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quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Temas recorrentes: Liturgia no BDSM (Janus SW)

Q/queridos(as) amigos leitores.
Parece que estou a inaugurar uma nova seção em nosso blogue, a dos temas recorrentes. No entanto, acredito ser importante colocar alguns pontos de vista, sabendo que todos são muito particulares e filtrados pela minha visão de mundo, como sempre.
O tema de hoje é um daqueles palpitantes e cuja escritura ensaieei outro dia mas deixei de lado quando comecei a pensar que estava sendo extremamente repetitivo, situação que percebo, agora, não ser rigorosamente verdadeira.
A primeira questão, na minha concepção, é a própria definição do que seja liturgia. Podemos pensar na liturgia como uma sequência de atos ritualizados que perfazem uma determinada função dentro de um contexto específico.
Sem absolutamente desautorizar tal interpretação,necessário se faz ir um pouco além, considerando a liturgia não apenas uma sequência de ritos mas como um elemento de delimitação de momentos, posturas, papéis, posições hierárquicas e por aí vai, cumprindo uma sequência lógica de eventos.
Para quem tenha alguma prática religiosa fica fácil fazer a correlação onde cada momento do ritual necessita e impõe, sob pena de não o celebrarmos condignamente, uma série de gestos, palavras, atitudes que variam ao longo do rito.
Os advogados também devem estar acostumados não apenas com o rito processual mas também com uma série de condutas e formas de tratamento não apenas desejáveis mas imperiosas frente a algumas figuras como juízes, desembargadores etc.
No BDSM, essa função de delimitação de papéis e instâncias de poder é um dos motivos preponderantes para que se justifique e estruture-se seu conteúdo litúrgico. Não basta a consciência dos praticantes que há uma hierarquia consistente do Dominante e de seu(sua) submisso(a) mas há a necessidade de evidenciar essa relação dentro e fora do "dundegeon".
As formas mais evidentes de simbologia BDSM são as coleiras e as formas de tratamento (Sr. , Sra) e uma certa "etiqueta", ou seja, formas polidas de relacionamento interpessoal e também de como o bottom agirá na presença de seu Senhor ou Senhora.
Note-se que esse fato vai distinguir a liturgia religiosa ou monárquica, duas matrizes fortes das nossas concepções de liturgia, para, à partir desse caráter norteador, permitir aos agrupamentos de Tops e bottoms emprestar à liturgia um caráter específico e significativo, fazendo, portanto, sentido aos praticantes.
Isso causa espanto à muita gente e os leva, erroneamente, a conotar de não litúrgicos aqueles que tomam algumas liberdades em um conceito mais ou menos geral do que venha a ser a nossa querida liturgia.
No entano, tomemos um exemplo até tolo para nossa reflexão: é uma convenção mais ou menos generalizada que os bottoms em sua postura submissa , não olhem para seus Tops "olho no olho", demonstrando assim sua absoluta subalterneidade frente ao Dominador(a) presente. No entanto, o que impede a um Top prescindir desse conteúdo litúrgico? Nada já que é de livre decisão sua o que a peça deve fazer (ou não).
Ao meu ver, resumidamente, a liturgia presta-se às seguintes finalidades:
  • Delimitar de forma clara e visível, dentro e fora do ambiente de sessão, uma hierarquia firme e bem estabelecida onde cada um sabe seus papéis e os cumpre com denodo.
  • Na relação interpessoal, dá caráter e disciplina às formas de relacionamento entre Dominantes e submissos, entre os Dominantes e entre os submissos, estabelecendo e clarificando em que bases esse relacionamento acontece.
  • Pode emprestar um caráter cerimonioso bem definido e com gestualização e outras atitudes que têm contato íntimo com a concepção particular que os praticantes estejam adesos.
  • Ao mesmo tempo que delimita, a liturgia reforça os papéis, contribuindo para a consolidação da relação.

Quanto às objeções que se possam fazer com as particularizações da liturgia, fundamental ressaltar o que já dissemos que a finalide precípua da liturgia é dar um fio condutor onde cada concepção poderá criar seus rituais, suas práticas e o que considerar indispensável para extrair o máximo de prazer desse nosso maravilhoso universo.

Saudações BDSMistas!

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2 comentários:

  1. Dizer mais o que, Senhor? Apenas que a liturgia confere mais uma beleza ao que fazemos. Seria como fechar com chave de ouro. Estouerrada, Senhor?

    Eu acho a liturgia muito importante. Apesar de não ter nenhuma religião, sou bastante litúrgica nos meus atos.

    Besos doces!

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  2. Está mais do que certa, cara Amar. Não apenas beleza mas norte.
    Quanto ao conteúdo litúrgico do seu proceder, eu posso testemunhar...rs.. Ao menos nas relações com outras pessoas. Isso é fantástico

    Beijos respeitosos!

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