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terça-feira, 1 de setembro de 2009

"Eventualidade": aspectos das ditas "sessões avulsas" no BDSM - Janus SW

A questão da “eventualidade” em nosso meio tem gerado debates apaixonados e que nos permite avaliar que existem não apenas divergências mais algumas hierarquizações, se assim podemos chamar, de práticas que se realizam em um ambiente de uma relação D/s estável (se assim podemos chamar) e as nas quais sequer pode-se falar existir uma relação de dominação e submissão sequer digna desse nome.

Ao meu ver, devemos tomar cuidados redobrados ao mencionar as coisas nessa “elaboração” já que hierarquizar necessariamente implica, principalmente nas questões de julgamento de valor, uma norma ou uma concepção conhecida e reconhecida por todos e cuja condição de majoritária não apenas dita a forma “correta” de se fazer mas também afirmar-se, com convicção, que as coisas são “certas”, “erradas”, “melhores” , “piores”, “normais” ou “desviantes” entre as infinitas possibilidades de se classificar o que quer que seja.

Ao meu ver, nada mais absurdo para quem reclama de não ser aceito ou de ser considerado “desviante”. Portanto (acredito que muitos concordarão comigo) menos do que hierarquizar as práticas, torna-se absolutamente necessário a discussão dos riscos , dos ônus, daquilo que possa servir de alerta e mais, de referência.

Quando falamos em eventualidade, entenda-se que estamos falando das ditas sessões “avulsas”, ou seja, fora de um contexto de encoleiramento, negociação ou qualquer outra metodologia aceita por quaisquer das correntes do meio.

Como já me referi e é conveniente analisar aqui, não se pode dizer, de forma alguma que Top e bottom, nessa condição eventual, estabeleçam uma relação D/s e isso deve ficar claro como espera-se já ser.

Relembremos alguns artigos anteriores onde discutimos que o D/s só aparece quando o desejo de tomar, dominar, ter, encontra uma contraparte no desejo de servir, ser de, possuir a, referindo aqui a legitimação de parte a parte que se constrói , forçosamente com a convivência que, por sua vez, gera conhecimento mútuo gerando o que ao meu ver é fundamental, a legitimação.

Bom que se diga, também, que legitimação nada tem a ver com consenso (podendo, eventualmente derivar dele) mas que tem mais a ver com o reconhecimento no outro das qualidades desejáveis para que a convivência se faça agradável e prazerosa para ambos.

Encantar-se com um Top ou um bottom de forma alguma garante essa legitimação, apenas faz despertar o interesse por sentir o que só nossas práticas propiciam e isso pode oferecer várias vantagens assim como algumas desvantagens que só o encantamento provoca e que podemos discutir (ou não) mais tarde ou em outra ocasião.

De encantar-se a procurar a “ação”, “o calor”, o prazer que só o BDSM provoca são outras 500 chicotadas. Nisso, concordo amplamente com alguns amigos que estavam na Nação BDSM, especialmente o Senhor Lestat e sua menina rianah, quando eles levantam questões de ordem prática da maior importância, principalmente referentes à segurança que, ao menos deseja-se, seja uma preocupação de todos que “desceram para o play”.

Possíveis riscos de acidentes são facilmente imagináveis, vez que pouco ou nada se conhece do “parceiro” e não se tem experiência no “manejo” de situações e do próprio bottom em sessão. Como a menina ou menino reage ao spanking? Quais são as áreas mais sensíveis ao espaçamento? Existe alguma peculiaridade no bottom a ponto de termos de evitar a prática ou determinado “aspecto” que será executado?

Outro exemplo que é relevante e que não implica em corporeidade. Muitos (dentre os quais eu me encontro) adora humilhar. Ótimo, o chicote não canta, a carne não marca e lá vai mas e aí? São evitados os danos? De forma alguma e muito pelo contrário!!!! Quem não convive não tem condição alguma de avaliar se abordar algum tema durante o processo de humilhação pode provocar reações não apenas indesejáveis como também danosas ao bottom e , porque não dizer, também aos Tops.

