Pesquisar este blog / Search in our blog

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Manual para a minha sub










"Se vc fosse escrever um pequeno manual para sua sub,quais seriam as regras básicas e indispensáveis?" Diana
Abri um "formspring" para que as pessoas colocassem suas perguntas, aquelas que a gente sempre tenta perguntar e nunca consegue e dentre elas, minha querida Diana fez essa pergunta bastante interessante e gostaria de expandir um pouco as considerações que fiz lá naquele espaço que continua aberto à pergunta de todos.
Primeiramente, devo reconhecer que fazer um manual de regras é ter uma visão completa do que se quer o que é muito complicado quando se refere a relações. Obviamente, há um contexto ditado pela liturgia, esse elemento constituinte do BDSM, seu eixo norteador, sua caracterização mas, obviamente, que não esgota a "questão".

As regra ditadas pela liturgia são básicas, estão extremamente acessíveis e astharoth, com menos experiência já domina seus princípios básicos. Fico pensando como ir além, como dar conta dessa dinâmica, dessa construção coletiva e gerar "regras" gerais que possam ser usadas por minha menina e eventualmente por outros que se beneficiem do meu conhecimento que compartilho com vocês e seguir aprendendo com as respostas que vocês postarem?
Tem coisas que até parecem lugares comuns mas tornam-se fundamentais ao menos na minha ótica. Vamos ao "Manual":


1. Seja honesto(a) com seu Dono(a)
Em uma sociedade onde ne sempre a verdade foi um requisito essencial, onde falar o que se pensa faz com que você perca mais do que ganhe chega a ser uma proposta ousada pedir para alguém, em posição de submissão, seja honesto(a) com o dominante, uma vez que nem sempre é permitido ao bottom expressar-se como seria necessário.
Primeiramente e mais importante: qual relação queremos construir? Uma submissão baseada na dominação tirânica, sufocante ou em alg0 mutuamente construído, legitimado, acolhido e bem vivido? Particularmente, fiz opção pela segunda e, confesso, que é mais difícil dar conta de uma relação que opõe o "só eu falo" com o "meu(minha) sub fala, eu escuto e decido". Isso significa, na visão de muitos, abrir mão de uma parcela do poder do dominante.

Sou o primeiro a dizer que talvez seja mesmo ou , então, poderia (deveria) argumentar que o direito de decidir nunca saiu das mão do Top mas enriqueceu-se por elementos e considerações vindas do bottom em interação, nunca em superposição.

Não seria eu quem diria que a vontade do bottom deve sobrepor-se ao do Top mas sou o primeiro a dizer que não ouvir o bottom pode significar não ter o domínio legitimado, a sujeição que provoca o prazer e, portanto, tirando casos de dependência extrema, conduzir à devoluções de coleira.
Ser honesto, na perspectiva do sub, deve ser o momento de expressão respeitosa de seus anseios, dúvidas e temores, de uma demonstração que o bem estar do Top nunca deixou de ser um dos objetivos do(a) sub e a confiança é um elemento fundamental nas relações.

2. Lealdade, requisito indispensável

Ser leal não é deixar de discordar, não deixar de expressar suas opiniões, sempre no foro e com o respeito necessário mas é ter em conta que honra, esse elemento fundamental e tão fora de moda, é uma tônica nos relacionamentos e nesse em especial.
Ser honrado é uma distinção a ser perseguida incensantemente e, muito mais do que manter o bom conceito junto ao público, é ter clareza de que se fez todo o possível para manter-se alto o nível e a auto-estima que provém da consciência do dever (bem) cumprido , de poder manter a cabeça alta (mesmo para um sub) em face de qualquer pessoa ou grupo, sempre merecendo a reputação que apenas os melhores podem ter.


3. Convicção do que se é não se confunde com arrogância
A convicção do que se é, de suas falhas mas substancialmente de suas virtudes, não significa, necessariamente, uma postura arrogante. A certeza daquilo que se é só passa a ser arrogância no momento em que se sente que ninguém pode ser mais valoroso do que nós mesmos e que somos a definição mais acaba de perfeição. Fala sério!
Qual é a pessoa que racionalmente e com honestidade consigo mesma em algum momento de sua vida? Da mesma forma que não há problema algum, também é muito bom saber-se um aprendiz e falível em muita coisa, fazendo-nos pensar e repensar muito a nossa prática e, principalmente, os nossos valores.
Isso vale tanto para bottoms como para Tops sabendo-se da consequência dos atos e estando pronto para arcar com o preço de nossas decisões.

