absolutamente desautorizar tal interpretação,necessário se faz ir um pouco além, considerando a liturgia não apenas uma sequência de ritos mas como um elemento de delimitação de momentos, posturas, papéis, posições hierárquicas e por aí vai, cumprindo uma sequência lógica de eventos.
Para quem tenha alguma prática religiosa fica fácil fazer a correlação onde cada momento do ritual necessita e impõe, sob pena de não o celebrarmos condignamente, uma série de gestos, palavras, atitudes que variam ao longo do rito.
Os advogados também devem estar acostumados não apenas com o rito processual mas também com uma série de condutas e formas de tratamento não apenas desejáveis mas imperiosas frente a algumas figuras como juízes, desembargadores etc.
No BDSM, essa função de delimitação de papéis e instâncias de poder é um dos motivos preponderantes para que se justifique e estruture-se seu conteúdo litúrgico. Não basta a consciência dos praticantes que há uma hierarquia consistente do Dominante e de seu(sua) submisso(a) mas há a necessidade de evidenciar essa relação dentro e fora do "dundegeon".
As formas mais evidentes de simbologia BDSM são as coleiras e as formas de tratamento (Sr. , Sra) e uma certa "etiqueta", ou seja, formas polidas de relacionamento interpessoal e também de como o bottom agirá na presença de seu Senhor ou Senhora.
Note-se que esse fato vai distinguir a liturgia religiosa ou monárquica, duas matrizes fortes das nossas concepções de liturgia, para, à partir desse caráter norteador, permitir aos agrupamentos de Tops e bottoms emprestar à liturgia um caráter específico e significativo, fazendo, portanto, sentido aos praticantes.
Isso causa espanto à muita gente e os leva, erroneamente, a conotar de não litúrgicos aqueles que tomam algumas liberdades em um conceito mais ou menos geral do que venha a ser a nossa querida liturgia.
No entano, tomemos um exemplo até tolo para nossa reflexão: é uma convenção mais ou menos generalizada que os bottoms em sua postura submissa , não olhem para seus Tops "olho no olho", demonstrando assim sua absoluta subalterneidade frente ao Dominador(a) presente. No entanto, o que impede a um Top prescindir desse conteúdo litúrgico? Nada já que é de livre decisão sua o que a peça deve fazer (ou não).
Ao meu ver, resumidamente, a liturgia presta-se às seguintes finalidades:
  • Delimitar de forma clara e visível, dentro e fora do ambiente de sessão, uma hierarquia firme e bem estabelecida onde cada um sabe seus papéis e os cumpre com denodo.
  • Na relação interpessoal, dá caráter e disciplina às formas de relacionamento entre Dominantes e submissos, entre os Dominantes e entre os submissos, estabelecendo e clarificando em que bases esse relacionamento acontece.
  • Pode emprestar um caráter cerimonioso bem definido e com gestualização e outras atitudes que têm contato íntimo com a concepção particular que os praticantes estejam adesos.
  • Ao mesmo tempo que delimita, a liturgia reforça os papéis, contribuindo para a consolidação da relação.

Quanto às objeções que se possam fazer com as particularizações da liturgia, fundamental ressaltar o que já dissemos que a finalide precípua da liturgia é dar um fio condutor onde cada concepção poderá criar seus rituais, suas práticas e o que considerar indispensável para extrair o máximo de prazer desse nosso maravilhoso universo.

Saudações BDSMistas!

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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Igualdade de tratamento entre irmãos(irmãs) de coleira e ciúme no BDSM (Janus SW)

