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quarta-feira, 19 de agosto de 2009

A responsabilidade inalienável do Top (Janus SW)


Outro dia, na hora do almoço, abri mão com bastante prazer das leituras que faço no intervalo de um turno e outro de trabalho para conversar na querida Nação BDSM, um grupo de queridos amigos que reunem-se para algumas discussões ou apenas para um bom papo.

Hoje devo dizer que a discussão era sérissima e ao menos para mim foi de extremo proveito e que, na verdade e em profundidade, versava sobre a questão do SSC, RACK e SSS mas de fato discutia algo mais relevante do que apenas os conceitos enunciados mas falava da RESPONSABILIDADE nas práticas do BDSM.

Acredito que minha posição tenha sido a mais radical entre todas , algo bem típico de um escorpiano igualmente típico mas que demonstra a minha visão de como as coisas devem acontecer e gostaria que atentassem para esse detalhe, importantíssimo: essa é a MINHA visão, construída ao longo da vida dentro do BDSM mas que divido com vocês exatamente no intuito de fomentar a discussão.

Comecemos pelo conceito-mestre, responsabilidade. Não podemos negar que vivemos em um mundo onde ser responsável é apenas um detalhe acessório que deveria ser essencial e que refere-se, essencialmente, em ter claro que existem limites, implícitos ou explícitos na relação com o outro e que, positiva ou negativa, à cada ação e consequência corresponde a um prestígio (positivo) ou sancionamento (negativo) por uma norma seja ela lei ou costume (moral).

Responsabilidade, portanto, tem relação direta com o ato e suas consequências, ressalte-se, referentes à moral (costume) de cada grupo em situações definidas. Nesse mundo onde ninguém sente-se responsável nem por ninguém ou por nada, onde a transgressão à norma vêm de quem deveria zelar pela sua observância, parece, como já dissemos, quase dispensável.

No entanto, devemos reconhecer que vivemos em um mundinho que tem duas características básicas: primeiramente, a capacidade de causar um grande sofrimento mental ou físico e também o fato de estarmos assentados em uma estrutura hierárquica, nada democrática.

Ao meu ver, esse último quisito acaba sendo de extrema importância e deve ser analisado com bastante cuidado e para isso, pasmem, recorrerei a uma das minhas histórias em quadrinhos favoritas, o Homem-Aranha.

Quem conhece a história do famoso Peter Parker lembra-se que por uma omissão dele, o tio Ben que o havia criado acaba sendo assassinado , de onde ele extrai uma lição resumida na frase: "Para um grande poder, há uma grande responsabilidade" (algo assim).

Notemos que Parker sente-se responsabilizado pela morte do tio por ter se omitido o que sempre deve ser considerado uma ação. Da sua (falta de ) ação, decorreu o assassínio do tio querido. Ele teve em suas mãos (quase que literalmente) o poder de evitar algo que lhe afetou profundamente.

Não sei se o exemplo é o mais brilhante mas de forma leve nos introduz duas questões que estão destacadas e que devem merecer nossa atenção: a questão do poder e a questão da ação, seja ela fazendo-se ou deixando-se de fazer.

A questão do poder é a própria essência do BDSM e discutí-lo talvez seja discutir um dos motores da humanidade ao longo dos tempos, seja em que expressão se evidenciar. Em outros momentos e contextos, fica-nos fácil entender a questão da limitação, principalmente se estamos do lado que não detém o poder, muito mais sensível ao fato de ser abusado.

A convenção inicial entre um Top e um bottom, não pode ser vista pura e simplesmente como uma "carta de concessão" definitiva e imutável, apesar de importante e indicadora, na verdade, da adequação do Top ao estilo do bottom que se submeterá caso tenha o mínimo de indentidade quando não sendo absolutamente subjugado, mental e afetivamente.

Isso traz consequências importantes, principalmente quando se considera que poucos Tops, seriamente, admitem limites ao seu poder. Ao encoleirar um bottom, a primeira intenção é a de fazê-lo ir além, de suportar mais, aprender mais, construir mais o que podemos chamar de desenvolvimento pessoal através do BDSM.