4. Ninguém é obrigado a fazer o que ameace sua integridade física e mental
Será que isso vai criar polêmica? Gostaria de imaginar que não mas tenho certeza que sim, haverá polêmica. Lealdade será sempre uma via de duas mãos: sim, o bottom sempre terá de ser leal ao seu Dono(a) assim como encontrar no Top a recíproca.
Haverá alguma diferença entre a crueldade pura e simples e o desinteresse do Top por seu bottom? O que isso significa? Qual resultado se obtém? Onde o próprio bottom chega com isso?
Acredito que o grande mérito da escravidão moderna praticada dentro do BDSM é incluir a possibilidade de se ter em conta a dimensão humana do bottom, sua história de vida, seus conceitos e princípios de vida que, longe de limitarem a ação do Top, oferecem uma linha segura de ação que preservará não apenas sua legitimidade enquanto detentor do poder mas também o torna uma pessoa respeitada para seu bottom e para o meio onde vive.

5. BDSM não é uma democracia
Muitas pessoas, especialmente bottoms, têm a tendência de esquecer-se um fato muito simples, o de que ao contrário de nossa sociedade, o BDSM não é uma democracia onde todos têm voz com a mesmo "valor" , ao contrário , é uma estrutura hierarquizada e colocada nos termos "eu mando, você obedece". Simples assim.
Isso não significa que o Top não deva ouvir seu bottom e como dissemos no tópico anterior isso torna-se um fator de grande utilidade para quem decide mas aí entra algo que eu costumo chamar de "poder do príncipe" (maquiavélico assim mesmo), o direito e até mesmo o dever de dar a última palavra, o que decide.
Respeitosamente, o bottom pode e deve encaminhar ao seu Top as suas questões e demandas (conquanto tenha permissão para fazê-lo) mas deve entender que o direito de voz que é dado não implica, necessariamente, em acatamento.
Se o que não foi acatado é essencial para a continuidade do serviço a única solução é a devolução da coleira que é um recurso não apenas possível mas desejável já que do bom serviço decorre o bom conceito do bottom para sim mesmo (principalmente) e para o meio.

6. Ter postura, sempre.
O que é afinal um bottom de "postura"? Na minha visão a resposta tem duas variáveis: 1. a do bottom que sabe o seu papel e o vive de forma litúrgica e adequada aos princípios de seu Top e 2. sabe que desta postura decorrem seu bom conceito primeiramente frente ao seu Top , para si mesmo e , finalmente, para o meio onde exercita sua prática.
Isso passa por atitudes simples como pedir permissão para o Top para retirar-se , pelo motivo que seja, do lugar está até o relacionamento com outros dominantes e subs que estejam no mesmo espaço, entre milhares de outras possíveis variáveis.
Isso denota, como já disse, respeito consigo próprio e com seu Dono(a). Nada mais importante do que isso.

7. Discrição
Poderia não ter criado esse tópico já que está contido no sexto mas gostaria de dar um destaque especial à esse fator já que muitas vezes, da observação de Tops e bottoms decorre que muitos bottoms não adotam uma postura discreta.
Esclareça-se que com discrição não desejo falar da anulação da personalidade e das características mais espontâneas que elas podem conter. No entanto, reflitamos: como submisso(a), como subordinado(a) à um Top não seria conveniente uma postura discreta sem ser apagada, mantendo os princípios litúrgicos que norteiam o BDSM?
Se quiserem pensar em termos "baunilha", diríamos que ser discreto é, principalmente, um gesto de elegantemente seguir a etiqueta requerida em cada espaço. Tenho dezenas de exemplos de subs, homens e mulheres que impõe-se pela discrição, pela delicadeza e pelo tato no relacionamento público com seu Top, atraindo a admiração e o respeito dos que os cercam.

