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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Caixa de Pandora - Soberba - Parte 1


- Isso não faz o menor sentido...
Uma figura de mulher estava olhando um detalhado desenho de uma sessão sado masoquista de muito tempo atrás. Disfarçado sob a delicada cobertura de purificação, previa a mortificação da carne como a condição necessária e suficiente para a liberação do espírito.
- O que não te faz sentido? - perguntou o homem que estava ao lado dela. - Não sabia que o corpo aprisiona o espírito e isso é conhecido milenarmente? Basta que experimente deixar as marcas indeléveis no corpo para perceber que pouco é essa carcaça que um dia será um repasto de vermes.
Ela virou-se e fitou-o diretamente nos olhos:
- Sem isso, o espírito não tem materialidade. Será que temos de destruir tudo para que possamos ter iluminação mesmo que seja pouca?
- Quem disse "destruir"? - perguntou reforçando as aspas com as pontas dos dedos. - Basta na verdade não concentrar-se nela, exatamente sabê-la frágil para que a sua real essência liberte-se.
Ela sabia que, no fundo, provocar aquele homem que tanto queria bem seria uma grande e inconsequente loucura. No entanto, como dizer-lhe que fartara-se da sanidade que supostamente lhe era oferecida em todas as oportunidades que havia em classificar o inclassificável?
- Consegue me mostrar o que significa essa libertação?
Ele olhou com profunda desconfiança e até certa dose de desprezo para ela e perguntou-se se, verdadeiramente, estava a desejar o que a boca falava.
- Você não conseguiria suportar sequer a décima parte do que isso representaria. Não peça aquilo que não pode suportar.
Ela não acreditava no que estava a ouvir. Seria tão desprezível o seu propósito a ponto de merecer aquele grau de desconsideração? Novamente arguiu, novamente obteve a mesma resposta.
- Fato é que o que você não deseja mostrar, caríssimo, é a sua incapacidade de me mostrar o caminho que fica a dizer aos quatro ventos que é o mais indispensável para o esclarecimento humano, aquele que liberta do corpo a essência mais verdadeira e primeira de todos nós. Basta de palavras!
Ele apertou os olhos e logo compreendeu qual era o jogo que estava sendo travado. Porque ceder a alguém que fazia de uma provocação básica demais para ser considerada sequer relevante.
- Quer mesmo saber o que é isso? Nem sequer teme pelo que possa te acontecer? Tem a dimensão de qual batalha está querendo travar? Claro que não. Soubesse, evitaria-a com todas as suas forças.
- Porque sou indigna de atingir o estado maior?
- Não! Exatamente porque não sabe o que o estado maior possa vir a significar.
- Mostre-me...
- Quando eu desejar e não antes. No entanto, veremos do que você é feita: dispa-se completamente de suas roupas e ajoelhe-se aqui, no caminho frio.
Começou a livrar-se de suas roupas mas foi dito para que se afastasse quando estava a preparar-se e só voltar quando estivesse totalmente nua.
Não demorou em nada para fazer tal coisa e em sua nudez aproximou-se dele. A primeira providência foi colar um pergaminho na boca com a palavra "silêncio" de forma a impossibilitar-lhe qualquer comunicação senão por grunhidos que, classificados como inumanos sequer eram considerados. Em seguida, uma corda de seda atou-lhe as mãos e os pés e assim foi mandada ajoelhar-se.
Para tal, não pode ajudar com os pés a ter a estabilidade necessária para ajoelhar-se de forma tranquila mas soltou-se em um movimento que causou-lhe dor a ponto de querer gritar mas não conseguia.
- Fique calada e pronta.
O que viria a seguir? Pouco sabia, menos era dito. Restava esperar.

(Fim da Parte 1)

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