Aprendi em minha vida que o fato de um tema ser recorrente em qualquer aspecto nos deveria a levar a pensar não apenas sobre a questão da recorrência mas do próprio "fenômeno" que se observa.
Nos últimos dias, vi um tema para discussão em uma comunidade do Orkut e outra em um outro local que versavam, cada um a seu modo, sobre a questão da irmandade de coleira e suas consequências.
A primeira, dava conta da "desigualdade" de tratamento das submissas em um harém e o outro discorria acerca do "ciúme" em uma relação D/s. Fico aqui pensando, sinceramente, qual são as concepções que permeiam tais impressões e tais dúvidas? Como ambas concepções encaixam-se dentro do contexto da irmandade de coleira? Comecemos pela primeira questão.
Feliz ou infelizmente, muitos resistem em aceitar o óbvio: o nosso meio é tudo menos democrático, ao contrário, é hierarquizado, com instâncias bem definidas e que deveriam ser observadas rigorosamente a bem do relacionamento nas bases que se concebem dentro do BDSM, ou seja, quem manda, manda e quem obedece, obedece e porque quer/deve/tem necessidade de fazê-lo, escolhe-se a razão.
Colocado assim, parece que há um vácuo no relacionamento Top/bottom e, ao meu ver, existe mesmo, cabendo a cada Dominante preenchê-lo da forma mais conveniente que encontrar dentro de um contexto onde a alimentação da submissão é a idolatria do que domina por parte de quem é dominado.
Pode parecer esdrúxulo falar nisso mas se o "encanto" se quebra, não há hipótese em manter-se a relação onde deve haver, mesmo que não enunciada, uma boa razão para se submeter, uma razão íntima e pessoal constantemente "testada" no decorrer da servidão.
Apesar de teoricamente ser uma iniciativa unilateral do Top trazer mais um Bottom para a relação, é evidente ser de bom alvitre que se ouça as percepções do bottom sem querer dizer, absolutamente, que a decisão final seja condicionada pela "aceitação" ou não da situação, afinal, como já tive a oportunidade de escrever em outros momentos, a devolução da coleira não é apenas uma possibilidade mas uma realidade da qual não se deve abrir mão em qualquer circunstância.
É evidente que esse é um equilíbrio delicado ao qual deve-se dar muita atenção. Na fase que dominava mais "amiúde" fui classificado como "Dominador romântico" por ter algumas objeções à irmandade de coleira, principalmente pela percepção de que existem apenas duas condições possíveis: onde há uma convergência da percepção da viabilidade da irmandade entre os envolvidos ou então de um processo desgastante de uma sutil "sabotagem" que deve ser controlada pelo Top com mão de ferro, se necessário.
Estatisticamente, mesmo sem uma amostra tão significativa assim, o que vejo é que na maioria dos casos o que ocorre é a segunda hipótese, normalmente gerando uma série de disputas que acabam por tornar a experiência amarga para o bottom preterido.
Será que o Top consegue dedicar a "mesma" quantidade de atenção à um bottom e a outro? Talvez sim, talvez não, sendo muito maior a hipótese de "não" ser a resposta na maioria dos casos sendo que nesse processo são utilizadas as "armas" mais variadas possíveis, atingindo o quase inimaginável.
O que desejo fazer claro é que a habilidade do Top quando surgem esses conflitos deve ser extrema e sua vontade deverá prevalecer, independentemente de quais questões estejam colocadas. Aos bottoms, cabe a percepção de que nem mesmo pais e mães, ao menos os que tem coragem de assumir, não têm condições de dispensar o mesmo percentual de atenção a mais de um filho(a), além, de por uma questão de empatia (e fato que deveria ser assumido com tranquilidade) sentem-se mais próximos de um ou outro filho sem com isso queira-se dizer que não dedique amor, atenção e cuidado a todos.
Esse raciocínio, ao meu ver, pode ser aplicado perfeitamente quando se instala o "canil": por necessidade, por vontade ou qualquer outra razão, o Top dedicará sua atenção prioritária ou desigual para quem desejar e isso não pode sequer ser questionado já que é um ato de vontade livre de quem pode ter essa capacidade de deliberar.
Em resumo: caberá ao bottom decidir se é suportável a convivência nas condições desejadas pelo Dominante e ao Dono/Dona a vontade de seguir dispondo dos serviços de seu bottom nas condições enunciadas e sem quaisquer posturas inadequadas.
Quanto ao ciúme, permito-me uma abordagem extremamente pessoal: ciúme é para relações baunilhas onde a questão da posse não está claramente enunciada, onde há uma aura até falsa de igualdade entre os parceiros, gêneros ou qualquer outra classificação.
No nosso meio a questão da posse está claramente definida e deve ser respeitada pelos demais que convivem com o Top e seu(sua) bottom. A questão pode ser colocada simples e claramente: qualquer assédio ao bottom de quem quer seja é um desrespeito e deve ser repelido enquanto tal.
Uma distinção clara deve ser feita entre assédio e admiração. Eu mesmo devo confessar que admiro diversas submissas e escravas mas que essa admiração é sempre ditada nas bases do respeito primeiramente pela submissa e depois por seu Top. Nessas bases, a admiração é um elemento de orgulho para qualquer Dominante já que demonstra a qualidade do domínio, a força da personalidade daquele(a) que nos serve.
Esse texto prenuncia algumas linhas de discussão ao qual, como sempre, esse blog está aberto.
Saudações BDSMistas!

