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terça-feira, 29 de setembro de 2009

A educação dos sentidos - Parte 9 - The education of the senses - Part 9 (Janus SW)

(Para/To: Andrasta Domme)

A sessão terminara e convinha a todos discutirem o que havia acontecido e, ao menos na cabeça de alguns, não era pouco: a nova experiência de aleph, o prazer do seu submisso em outras mãos para a Senhora e, em contraparte, a sensação de proporcionar prazer pela primeira vez durante seu treinamento que tão gentilmente a Senhora lhe permitira fazer com aleph.


Enunciado assim, tudo poderia parecer fácil mas não era, ao contrário, fazia daquelas três mentes e emoções um desvairado conjunto de sensações, variando entre o prazer, a meditação e até certo ponto um arrependimento, cada um em seu papel e realidade.


Enquanto banhava-se, Domme experimentava a sensação de poder ser uma poderosa Dominadora como a Senhora era e essa sensação provocava arrepios na pele, uma diferença perceptível na respiração e um sentimento que a fazia respirar fundo e apreciar o ar.


Por sua vez, a Senhora experimentara um sentimento que desconhecia em sua história dentro do BDSM e isso chamava-se sentimento de posse que não imaginaria ser ferido pela experiência do empréstimo de aleph. Sentia que o gozo de seu submisso não lhe parecesse possível mas a sua concretude lhe alertou de aspectos que todos rejeitam mas que é realidade: o sentimento de posse dirige, inevitavelmente ao aprofundamento dos laços, mais do que o "amor" que se enunciava no mundo baunilha mas continha, inquestionavelmente, todos os elementos daquele.


Aqueles pensamentos fervilhavam na cabeça da Senhora quando ela se dirigia à sala imensa onde faziam suas refeições e as celebrações e que estava impecavelmente preparada por Sua peça que A aguardava ali, sentado e que se pusera em pé quando entrara.
No cruzar dos olhos, alepnh arrepiou-se: sentiu que dali algo do brilho que sempre experimentara nos olhos de sua Senhora mudara de intensidade e o levara a temer tal fato. Perguntava-se qual motivo para aquela perda de brilho e antevia um momento de tensão enunciado de antemão.
Domme por sua vez chega com a feição daquela que estava fascinada pelo mundo que se estendia à sua volta. Começava a perceber com clareza que se não havia o "mar de rosas" havia um universo a explorar que lhe parecia promissor.
Tomaram parte da refeição em relativo silêncio sem, todavia, tocar no assunto da sessão acontecida. A Senhora e Domme retomaram um diálogo sobre generalidades e fizeram com que aleph se sentisse à vontade para intervir quando solicitado.
- A refeição está ótima, aleph, parabéns.
- Obrigado minha Senhora. Fico feliz que tenha agradado.
A Senhora sorriu para seu submisso e aleph permitiu-se sentir menos tenso e mais à vontade do que antes. Domme, por sua vez, percebera que os olhos da amiga perderam um tanto do brilho.


- Senhora... Parece querer dizer-nos algo - disse Domme - O que seria?


A Senhora respirou profundamente, pensou nas palavras, tentou selecionar, ainda que rapidamente, aquelas que parecia querer falar e as quais não desejava sequer pronunciar.
- Querida Domme e meu aleph... Bem sabem vocês que sou uma pessoa que raramente recusa-se a algo que seja novo, ofereça algum risco e mesmo alguma prova para mim mesma mas hoje, sinceramente, acredito ter atingido um limite o qual não deveria ser ultrapassado por ninguém, nem ao menos os Dominadores.


- Qual seria minha Senhora? - perguntou aleph.


- Aquele no qual parece que se perde o controle , aquele no qual tudo o que se sente de mais inquestionável e mais necesário possível seja apenas uma figura de ficção , que o que parece raro é comum e todas essas enormidades às quais não damos o devido valor e acabam por ser imensas.


- Poderia nos dizer o que é, amiga?


A Senhora olhou nos olhos de Domme como se preferisse que a pergunta não tivesse sido feita ou que a resposta não fosse assemelhada a alguém que, enciumado, expõe os demais a uma verdadeira cena de novela.


- Não vou negar, caríssima, que o prazer de aleph quando da inversão torturou-me e me fez sentir, de alguma forma, mais uma no mundo, sem nada que me conectasse de modo especial à aleph. Parece-me insuportável a idéia do prazer que não é exclusivamente consigo, apesar de ter sido uma livre escolha de minha parte.


aleph não esboçou uma palavra que seja apesar de sentir-se de alguma forma atingido com o mal estar de sua Dona. No entanto, saiba-se bem (e a Senhora não constituia exceção) que algo na expressão de aleph denotava um certo sentimento de abandono e , porque não dizer, traição.


- A dimensão do prazer é uma dimensão poderosa, revolucionária, capaz de movimentar todo o mundo e a do prazer no sexo uma das que é capaz de destruir ou construir afetos, desejos e realizações as mais diferentes. Hoje senti-me apenas mais uma com minha peça, tão barro ainda não cozido que ocorreu-me o risco de perdê-la.


aleph, humildemente, pediu a palavra e ela lhe foi concedida.


