Pesquisar este blog / Search in our blog

segunda-feira, 7 de março de 2011

Caixa de Pandora - Parte 1

Capítulo 1 - Lascívia - A culpa


Vênus de Ticiano
Seios fartos presos sob um decote que não deixava antevê-los plenamente e o restante conservado secretamente sobre panos, fechos e disfarces para a sua sensualidade natural. Conhecia bem a armadilha que era expor-se demais: de um lado, a óbvia questão do conceito social que, em sua posição profissional,   consistia um perigo fundamental e bem conhecido. De outro lado, sabia muito bem que a essência da sensualidade era o segredo, o ocultar , o não revelar totalmente.
Havia uma segunda razão não declarada: ordens de alguém que chamava de Mestre e Senhor, o seu Dono, a dimensão não revelada de sua vida. Bem sabia que O deveria obedecer e jamais desafiar já que, segundo Ele mesmo, não havia punição mas apenas o justiçamento e  a correção dos desviantes.
Raramente apresentava-se pessoalmente mas sua presença sempre fazia-se sentir e sabia disso apesar de que por algumas vezes se esquecesse desse fato aparentemente simples e ousasse desafiar suas regras.
Assim foi quando quebrando a regra fundamental vestiu-se exageradamente sensual, fora dos padrões rigorosos de recato que haviam sido prescritos e uma roupa exageradamente colada ao corpo revelava aos olhos desejosos dos passantes suas formas esculturais.
Sentiu, como acontece quando a consciência da culpa invade, olhos rigorosos sobre ela e, mesmo à distância desejou que não fossem os de seu Dono, quis voltar agora para mudar de roupas mas coincidentemente não teve tempo e nem condições de fazê-lo: o celular tocou e um frio atravessou-lhe a espinha ao ver o nome no identificador de chamadas informando-lhe ser o Dono que ligava.
- Venha agora para cá!  - disse sem cumprimentá-la e sem dar oportunidade para qualquer reação. 
"A consciência de seu erro te acompanhará" - assim afirmava o ditado que conhecera a tanto tempo atrás e de fato, nesse exato momento, era um fato concreto e indiscutível. Pensou em pedir-lhe para trocar de roupas mas isso tornaria evidente que algo estava errado e , ao mesmo tempo, assim já encontrava-se.
- Sim, Senhor, imediatamente.
Naquele momento de fazer com que o tempo não pasasse, sucedia exatamente o contrário: o táxi apareceu rápido, o trânsito estava bom, a chegada foi rápida, a consciência estava a sentir o peso do erro, as roupas incomodavam, cada vez mais os detalhes excessivamente sensuais apareciam e a consciência, em uma verdadeira voragem a dominava completamente.
O carro parou frente à casa onde Ele morava e ela pagou ao motorista e estava na rua, sentindo a roupa a salientar-lhe as formas como se a sua capacidade de provocar o desejo fosse um pecado inconciliável com sua condição de submissa, fêmea e mulher.
Tocou a campanhia: sua mão tremia ao pressionar o botão, suas pernas ensaiavam rebelar-se contra o controle e essa sensação de desconforto que se ampliou quando Ele abriu o portão eletrônico. Subiu as escadas e logo encontrou-se frente á Ele.
Ajoelhou-se no lugar de costume mas foi mandada ficar em pé. Sim, ele notara o excesso, a exposição fora do padrão, os seios fartos exposto mais do que deviam, as coxas também excessivamente mostradas , os cabelos longos e negros soltos e bem cuidados, unhas em vermelho escuro, vinho.
- Vejo que hoje caiu na tentação de parecer sensual aos outros . - comentou desdenhoso.
Ela pensava , sem cessar que mesmo havendo um erro para centenas de acertos, era esse que lhe seria cobrado. Sentia toda a carga que aquilo representava e arrependera-se de coração mas não ousava pronunciar sua contrição. 
Pegou um livro em sua vasta estante, um dicionário,  procurou á página e mandou-a ler em voz alta para que Ele também ouvisse.