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domingo, 18 de outubro de 2009

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Eu apoio!!!!



Quem tem um caso de câncer na família, sabe muito bem o que isso significa: adiamento de projetos, queda da qualidade de vida, preocupações, desgastes , isso quando não significa o fim da vida.
O câncer de mama é uma das principais causas de mortes dessa doença juntamente com o câncer de pulmão, próstata e de útero. Portanto, todos nós temos o dever para conosco mesmos de previnir esse mal, com a adoção de bons hábitos e também com a profilaxia constante, com visitas aos especialistas de nossa preferência para exame.
Em outubro está acontecendo o "Mês Rosa" de prevenção de câncer de mama e nós do BDSM temos nossa contribuição a dar: aos Donos, peço-lhes indicar às suas submissas a prática habitual do auto-exame das mamas, um exame que pode ser feito rotineiramente e em casa (veja figura acima) e a visita ao ginecologista com habitualidade para a mamografia quando indicado.
Às Senhoras, o pedido respeitoso de minha parte para que não dispensem esses exames com a habitualidade necessária para que possamos estar aos Seus pés, sempre.
Esse pedido decorre do fato de eu ter uma irmã querida que sofre desse mal a 10 anos e , desde então, acompanho com preocupação a sua luta contra um câncer agressivo que está mantido, felizmente, sob controle.
Como Tops, é nosso dever zelar pela sanidade de nossos bottoms e como bottoms somos obrigados a manter-nos disponiveis aos nossos Tops. No entanto, mais do que uma obrigação, é um sinal de respeito para conosco mesmos. Isso é o mais importante.

domingo, 11 de outubro de 2009

Sem fórmulas prontas...


"Fizeram a gente acreditar que amor mesmo, amor pra valer, só acontece uma vez, geralmente antes dos 30 anos.
Não contaram pra nós que amor não é acionado, nem chega com hora marcada.
Fizeram a gente acreditar que cada um de nós é a metade de uma laranja, e que a vida só ganha sentido quando encontramos a outra metade.
Não contaram que já nascemos inteiros, que ninguém em nossa vida merece carregar nas costas a responsabilidade de completar o que nos falta: a gente cresce através da gente mesmo.
Se estivermos em boa companhia, é só mais agradável.
Fizeram a gente acreditar numa fórmula chamada "dois em um": duas pessoas pensando igual, agindo igual, que era isso que funcionava.
Não nos contaram que isso tem nome: anulação. Que só sendo indivíduos com personalidade própria é que poderemos ter uma relação saudável.
Fizeram a gente acreditar que casamento é obrigatório e que desejos fora de hora devem ser reprimidos.
Fizeram a gente acreditar que os bonitos e magros são mais amados, que os que transam pouco são caretas, que os que transam muito não são confiáveis, e que sempre haverá um chinelo velho para um pé torto.
Só não disseram que existe muito mais cabeça torta do que pé torto.
Fizeram a gente acreditar que só há uma fórmula de ser feliz, a mesma para todos, e os que escapam dela estão condenados à marginalidade.
Não nos contaram que estas fórmulas dão errado, frustram as pessoas, são alienantes, e que podemos tentar outras alternativas.
Ah, também não contaram que ninguém vai contar isso tudo pra gente.
Cada um vai ter que descobrir sozinho. E aí, quando você estiver muito apaixonado por você mesmo, vai poder ser muito feliz e se apaixonar por alguém"
(John Lennon)

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A educação dos sentidos - Parte 11 - The Education of the Senses - Part 11