E que não se iludam os que pensam que apenas uma boa conversa seja suficiente para dar conta da criação de um ambiente adequado para as práticas, afinal , e sem acusar ninguém, qual é a extensão das conversas? Além da profundidade, não há um roteiro ou lista de conferência o que garante que você perguntou tudo o que deve e que também teve tempo de pesar as respostas e dar o devido peso ao que se disse? Pouco provável tal estágio seja alcançado em pouco tempo de conversa.

No limite, pode haver uma grande e perversa construção de uma “imagem” que necessariamente não condiz com o que se realmente é, ainda mais sabendo-se que há um grande “jogo de sedução” rolando solto e que (legitimamente) quer se criar uma imagem que chame a atenção do “bottom” ao “Top” e vice-versa ou, ainda, não necessariamente na mesma ordem.

Portanto, BDSMistas, nada de ir com sede ao pote! Se a vontade é demasiada, uma sugestão de Janus: restringir-se o número e o impacto das práticas. Ao invés de usar aquele chicote australiano que você habilmente usa, que tal trocar por uma chibata que se não faz o mesmo efeito, pode demonstrar ao bottom que a brincadeira pode não ser exatamente a que ele espera? Porque não, com o devido cuidado, praticar coisas mais ligadas ao sensorial, ao sensual, do que propriamente ao hard e ao SM mais puro?

Talvez isso não conduza aos “píncaros” do prazer BDSM mas , com certeza, há garantia da próxima, da outra, de mais uma, até que construam uma intimidade e uma cumplicidade que permitam vôos maiores, mais seguros e mais compensadores.

Especial atenção deve ser dada com iniciantes no meio e aí quero problematizar um pouco mais. Evidentemente, e é desnecessário repetir, a segurança deve ocupar um lugar de honra (ou melhor O lugar de honra) na galeria TOP 2 das preocupações dos Tops.

Para iniciantes, todavia, há um risco adicional, o de não entender ou de se ficar com uma visão distorcida do que seja a própria essência do BDSM. Isso pode implicar em mais um atraso no desenvolvimento tanto dos Tops como dos bottoms, cada um em seu grau de importância e intensidade. O bottom pode pensar que tudo é uma droga e que não quer mais seguir e o Top, cuidado, pode pensar que está “liberado” o que rolar. Nada disso “boys and girls”!

Nesse ponto, seria a questão de não recomendar as sessões avulsas? Olha, sinceramente, no começo talvez sim e coloco talvez por cada um saber onde lhe pisa o calo. Que tal trocar idéias, ir para a masmorra mas apenas observar , enfim, ter mais clareza daquilo que se quer (inclusive se você se sente bem e a fim dessa sua função) para melhor aproveitar.

Quando começar a desfrutar, desfrute com calma, paciência, sinceridade, principalmente essa, para que comece a se criar a intimidade e daí a legitimidade, donde virá a relação D/s. Acredito não dever-se subestimar esse fator, ainda tendo em vista que permitir e permitir-se várias coisas é de um risco e responsabilidade imensas.

Além do mais , infelizmente, como já abordaram La Femme e lilica em seus blogs, há a questão do psicopata, esse ser de difícil identificação mas que deve deixar-nos em alerta para os menores indícios.

Para terminar não alongar-me mais na discussão, abrindo espaço para os que desejam manifestar-se, a sessão avulsa deve ser alvo de uma cuidada e importante reflexão acerca de sua conveniência, de seus ônus e seus bônus e a consciência de que as oportunidades surgem e surgirão para aqueles que realmente buscam.

Como já disse, não quero julgar, apenas expor. Aos que desejam experimentar a emoção de servir alguém, mirem-se no exemplo dos prudentes , aqueles que bem viveram o mundo e também o BDSM e boa sessão. Até porque o que importa , no fim das contas, é o prazer mútuo.

Saudações BDSM.


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Um comentário:

  1. Janus, velho parceiro de combate.
    Belíssimo texto como sempre. Peço que nos brinde postando seus textos também lá no Confraria Br, pela qualidade de suas linhas e pela abrangência de informações, acredito ser de grande valia para a comunidade, como sempre.
    Abraços.
    ♠ Lestat D'Ladonia

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