Pesquisar este blog / Search in our blog

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre submissão e vinhos (Astharoth de Janus)

Recentemente tive contato com o mundo dos vinhos. Apesar de detida leitura de textos sobre o tema, sobre como identificar aromas e paladares, aprendendo até a reconhecer barricas, madeiras e período de guarda, foi a experiência de tutoria a que mais me agregou na área.

Uma grande amiga me levou a feiras de vinho, me ensinou a ver as variações de cor - de um dourado em um branco envelhecido a um rubi de um tinto cheio de personalidade - e de aromas - a cereja, a baunilha, cravo, canela e carvalho - criando um universo com diversas oportunidades e sabores. Aos poucos, você educa seu olfato e paladar a reconhecer a mistura dessas diferentes sensações para, ao final, criar uma sensação gustativa única e pessoal.

Sim, apesar do reconhecimento dos aromas poder ser universal - sendo que quanto mais experimentado em ervas e sabores for o analista, mais fácil será o reconhecimento das diferentes notas de um vinho - a sensação gustativa da mescla de todas essas informações é um aparato único e mesmo que um experiente sommelier aprecie um determinado vinho, você pode reconhecer o grande valor daquele vinho sem, todavia, apreciá-lo tanto assim. Pode preferir um com notas mais fortes, ou mais frutado, ou conforme até seu estado de espírito em determinado dia.

Comparo a minha submissão e sua construção, assim, à essa experiência de formação de sommelier. Tive um contato inicial com a parte intelectual e estética da submissão, que me atraiu para leituras acadêmicas e literárias, que abordavam desde o aspecto patológico ao prazeroso, de como uma pessoa pode se desconstruir ou pode refazer-se por meio do prazer encontrado de forma pouco convencional.
 
Todavia, a “visita guiada” pelo mundo da submissão e servidão foi o que, de fato, me fez compreender os diferentes sabores e variações, que me fez perceber as diferentes formas de irradiação do prazer ou da dor, que ampliou meus sentidos para a percepção das mais variadas formas de se obter o resultado esperado. A partir daí, pude construir meu repertório e conhecer-me melhor, saber quais "sabores"  são os mais ressaltados e quais são aqueles que não me chamam a atenção, provando de vez em quando aqueles que eu não gostei em outros momentos, para ver se minha percepção a respeito deles mudou.


Somente depois dessa aprendizagem mínima da leitura das diferentes sensações, me senti minimamente capaz de me reconhecer como uma submissa. Por isso, àqueles que iniciam ou àqueles que já enveredam por essa estrada a mais tempo do que eu, somente posso dizer que tornar-se um submisso é como tornar-se um sommelier: você necessita de uma experiência teórica, que o habilite a reconhecer e expandir suas práticas; uma experiência sensorial, que consolide sua experiência teórica e que dê sentido e sabor a tudo aquilo que foi intelectualmente conhecido; e, finalmente, uma consolidação e construção de uma experiência sensorial própria, que firme a sua identidade e te faça conhecer seus limites e limitações.

Obviamente que nada disso é uma regra e não se deu de maneira tão ordenada, por isso a tutoria é tão importante, pois é uma oportunidade de aprendizagem imprescindível para a etapa de construção da submissão. Criar oportunidades de diálogo aberto com um alguém que, reconhecidamente, tenha mais conhecimento que você mas, ao mesmo tempo, te dê espaço para seu crescimento individual torna essa construção ainda mais eficaz. A troca intelectual ordena a parte sensorial.

A submissão assim construída torna o submisso mais confiante em sua prática, mais atento a reconhecer “os vinhos que não o agradam” e a reconhecer-se em constante processo de aprendizagem de novas sensações, pois seus sentidos foram “educados” a reconhecer tal expansão.

Assim, convido nossos sommeliers da fina arte da submissão a apreciar com ainda mais requinte e prazer o saboroso vinho que alcança nossos sentidos apurados.

4 comentários:

  1. É uma brilhante analogia, Astharoth. A medida em que lia aumentava a satisfação em constatar a realidade da sua comparação e o lirismo com que vc a desenhou... emocionante.
    Guardo na memória como um dos melhores textos que li atualmente sobre a submissão em tempos tão escassos não só de textos como de sentimentos.
    Beijos.

    {Λїtą}_ŞT

    ResponderExcluir
  2. Querida {Λїtą}_ŞT ,

    Fiquei sinceramente emocionada ao ler seu comentário. É gratificante poder, mesmo que minimamente, para leituras que serão apreciadas por pessoas como você, a quem admiro muito.

    Grata por sua sempre preciosa presença e contribuição.

    Beijos a você e saudações respeitosas a teu Senhor.

    Astharoth de Janus

    ResponderExcluir
  3. Astharoth seguindo o q disse a vita.. um dos mais belos textos que ja li por esses tempos.. a analogia é perfeita.. :)

    Um texto delicioso e surpreendente.. de uma criatividade maravilhosa..

    Parabéns.. adorei de coração..

    bjs e saudações ao Sr Janus

    ResponderExcluir
  4. Querida ariska,

    Gratíssima por sua leitura e seu carinhoso comentário. Fico feliz em honrar a tradição do Dono de sempre publicar textos que nos tocam e àqueles que buscam este blog.

    Beijos carinhos

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados. Não serão publicados cometários de conteúdo racista, homofóbico, discriminatório de qualquer tipo.
The comments are moderated. WILL NOT be published any commentary with racist, homophobic and discriminatory content against no one and no group.