No entanto, se admitimos que isso acontece, como poderemos imaginar que seja a postura do bottom nesses momentos? Será que deve objetar a qualquer tentativa do Top em avançar em suas práticas? Foi-lhe concedida a liberdade de reclamar com seu Top a qualquer momento que o chicote cante além do que se convencionou?

Podemos jogar para a platéia e dizer que sim, afinal, parece um absurdo que na nova escravidão, os bottoms não tenham sequer voz. Belo para a platéia mas não resiste a uma análise mais séria e pode ter consequências graves se imaginarmos que a ilusão quase sempre conduz à decepção e ao erro.

Continuo a acreditar, piamente, no ditado popular que diz mandar quem pode e obedecer quem tem juízo. Está bem que existem bottoms atrevidos mas até aí , novidade alguma muito pelo contrário, tanto quanto existem Tops lenientes com os erros e disparates do bottoms.

Esse manda quem pode, obedece quem tem juízo, no nosso meio, é mediado por uma questão fundamental e que deve ser colocada: é dever do Top aferir, inclusive solicitando exames diversos, por exemplo, a sanidade física de seus bottoms. A algum tempo vi no site do Gas Mask (não me recordo o endereço) um questionário semi-traduzido que dava conta de uma boa parte dos problemas eventuais dos submissos.

O b0ttom por sua vez, deve ter consciência de algumas coisas:

1. Honrar a coleira que porta - Isso significa que é uma questão de prestígio e orgulho para seu Dono ou Dona, a manutenção da saúde mental do bottom, até porque, todos sabemos que os rumores e fofocas em caso de problemas, não se fazem esperar, depreciando o Dono(a) na comunidade em que vive, seja ele ou não o responsável por tal prejuízo.

2. Todo o problema de corpo e mente devem ser relatados - Mesmo sendo atribuição do Top manter-se informado ou acompanhando (de preferência) seu bottom em suas necessidades de saúde, em não fazendo, ou havendo um fato fortuito que prejudique o bom andamento da vida de vocês, não deve haver vacilação: diagnóstico já!

3. Não hesitar na devolução da coleira quando achar necessário - Talvez essa seja a solução mais complicada de ser tomada mas é de funamental importância, dado que, se uma relação D/s deve ser plenamente satisfatória e continuamente legitimada, toda a situação que se torne insustentável na relação de Dominação e submissão com gravidade suficiente, deve ser ensejadora da devolução da coleira, por mais triste que possa vir a ser.


Ao ente passivo, demanda-se uma única atividade no quisito que abordamos e recapitulando: o Top JAMAIS deverá ser o último a saber, em nenhuma questão, quanto mais nas relacionadas à saúde.

No entanto, os Tops não devem colocar-se na situação passiva de esperar relatórios de seus bottoms seja em negociação, seja durante o curso da relação. A sua proatividade (chique essa palavra) deve se direcionar de forma que , constantemente, ao notar de qualquer alteração significativa, o bottom seja questionado sobre o que está acontecendo, se há algum problema de qualquer ordem e, além de levar em conta, ver que um dos principais compromissos dele(a) deve ser a da honestiade absoluta com o Dominante.

Ao meu ver, por sua posição hierárquica e como registra os cânones BDSMistas NUNCA, fará da vontade do bottom a sua, exceto nos casos em que haja convergência , onde ela não apenas deve se dar mas como de fato ocorre.

Portanto, se o bottom apenas colcoa-se, submete ao poder decisório ÚNICO do Top, não há espaço para se falar de responsabilidade de bottoms. Existem deveres, existem exigências , há consequência dos atos, todos componentes da responsabilidade mas não cabe à eles e elas interferir nas decisões posteriores de seu superior.

