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domingo, 31 de janeiro de 2010

O sadomasoquismo na obra de Guido Crepax (Janus SW)

Valentina em cena de contexto BDSM. Ora como submissa, ora como  Domme


Já foi dito que “um furacão varreu a Europa” no final da década de 60 e disso não se pode discordar de forma alguma: em 1969, Paris estava de pernas para o ar por conta da revolta estudantil; no Vietnã, a ofensiva do Tet corria solta pondo mais uma pedra no túmulo da intervenção americana e mesmo na “pátria mãe” (deles) as manifestações anti-guerra e anti-racismo, algumas promovidas pelo Rev. Martin Luther King, pregavam uma revolução nas relações entre negros e brancos, propondo a integração racial, algo que, como tristemente se provou, não era sequer uma possibilidade muito bem aceita, vide o assassinato do reverendo por James Earl e, para variar, o Brasil estava imerso no “golpe dentro do golpe”, ou seja, o AI-5, publicado na malfadada sexta feira, 13 de dezembro de 1968.

É claro que essa agitação não poderia passar sem provocar um repensar nas relações de gênero e na própria elaboração que cada indivíduo ou grupo fazia sobre o papel que teria de cumprir e sob qual estatuto esse papel estava assentado. O feminismo que hoje nos parece absurdamente risível era, na verdade, a legítima manifestação de descontentamento das mulheres com os papéis tradicionais que lhes eram impostos, principalmente agora que avanços da tecnologia havia colocado a procriação como algo a se programar , viabilizando uma liberdade de práticas sexuais inédita.

Também os famosos relatórios sobre a sexualidade começavam a ser publicados, permitindo uma discussão e um entendimento sobre as fantasias, expectativas, desejos e vontades de homens e mulheres, sem nos esquecermos da afirmação de grupos homossexuais que reinvindicavam, justamente, respeito à sua opção sexual sem terem de ser alvo de repressão policial. Foi nesse final de década que aconteceu a famosa rebilião de Stonewall que foi o marco para que se começasse a lutar pelos direitos de todos , independente de sua opção sexual.

Óbvio que a arte não poderia ficar alheia a todo esse turbilhão e quanto mais a história em quadrinhos. Nessa época havia em toda Europa, mais notadamente na Itália e na França, um movimento que poderíamos inclusive chamar de “alternativo” que se propunha a fazer uma história em quadrinhos que refletisse e repensasse o universo da sexualidade como um todo, SM incluído, é claro.

Diga-se, de passagem, que talvez seja injusto apenas resaltar o SM, já que as fantasias D/s estavam explícitas na pena de soberbos desenhistas como Manara e , o meu favorito, Guido Crepax.

Nascido em 1933 em Milão e morto na mesma cidadade em 2003, criou em 1965 uma personagem baseada em Louise Brooks, atriz do cinema mudo que aparece como coadjuvante nas histórias de Neutron, chamada Valentina, ou melhor, Valentina Rosseli.

Valentina é uma fotografa que vive as aventuras mais intensas que têm grandes reflexos na questão sexual que é mencionada mas não explícita, no sentido de ser gratuita e sem nexo. Elas compõe o universo imaginativo e dos devaneios da personagem e algumas práticas BDSM são ilustradas com grande qualidade, digna desse grande talento.

Vale a pena visitar as obras de Valentina que são compostas de vários livros, filmes e mesmo uma série de TV que não foi lançada no Brasil ao menos pelo que tenho notícias. Alguns livros de Valentina foram publicados mas o mais interessante é o “Desnudando Valentina” que percorre e analisa toda a obra de Crepax e a trejetória de Valentina.

Mas Valentina não foi a única personagem com temática BDSM que está no mundo do genial italiano. O famoso livro de Pauline Reage, História de “O” teve uma versão em quadrinhos que sobre transpor com grande maestria o universo do livro. Uma edição razoavelmente rara mas que merece ser buscada nos melhores sebos e lojas do ramo.

Fica aqui uma dica a todos que gostam de quadrinhos e de quadrinhos e de um momento particular da história da cultura da humanidade que trouxe a sexualidade (BDSM incluído) para o centro dos holofotes. Boa leitura.

Para saber mais:

Marco Antonio Luccheti – Desnudando Valentina – Ed. Ophera Gráfica.

Wikipédia: http://en.wikipedia.org/wiki/Guido_Crepax

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