(Para:/To: Andrasta Domme)

aleph ficou estranhamente calado como se tudo o que vivera lhe transpasasse o espírito com a capacidade que desconhecia em devastar com a ilusão que pudesse ter quanto à submissão.
Por mais que entendesse que negar seu pólo submisso seria trair a própria essência que tinha, acostumara-se a pensar no poder da culpa enquanto um ente de maior impacto em seu ser do que poderia inicialmente imaginar.Não se tratava de uma afirmação padrão de todo e qualquer de todo e qualquer "bottom" mas uma experiência real, vivida, fora de qualquer hipótese, repleta de concretude.
Queria poder comparar a dor sofrida em sua dimensão meramente carnal com essa dor provocada pela solidão revestida de culpa para chegar à conclusão que coubesse na sua visão individual, no seu sentimento particular. Sabia muito bem que, colocada e manifestada nessas bases, a Senhora provavelmente não consentiria em aplicar-lhe o castigo demandado pela sua necessidade de experiência, ao contrário, a rejeitaria como excessiva e danosa à ele.
Portanto, para experimentar graus maiores de sofrimento deveria demonstrar que o "montante" anterior não fora excessivo e isso apenas estaria evidenciado por uma contínua percepção do seu próprio bem estar por parte da Senhora cujos olhos sempre estavam pousados nele, demonstração da preocupação que Ela tinha.
- Mortifique minha carne, Senhora! Faça-me provar do seu chicote, eu suplico, no limite do que se possa aguentar e além! Eu Lhe suplico! - pensava aleph como querendo transmitir pelos misteriosos mecanismos de uma percepção que ultrapassava os sentidos, era evidente pelo olhar.
Depois da refeição e da lavagem dos pratos, aleph fora convidado ao quarto de sua Dona, perfumado com madeiras queimadas e incenso.
- Deite-se aqui, aleph, ao lado da cama - falou a Senhora apontando a área contígua à cabeceira da cama. Antes que deitasse, substituiu a coleira de passeio pela de sessão o que aguçava o prazer de aleph ao perceber uma convergência entre os seus desejos e de sua Dona.
Adormeceu e talvez em seus pensamentos não lhe ocorrera um fato que já lhe fora narrado mas do qual se esquecera por completo e que revelaria à Dona a extensão do seu inconsciente.
- Dor... Preciso de dor... - murmurou à princípio em tom muito baixo mas não a ponto de passar despercebido à sua Senhora que não tinha sono pesado.
- Senhora!.... Eu peço.... Torture-me... - balbuciava aleph - Mate-me se quiser... Torture-me!
A Senhora ouvia e custava a acreditar no que ouvia. Mesmo quando aleph silenciara e dormia placidamente, a mulher que não mais conseguia dormir, temeu pelas consequências do abandono sofrido horas antes. Seria esse grau de masoquismo intenso, essa atração pela dor, uma fonte de prazer ou apenas uma forma de "auto-punição" se assim pudesse dizer?
Esperou que aleph acordar por si e ordenou-lhe banhar-se novamente e apresentar-se, despido, na sala dos suplícios, uma instalação no que poderia ser chamado de "lado sul" do Templo que fora escolhida como tal por um acidental e providencial isolamento acústico tornando qualquer som ali produzido praticamente inaudível ao público externo. Preparado, aleph dirigia-se à sala quando foi mandado parar e esperar.
- Domme colocará a sua guia e trará até aqui. Não se aproxime antes disso!!!
Domme dirigiu-se a um sinal da Senhora em direção à aleph e colocou-lhe a quia. Mencionou trazê-lo andando.
-Oras, aleph, para quem pretende sofrer os rigores de uma Dona, não seria suficiente vir andando... Venha como um cão! - disse com um sorriso sarcástico nos lábios, do tipo "cuidado com o que deseja" já que não há um plano "B" para os desejos que uma Dona resolve satisfazer.
A confissão sussurrada durante o sono e da qual o submisso não tinha conhecimento, munira a Dominante de todos os recursos e estratégias para "satisfazer" aleph de uma forma planejada.
Foi exatamente onde a Senhora estava e onde aleph foi conduzido pela Domme que o "séquito" fez uma pausa e onde pode-se ver as mãos e os joelhos rubros com o esforço.
- Em pé, cão! Meu querido e amado cãozinho que vai finalmente sentir a dor que deseja tanto a ponto de falar durante o sono! Que bonitinho esse cãozinho! - disse, desferindo um bofetada na cara de aleph. - Vamos ver se suporta a primeira estação da realização dos seus desejos. Calce imediatamente essas sandálias.
aleph não entendeu de imediato a ordem mas nem precisaria. Mesmo sem saber literalmente o que havia dito, com certeza toda a sua energia contida desde a experiência da solidão no quarto deveria ter transbordado durante os momentos onde sua vigilância desaparecera.
Calçar aquelas sandálias seria a primeira etapa? Um riso interiorizado achava que sua Senhora havia se enganado mas , acreditem-me, era aleph deveria ter observado melhor onde colocaria os pés. Aguentaria o que mais estivesse por vir?