  Lascívia

Datação
1612 cf. VascAM

Acepções
 substantivo feminino
1    qualidade ou caráter de lascivo (pessoa ou animal)
Ex.: a propalada l. dos felinos 
2    propensão para a luxúria, sensualidade exagerada; lubricidade
Ex.: a l. da corte francesa 
3    caráter do que está marcado pela sensualidade ou do que produz a propensão para a sensualidade; impudicícia
Ex.: a l. dos seus passos, dos seus gestos, de cada tecido que punha sobre a pele

Etimologia
lat. lascivìa,ae 'ação de pular, de brincar pulando (com respeito aos animais), divertimento (das pessoas), bom humor, galhofa', p.ext. 'intemperança, desregramento, devassidão, impudicícia'; f.hist. 1612 lascivia, 1716 lascîvia

Sinônimos
ver sinonímia de lubricidade

Aquela leitura a atemorizou definitivamente: compreendia de uma vez por todas que fora, além de desaprovada em sua atitude, sentenciada a cumprir a paga considerada adequada por seu deslize.
- Lúxúria, sensualidade exagerada, impudícia, propensão á sensualidade, intemperança, desregramento, devassidão... Tudo isso aplica-se à você? - perguntou em voz leve porém acusadora.
- Senhor... Eu...
- Aplica-se ou não aplica-se?
Baixou a cabeça: aquela interrupção já era o início de sua punição já que ao contrário do que habitualmente acontecia, as carícias foram interrompidas em nome da severidade e da coerção.
- Sim, meu Senhor, aplica-se.
Pegando-a pelo queixo, nivelou os olhos dela os dele e ela queria desviar o olhar mas não conseguia e , ao mesmo tempo, não desejava já que isso poderia causar-lhe mais dissabores dos que já experimentava.
O dia transcorreu sem alguma novidade e nada fora mencionado sobre o ocorrido mesmo ela sabendo que não ficaria sem consequência. Como sempre, fora a responsável pelo cuidado com seu Senhor, com sua alimentação, corpo, vestimentas e mesmo quando tudo era de Seu agrado, parecia-lhe torturante a visão da reprovação implícita.
Por um momento desejou que a noite não caísse mas o transcurso do tempo é algo que o humano impôs à natureza e era o que delimitava inexoravelmente o fim do dia e o começo da noite.


- Banhe-se!
- Sim, meu Senhor.


Desnudar-se, como nunca antes, foi um ato que a enchia de uma intolerável tristeza. Sabia que seu corpo era admirável mas sentia-se aterrorizada pelo fato de ter sido desobediente às ordens Dele. Sentiu vontade de negar a sua sensualidade mas seria exatamente dela que precisaria para super uma prova além do tolerável e que estava prestes a ser-lhe imposta.
Secou-se e submeteu-se ao escrutínio de seu Dono e foi examinada rigorosamente, os perfumes escolhidos, o cabelo com seu penteado determinado e o conselho, desnecessário, para que tudo ficasse perfeitamente ao Seu agrado.
Apenas ficou à ser determinado o que vestiria e só aquele fato indicava que as coisas não seriam da forma que sempre foram, um corset negro delicadamente manufaturado à mão, botas e jóias que a faziam-se sentir uma humilde servidora.
O cabelo fora cuidadosamente seco e penteado e adotou um volume não usual mas não menos belo. Sentiu que a pele que logo receberia seu adorno acrescentaria uma nova visão de beleza que era permitida sem a dimensão que ela viria a  ser a sua pena.
(Final do Capítulo 1)

2 comentários:

  1. Gostei muito do q li e lhe peço licença pra ficar rs...um bj em ti e lhe aguardo no meu humilde cantinho.

    ResponderExcluir
  2. adorei!!!!
    muito bem escrito Senhor Janus...
    Nathy

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados. Não serão publicados cometários de conteúdo racista, homofóbico, discriminatório de qualquer tipo.
The comments are moderated. WILL NOT be published any commentary with racist, homophobic and discriminatory content against no one and no group.