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domingo, 31 de janeiro de 2010

Devolução de coleira: a dimensão inexplorada (Janus SW)


















Para os quarentões, como eu, chamaria este artigo aos moldes do Jornada nas Estrelas: “Devolução de coleira, a fronteira final”; para os mais novos, que não tiveram a chance de assistir às aventuras de Kirk, Spock e demais e aproveitando o ambiente de ação cidadã, eu diria que esse artigo chamaria “submisso, saiba seus direitos”.

Falando sério, na vivência que tenho do BDSM, sempre é exaltado os direitos e prerrogativas do Dominante: porque o Dominante pode decidir tudo em relação ao submisso, porque ao Dominante cabe escolher o lugar onde a sessão ocorrerá, porque ao Dominante cabe a escolha das práticas e por aí vai. Ninguém nega a precedência do Dominador ou Domme sobre a vida e relação do submisso, o que seria uma imensa bobagem.

No entanto, convém refletir: se assumimos a relação SM como tal, ou seja, um processo de interação dado em bases estabelecidas de antemão, provindas de uma negociação (que esperamos seja bem feita), espera-se que as bases que foram assentadas sejam mantidas e que haja algum nível de satisfação mútua e respeito ao indivíduo, tanto ao Dominante quanto ao submisso. Sou um daqueles que não hesitaria em exercitar minhas prerrogativas de Dominante: jamais admitiria que minha submissa adotasse qualquer postura inconveniente, cometesse deslizes de conduta, enfim, não fosse digna de minha coleira.

E a contraparte? O quanto o submisso deve suportar de inconveniências? Ressalte-se que eu não admito, e falo em causa própria, que a relação estabelecida careça tanto de interação entre as partes ao ponto de que não haja uma observação e que não se tenha conhecimento das necessidades, limites e, porque não dizer, inclusive vontades dos que compartilham conosco essa estrada. Assim sendo, não me parece complicado que haja uma “acomodação” entre a extensão do poder do Dominante e o que na verdade o submisso tem como seus princípios porque, afinal, o ser humano que serve deve ser respeitado e exaltado em sua sublime entrega.

E quando isso não acontece? Como dissemos, ao Dominante cabe tomar a coleira do submisso que não O serve condignamente. Da mesma forma, o submisso não deve apassivar-se tanto a ponto de violentar-se em nome do serviço ao Dominante, à medida que a entrega é algo de livre exercício da vontade, uma opção sublime e consciente, um desvelo que avoluma-se a partir da clara consciência de que não há outra alternativa senão colocar-se fisica e espiritualmente de joelhos frente ao Senhor ou Senhora.

Os eventuais abusos por parte do Dominante - e não estou dizendo o rigor e intensidade de práticas já que isso faz parte do jogo - e que torne a convivência insustentável, deixará ao submisso a única possibilidade de devolver a coleira, já que não a conseguirá honrar e a cujo Dono ou Dona não conseguirá servir com a qualidade que o dignifica como submisso. A entrega de coleira é, portanto, um gesto de dignidade e que não precisa ocorrer apenas nos casos que expusemos. Em qualquer percepção na qual não haja clareza que o servir seja feito em bases ótimas e esperadas pelo Dominante, declarar-se incapaz de cumprir o que se quer é um gesto que dignifica o submisso já que honra tanto a coleira que serve com o nome que tem.

Ressalte-se também que caminhar nas bases da honestidade, clareza e respeito sempre fazem desse momento algo que, por mais doloroso que seja, constitua-se como o final de uma relação que, indubitavelmente, ensejará boas lembranças e a certeza de que, até onde foi possível, foi uma relação que apenas trouxe frutos, ensinamentos e lições para as próximas relações, aperfeiçoando o servir tanto quanto o Domínio e nos fará crescer como seres humanos dentro desse imenso mundo que é o BDSM.


Um comentário:

  1. Acho que é uma questão de maturidade:
    Precisa ser adulta o bastante pata aceitar que “não deu certo”. E forte o suficiente para seguir em frente. Pois o caminho ainda será muito longo.
    Beijos de mel
    ursinha

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