(Fim da 11a. parte)

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domingo, 4 de outubro de 2009

A educação dos sentidos - Parte 10 - The education of the senses - Part 10

Noite quente na cidade e em cada quarto uma história diferente: Domme não teve o menor trabalho em adormecer, parte pelo vinho que ingerira e também pela placidez que experimentara depois da experiência única que tivera em companhia da Senhora e de aleph.
Essa, por sua vez, com alguma dificuldade conciliava o sono, imersa nas sensações que não conseguira ainda dissipar as sensações que experimentara e que a conversa que tiveram não conseguiram dissipar.
A insônia, inicialmente atribuída ao calor, foi entendida nos termos que realmente era e pelos motivos corretos. Vestindo um roupão já que costumava dormir nua, a Senhora escreveu um bilhete e colocou-o por baixo da porta de aleph. Não temia que a nota fosse achada antes do tempo devido já que conseguia sentir o ressonar da respiração do submisso e quando isso acontecia, o sono estendia-se até a manhã seguinte.
Dormiam na ala nova que a Senhora construira no terreno que comprara anexa ao Templo. Todos os quartos eram suítes permitindo aos seus "habitantes" manterem a privacidade necessária com autonomia para acordarem a hora que desejassem com exceção de aleph que deveria acordar na hora estabelecida pela Senhora e como sabemos , ele fora liberado daquela obrigação naquele dia.
Horas depois, o sol rompia a janela da Senhora ainda insone. Aproveitou do momento para banhar-se e vestir-se de forma descontraída sem dispensar, todavia, as botas que faziam parte quase cotidiana de sua indumentária , com exceção dos dias de trabalho onde usava saltos altos mas evitava as botas como que para consagrá-las à função que tinham de marcar a sua posição de dominadora.
Domme acordara logo depois e também banhara-se e vestiu-se de uma forma que traduzia bem a imagem que se fazia dela, alguém jovem, sem formalidades e que aos poucos ia adotando as formalidades de sua nova posição mas apenas no contexto das sessões.
Cumprimentaram-se com beijos no rosto e a Senhora disse-lhe ter sido conveniente que tenha acordado cedo.
- Temos alguma coisas para fazer na cidade, minha amiga. Venha comigo.
- E aleph? - perguntou sentindo a falta dele.
A Senhora não respondeu e disse apenas um "vamos" margeando as mensagens cifradas quando se diz muito sem nada se falar. Pegou as chaves do carro, desceu pela escada e dirigiu-se ao carro, abrindo a porta para sua amiga.
Ligou o automóvel e acelerou profundamente como que para mandar uma mensagem a aleph que ainda dormia e sim, foi nesse momento que aleph levantou-se e, demorando para acordar de fato, percebeu que o carro que partia era de sua Senhora, conseguia reconhecê-lo pelo som do motor.
Porque fora deixado ali? Não entendia o porquê e também não ousaria perguntar mesmo que tivesse alguém para fazê-lo. Ao levantar, achou a nota da Senhora que estava afastada da porta mas só poderia ter sido colocada pelo vão:

"aleph.
Deverá ficar em seu lugar até que seja ordenado a sair. Tome seu banho, vista-se conforme o costume e aguarde sentado em sua escrivaninha. Você está proibido de fazer uso de qualquer aparelho sonoro ou livro permanecendo sentado até que sua Senhora determine diferentemente".