- Minha Senhora, já que assim me permite chamá-La. Digo-Lhe apenas que dentro de meu coração e de minha devoção, não há lugar para ninguém senão a Senhora e por uma razão que pode parecer simplória mas não é, a de ter-me feito, moldado, soprado em minhas narinas. Sem a Senhora, não sou e jamais serei e não me sujeitaria o que quisesse e a quem quer que fosse, senão pela vontade da Senhora.


A Dona de aleph sorriu com gratidão mas com uma ponta de melancolia e antes de falar, deixou suas mãos ao alcance dos lábios de aleph cujo gesto era assemelhado aos dos gentis homens e cavalheiros que saudavam suas Damas sem beijar-lhes a mão propriamente.


- Não diga isso, caro aleph. Bem sabe que por muitas vezes, você perdeu sua coleira por gestos e atitudes impensadas. No entanto, bem reconhecia em você a nobreza de caráter demandada por qualquer um que queria dominar por isso insisti em você. No entanto, meu querido, nada é para sempre por mais que nos iludamos com o futuro. Cumpre-nos fazer cada dia de nossa convivência, um dia particularmente favorável e cheio de cores para que não nos arrependamos do que pudemos ter feito e não fizemos assim como tirar as lições que nos são dadas aprender.


- Como a de não se emprestar escravos, cara Senhora?


A Senhora riu com um pouco mais de desenvoltura e explicou à Domme que absolutamente tinha alguma restrição incial ao empréstimo. No entanto, o que a surpreendeu foi o fato de que não imaginava estar tão pouco preparada para sentir os jatos de esperma em suas mãos e o prazer estampado no rosto do seu submisso.


- E também pouco imaginaria que aleph sentiria tanto prazer assim! - disse com um sorriso nos lábios, ainda que discreto.


aleph sorriu mais timidamente ainda e disse que nem ela ao menos pensava que pudesse ser assim mas todo o clima que se instalara fizera inevitável o prazer ao ter as entranhas percorridas pelo instrumento, tocando partes as quais quase (ou efetivamente) feriam e outras que provocaram o êxtase como a massagem que a Senhora aplicava em seus testículos e pênis.


Sentia (e isso era fundamental) um prazer moleuqe na cara de sua Dona, na provocação explícita de sentimentos de prazer os quais ele considerava maior do que os próprios. Evocava o serviço em sua mente e o prazer único a quem unicamente estava reservado e a quem servia de corpo e alma , para todo o tempo que fosse permitido.


- Jamais transgridirei uma vontade sua Senhora e sei que , se o fizer involuntariamente, a Senhora conseguirá me guiar para o caminho certo porque não tenho opção senão serví-La.


Mais uma vez a Senhora emocionara-se e concluia , finalmente, que a vida de aleph de fato Lhe pertencia. Relativizando os dramaticos momentos de prazer em outras mãos, tomou a firme decisão de que, apesar de ter amplo mando, restringiria algumas práticas mais sensíveis de aleph com outras Domiandores e outros Tops até o momento que estivesse rigorosamente pronta para tal.


Sabia que , quando determinava-se a criar essa "tolerância", atingir esse patamar elevado, não hesitava em fazê-lo e assim o faria, constituindo aqueles dias aprendizado para todos, inclusive a dupla Senhora e aleph que perceberam a intensidade do que sentiam um pelo outro.


Seguiram o resto da noite tomando vinhos, petiscando, conversando e deixaram as supostas nuvens de tempestade para trás. Ao despedirem-se, disse a Senhora à aleph.


- Descansa, aleph, não é necessário acordar tão cedo amanhã. Apenas lembre-se que deverá estar pronto porque nosso segundo dia exigirá muito mais do seu corpo e da sua alma do que hoje foi exigido.


- Perfeito, Senhora, descansarei. Uma boa noite às Senhoras. Com sua permissão.


- Tem permissão! Boa noite.


Enquanto aleph se afastou, observado por ambas as Dominadoras, a Senhora disse a Domme:


- Caríssima, apronte-se também. Amanhã terá a sua maior prova como Dominadora.


Domme olhou para os olhos da amiga mas dali não conseguiu tirar sequer uma indicação do que a aguardava. Segura, no entanto, de que a Senhora era consciente de suas limitações, ansiava para que a noite pasasse e a tarde viesse para que pudessem exercitar mais uma vez as nuances novas desse mundo.


- Tenha uma boa noite , Senhora.


- Boa noite, cara Domme.


Fecharam-se em seus quartos e as luzes apagaram, causando a plena harmonia com os momentos finais do dia.

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2 comentários:

  1. Adorei a parte 9!!! mas vc e seus ganchos sempre me deixando curiosa! rs
    saudades de vc , mau amigo!
    Preparado para semana q vem??? rs
    bjao

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  2. Janus, meu amigo

    Como sempre, adoro a forma como explora as emoções dos personagens.
    Como as capta e as demonstra de maneira certeira.
    Antes de sermos TOPs ou bottons, somos todos seres humanos e suscetíveis a sentimentos intensos de posse, ciúmes, insegurança, tesão,prazer, culpa (só prá citar alguns mais relevantes que senti em seu texto) e Amor com certeza.
    Importante isso para que não se caia na hipocria de negá-las. Assumi-las não diminui em nada a ninguém,muito pelo contrário.
    Parabéns, pelo lindo conto!

    Beijos,

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