Agora, maturidade é requerida o Top no sentido de que há de se fazer uma distinção clara em ter poder e abusar dele. É legítimo que o Top se faça respeitar em suas vontades, é legítimo que quem saiba mandar, deva encontrar algué para obdecer mas é FUNDAMENTAL que se resgate (se é que a perdemos) a concepção de errar e causar dano ainda continua ser nossa atribuição.

Da mesma forma que adore sair com meu bottom pelas ruas de mãos dadas , ou com alguns alguns "brinquedinhos em ação", mostra-los orgulhosos nos clubes do gênero, há de se ter algum ônus e se assim podemos falar, e o principal deles chama-se RESPONSABILIDADE.

Eu, Top, verifico se tudo vai bem durante a sessão, eu Top, manterei contínua vigilância quanto à saúde de minha peça, EU, Top, planejarei minhas sessões e, mesmo no improviso, manterei acessas as luzes da minha alma para acompanhar qualquer sinal de alteração nos sinais vitais do bottom e de mim mesmo, usando o poder discricionário que apenas os Tops têm em encerrar qualquer prática, a qualquer tempo.


O VALOR DA SAFEWORD


Essa é uma das questões que mais geram polêmica e, como cada um sabe onde lhe pisa o calo, não há uma postura definida e uniforme no meio. Eu já servi uma Dona que tinha uma safe e isso dava conforto mas tive outra que não tinha, submetia-me na convicção de que ela tinha consciência e preparação técnica para fazer o que gostaria de fazer.

Particularmente, com Dommes experientes e que sejam do meu conhecimento, com certeza dispenso a safeword.

Isso é um teste e tanto para o Topque precisará trabalhar dobrado e ter prazer. Ao meu ver, dos mais "softs" ao mais "hards" o cuidado da dimensão sanidade é fundamental. Antes que perguntem: espero ter deixado claro que o dimensionamento dos estados físicos deva ser feito em cada caso, com dada Top e suas atividades e com os bottoms em seu cantinho.

Não tenha dúvidas, Senhor ou Senhora, em caso de qualquer observação que se deva fazer, qualquer decisão a tomar, tanto para começar ou terminar uma prática deve ser tomada sem a menor vacilação. Afinal, quem está disposto a se gloriar dos bônus, deve assumir os ônus, integralmente.

Qualquer tentativa de transferir ao bottom qualquer grau de responsabilidade caso a prática tiver dado errada é, no mínimo, uma grandesíssima covardia! Relembremos o Parker: "Ao poder corresponde uma grande responsabilidade".

Antes que também contestem, existem sinais de sofrimento físico e moral excessivo em quaisquer lugares que se possa entrar, seja em manuais médicos, na internet, bastanto apenas uma boa pesquisa no planejamento das práticas.

Resumindo e abrindo espaço para a discussão: eu não sou daqueles que desacredita que São e Seguro sejam conceitos tão relativos a ponto de serem colocados em prática e nem tão absolutos a ponto de não se adaptarem a cada caso. Mais do que isso: quem manda, manda e quem manda responde, responsabiliza-se.

Quem quer ser Top não pode esquecer-se disso para a alegria de seu bottom e a sua própria. Boa sessão a todos, Tops e bottoms!

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4 comentários:

  1. Bom dia, ao retribuir sua visita e aceitar o convite de vir ler o texto me deparo com uma ótima leitura... Poderiamos ter mais pessoas com tal consciencia sobre suas responsabilidades.

    Saudaçoes SM,

    {Carla}Sir Andersom

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  2. Cara {Carla}Sir Andersom.

    Fico feliz que eszas reflexóes a tenha agradado. Aguardo tanto vc quanto ao seu Senhor nesse meu cantinho.

    Saudações a Sir Andersom.

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  3. Bom dia meu amigo!!! Esse seu texto vem mto de encontro com td que ja conversamos sobre tal responsabilidade, e admiro-o mto por ter esse compromisso em mostrar a tds que cada um de nós precisamos ser responsáveis por tds e quaisquer atos nosso dentro desse mundo BDSM...
    Bjs!!!

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  4. Obrigado pelo comentário Sra.
    Beijos!

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