O primeiro pensamento que atravessou a cabeça de aleph foi o de não estarem bem resolvidas as questões do dia anterior e aquela ordem parecia, de fato, uma punição. Seria a emoção que vira no rosto da Senhora um engodo para fazê-lo falar mais e cair em uma armadilha de falsos sinais? Por um momento sentiu um profundo sentimento de raiva de si mesmo por permitir-se cair em tal armadilha mas também a tristeza de ver que para um erro aparentemente desculpável jamais haveria perdão, apenas penitência e arrependimento.
Como submisso pouco haveria a fazer senão cumprir todas as ordens que ainda restavam serem cumpridas e esperar o tempo que fosse.
Temia abrir as janelas mesmo para que entrasse ar e luz de um dia quente que estava lá fora. Após tomar banho, a única fonte de iluminação e de ar fora a basculante que estava aberta e deixava entrar quantidades limitadas de tão necessários elementos da natureza.
No mais, o quarto estava em uma penumbra e assim foi deixado. A cama fora arrumada, os lençóis trocados conforme o costume e deixados dobrados em um canto do quarto até que pudessem ser colocados na lavanderia.
Enquanto isso, Domme e a Senhora tomavam seu café da manhã em uma padaria não muito distante do local de onde iriam fazer algumas compras necessárias para as atividades do dia. Havia uma pergunta que de certa forma angustiava Domme mas também não ousava pronunciá-la até porque percebera que não havia como discutir as decisões de sua amiga.
- Eu sei o que está pensando, Domme... - disse a Senhora em voz baixa - Quer saber o porquê de aleph ter sido deixado para trás.
Domme riu da perspicácia de sua amiga, da capacidade que tinha de praticamente advinhar seus pensamentos.
- Como você consegue advinhar o que eu estou pensando?
- Meu pai era leitor de ficção científica e me dizia uma frase de Isaac Asimov que eu simplesmente gravei para sempre: "Quem vê o óbvio, prediz o inevitável". E quer saber o que aleph está pensando nesse exato momento?
aleph pensava que fora abandonado e essa quase certeza o angustiava de forma absoluta como seria facilmente perceptível. Esse era o tipo de punição que começava a detestar, a de sentir-se sozinho na certeza da culpa que tinha em algo que não via culpa alguma, não era claro que pudesse controlar ou negar que fora estimulado.
Qual é o limite do auto-controle? Haveria de negar o prazer que sabia que sua Dona sentiria com sua entrega? Como advinhar que aquela experiência seria tão chocante para Ela a ponto de provocar uma reação como aquela que não conseguira antecipar?
Das muitas vezes que cometera erros evidentes, a punição fora clara e direta, inclusive com a retirada da coleira que seria devolvida depois sob a condição de um período probatório, exatamente esse pelo qual passava e não desejava falhar.
- ... e aleph pensará que é uma punição pelo prazer que teve contigo o que não é sequer o caso. Terá que testar algumas de suas qualidades, aquelas que eu sei que ele tem mas que não parecem evidentes nem à ele mesmo.
- Quais seriam essas qualidades?
- Lealdade, temor, obediência, vontade de aprender, aplicação... Ele já cometeu muitos enganos mas hoje caminha na direção certa.
- E para que prová-lo dessa forma tão forte, Senhora?
- Porque não, Domme? Será que nossas peças não precisam da perpétua educação do sentido da submissão e que a propriedade é um estágio que pode ser tomado ou dado conforme aquilo que se possa oferecer ao seu ou sua Dominante?
- Não há o limite o do bom senso, Senhora?
- O que é bom senso, Domme? Como medí-lo? Não se iluda com essa história da carochinha. Existem percepções absolutamente objetivas de bem ou mal estar e decidir até onde ir ou além de onde ir é uma questão que apenas a nós diz respeito. Já disse que isso é nossa responsabilidade e cada vez mais sei o que aleph pode e não poderá fazer ou suportar.
- Não tenho dúvidas disso, Senhora... Nenhuma aliás e bem sei o valor do que deseja fazer aleph experimentar e aprendo cada vez mais com isso.
- Que bom que é útil para você Domme, como está sendo útil para aleph. Espero que ambos aproveitem e bem o que está sendo ensinado. A quanto tempo estamos fora de casa?
Domme consultou o seu relógio e informou que já fazia uma hora e quinze minutos que estavam ausentes e a Senhora disse ser momento de fazerem o que mais era necessário e retornar para retirar aleph de seu isolamento.
Ele, por sua vez, adormecera sentado na cadeira e tivera um sonho intrigante com sua Dona. Senhora e Domme apreciam com vestes trocadas, ou seja, a primeira de negro e a segunda de branco.
- E agora, aleph... Consegue resolver a confusão em sua mente? Diga: com quem quer e gosta de ter prazer?
- Com.... - hesitou como tomado de paralisia - A....
Olhou novamente nas duas e agora cada uma vestia a roupa costumeira, invertendo os papéis.
- Com quem aleph?
- Com...
- Com quem aleph???
- Com a ... Senhora....
aleph teve vontade de gritar mas controlou-se, acordando assustado e ainda sentado na cadeira onde estava.
- Bem , cara Domme, é hora de voltar. Temos tudo o que precisamos e não precisaremos mais sair do Templo.
- Vamos, então.
O caminho não era longo mas algo parecia estar despertando na cabeça da Senhora. Qual é o limite? Para onde direcionar o aprendizado de aleph de forma que não ficasse de alguma forma um resquício de sentimento de inadequação que sempre ocorre nos momentos de punição? Principalmente, já antevendo o que poderia estar acontecendo, como fazer que um sentimento de vingança não se generalizasse quando o que de fato ocorria era apenas mais uma etapa no ensino e no aprendizado?
aleph ouviu o carro parar na garagem e tentou, o máximo que pode, ocultar o sentimento imenso de inadequação que tinha em seu coração. Queria , e muito, ouvir a voz de sua Senhora mas tudo que conseguiu ouvir foram os passos, a caminhada em silêncio, primeiro na parte externa, após dentro do Templo e agora no hall.
A chave girou na porta que se abriu e aleph não pode resistir ao fato de se dirigir correndo à sua Dona e jogando-se no chão, beijar Seus pés implorando o perdão pela sua grande falha.
- Levante-se aleph! - ordenou docemente.
Pela primeira vez em muito tempo, viu lágrimas de dor nos olhos de seu servidor e apressou-se em esclarecer que não se tratara de uma punição mas apenas de mais uma etapa do aprendizado mas pareceu que isso não acalmava aleph que continuava a suplicar-Lhe o perdão do qual se achava merecedor.
A Senhora acolheu-o em seus braços, enxugou suas lágrimas e confortou-o com a aprovação que era a base de todo relacionamento e sentiu ternura, muita ternura por sua peça. O conforto que poderia dar era escasso mas importante para aleph que, trazido para a sala, teve licença para tomar seu café de manhã com as dominantes.
Como prosseguir agora nesse aprendizado? - pergunto a si mesmo a Senhora - Como será daqui para a frente?
As respostas viriam, inevitavelmente, assim como as lições que não podiam deixar de ser aprendidas.
(Fim da parte 10)