8. Cuide de sua saúde física e mental
Como switcher tive oportunidade de entender o quanto é necessário que estejamos com a saúde "em dia" tanto fisica como mentalmente. Servir é uma das atividades mais exigentes que eu conheço dentro do BDSM, principalmente pelo fato de exigir disponibilidade constante e imediata que , em tese, pode ocorrer a qualquer momento da noite ou do dia.
Poderíamos servir sem ter condições físicas para suportar as demandas sejam elas quais forem? É pouco provável e isso talvez seja tão frustrante ao bottom como ao Top.
Manter, portanto, as condições de saúde física e mental adequadas vêm em abono do próprio bottom e orgulho para seu Top evitando que esse último tenha preocupações excessivas com algo que poderia ser cuidado pela sua peça.

9. Obediência, Devoção, Lealdade
Sobre lealdade já tivemos oportunidade de conversar mas gostaria de ressaltar outros dois fatores que considero indispensáveis e importantes de serem firmados nesse artigo: obediência e devoção.
Obediência poderia falar por si mesma mas é bom que se ressalte não haver limites para a obediência devida a um Top por seu bottom. A palavra do Dono(a) é lei para o(a) sub, obviamente enquanto ele(a) se sinta respeitado(a) enquanto pessoa que é.
No fim da história, o resumo é simples: se tem alguma objeção à ordem dada, peça para ser ouvido(a) e, em sendo, apresente respeitosamente suas objeções com a consciência que pode ou não ser atendido.
Em não sendo ouvido ou não sendo atendido, ressalto, repito, reitero, em havendo qualquer ameça significativa à saúde física ou mental e essas condições perdurarem, a devolução da coleira não é só uma direito mas como um dever para si próprio e nenhum bottom deve hesitar em fazê-lo por mais doloroso que seja.
A devoção é uma condição essencial para que a submissão aconteça. A admiração é um fator essencial para colocar-se de joelhos, ao menos de forma voluntária como é no caso do BDSM. Fora da coação, da força, pessoalmente não consigo conceber nenhuma submissão duradoura que não seja baseada na forte percepção que o Top de fato o é, está acima de todos e acima do bottom, posição que lhe é conferida pela legitimação de seu domínio e pelo bottom não ter outra alternativa senão a irrestrita obediência.

10. Estude, troque idéias, pense e repense sua prática
Tirando alguns princípios básicos, raramente apresento algum objeção às disposições e atos de alguns Tops mas, particularmente, não sou contrário ao contato de minha sub com outras pessoas do meio, independentemente de sua posição, obviamente, sempre respeitosamente de lado a lado.
Leituras de artigos de boas fontes, pessoas com atuação no meio e de competência reconhecida são alimentos importantes para uma boa prática BDSM. A supervisão da leitura deve ser feita cuidadosamente pelo Top e os pontos de discordância e de conflito com as práticas eleitas devem ser esclarecidos e monitorados.


Bem, esses são alguns itens básicos e que me ocorrem nesse momento e que para mim norteiam uma prática BDSM intensa e prazerosa para todos. Quanto mais vivemos, mais aprendemos e a lista aumenta.... Logo faço a revisão!

2 comentários:

  1. Caro Janus,

    Como sempre seus posts são excelentes e tão completos que não há muito oque se acrescentar.
    Eu só queria dizer como submissa, que pode até parecer mas isso tudo não é assim dificil de se cumprir. Evidente que erramos lá e cá, mas com uma boa condução, voltamos aos trilhos.
    Na verdade, oque se mesmo é dedicação e vontade de fato de acertar. E uma boa dose de vocação prá submissa tb sempre ajuda, rsss..

    Beijos respeitosos em ti e carinhosos em astharoth.

    lilica{D.E.}

    ResponderExcluir
  2. Meu querido amigo! Por mais que eu escreva nao daria pra dizer o prazer que sinto em ler seu blog...Adorei...uma forma de mostra como podemos nos disciplinarmos tb como Sr e Sras...
    Tds nós dentro de uma relação D/s temos mtas responsabilidades e temos que cumpri-las...Bjs carinhosos

    ResponderExcluir

Os comentários são moderados. Não serão publicados cometários de conteúdo racista, homofóbico, discriminatório de qualquer tipo.
The comments are moderated. WILL NOT be published any commentary with racist, homophobic and discriminatory content against no one and no group.