Pesquisar este blog / Search in our blog

segunda-feira, 21 de junho de 2010

Publicar essa carta aqui pode ser visto como um ato de ousadia: esta carta é um libelo contra um sexo desapaixonado do ser humano. Isso é possível? Sim! De imagens ginecológicas estamos cheios e de pouca demonstração dos mecanismos sutis e ao mesmo tempo vigorosos do sensual, do que toca a pele e os canais mais profundos do ser. É também um tributo principalmente para Anaïs Nin, uma mulher na essência da palavra que ousou ir além e muito além. Henry Miller, co-autor dessa missiva veio na esteira dessa grande mulher, sem , de forma alguma , deslustrar a qualidade de sua escritura.
Espero que apreciem e entendam as profundidades do que está proposto pelos autores.

A carta

"Querido Colecionador".

Nós o odiamos! O sexo perde todo o seu poder e seu vigor quando é  explícito, exagerado, quando é uma obsessão mecânica. Transforma-se em  tédio. O senhor nos ensinou melhor do que ninguém, o erro de não misturar sexo com emoções, apetites,desejos, luxúria, fantasias, caprichos, vínculos pessoais, relações profundas que mudam sua cor, sabor, ritmo, intensidade. 
Não sabe o que está perdendo com sua observação microscópica da atividade sexual, excluindo os aspectos que são seu combustível:  intelectuais, imaginativos, românticos, emocionais.
Isto é o que dá ao sexo sua surpreendente textura, suas transformações  sutis, seus elementos afrodisíacos. O senhor reduz seu mundo de sensações, o faz murchar, mata-o de fome,  dessangra-o.
Se nutrisse sua vida sexual com toda a excitação que o amor injeta na sua sensualidade, seria o homem mais potente do mundo. A fonte da  potência sexual é a curiosidade, a paixão. O senhor está vendo sua  chaminha extinguir-se asfixiada. A monotonia é fatal para o sexo.
Sem sentimentos, inventividade, disposição, não há surpresas na cama. O sexo deve ser misturado com lágrimas, riso, palavras, promessas, cenas, ciúmes, invejas, todos os  componentes do medo, viagens ao  exterior, novos rostos, romances, histórias, sonhos, fantasias, música, dança, ópio, vinho.
Sabe quanto o senhor está perdendo por ter esse periscópio na ponta do seu sexo, quando poderia gozar um harém de maravilhas diferentes e novas? Não existem dois cabelos iguais, mas o senhor não nos permite perder palavras na descrição do cabelo; tampouco dois cheiros, mas se  nos expandimos o senhor berra: "Deixem a poesia de lado!". Não existem  duas peles com a mesma textura e jamais a luz, a temperatura ou as sombras são as mesmas, nunca os mesmos gestos, pois um amante quando  está excitado pelo amor verdadeiro, pode percorrer a gama de séculos  de ciência amorosa.. Que variedade, que mudanças de idade, que variações na maturidade e na inocência na perversão e na arte!...
Temos nos sentado durante horas nos perguntando como é o senhor. Se tem negado ao seus sentidos seda, luz, cor, cheiro, caráter,  temperamento, agora deve estar completamente murcho. Há tantos  sentidos menores fluindo como afluentes do rio do sexo, nutrindo-o. Só a pulsação unânime do coração e do sexo podem criar o êxtase".

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Os comentários são moderados. Não serão publicados cometários de conteúdo racista, homofóbico, discriminatório de qualquer tipo.
The comments are moderated. WILL NOT be published any commentary with racist, homophobic and discriminatory content against no one and no group.