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sábado, 3 de outubro de 2009

Venezianische Epigramme / Dos Epigramas Venezianos (Goethe)


Lange sucht´ich ein Weib mir; ich suchte da fand ich nur Dirnen;
endlich erhascht´ich mir, Dirnchen; da fand ich ein Weib!

Quanto tempo procurei uma mulher; só achava putas.
Finalmente te apanhei, putinha: aí tive uma mulher.

Bety Page BDSM Style




sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Obrigado!!!! Thank You!!!!


Alguns passaram, outros ficaram, alguns leram , outros tomaram conhecimento. Não importa! O que eu gostaria é de agradecer a todos os amigos de 32 países que passaram pelo nosso blog desde sua origem dos quais 1.005 visitas (por enquanto) são brasileiras. É a presença de vocês que me estimula a seguir produzindo. E lembrando: O mundo de Janus está no Twitter, no Scribd onde podem baixar os textos originais em PDF e , em breve, em Podcast aqui na página. Valeu, pessoal!

Some passed, others stood, some read , some acknowledge the existence of teh blog. It doesn´t matter. Today we have reach the mark of more than 1,000 Brazilian readers and many from 32 nations, some listed below. Thanks for stopping by! Remembering that we are in Twitter and Scribd where our texts can be downloaded in PDF. Thanks, everybody!