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quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Caixa de Pandora - Soberba - Parte 2

(continuação)

Quando deixamos nossos amigos, ela estava ajelhada com dores espalhavam-se por seus membros inferiores mas jamais pensou em manifestar quaisquer sentimentos que inspirassem algum sentimento de vitória naquele homem.
O que mais queria? Até onde chegaria? Tomava notas em um caderno com capa de couro durante bem mais de meia hora como se não estivesse ali. Por mais que desejasse que houvesse alguma manifestação, jamais ousaria dar conta de seu desassosego.
- Na Idade Média os açoites eram feitos de couro, no entanto, tinham em suas pontas elementos metálicos em forma de uma pequena bola sendo que algumas, principalmente das pontas, eram feitas em diversos tamanhos para provocar ulcerações as mais diversas possíveis. Os cortes sangravam e pelo sangue se esvaiam não apenas a matéria corpórea mas todo o orgulho e, assim, faziam aflorar a humildade e a penitência de pequenos animais insubordinados como você. Com certeza essa cabeça já está maquinando o quanto a deixaria aí ajoelhada sem qualquer palavra que fosse. Se fez essa pergunta mentalmente , creio que a fez, não ouse repeti-la pois acumulará a desilusão de não encontrar reposta. Aliás, desde quanto o mundo ou alguém nele foi feito para seu prazer pessoal?
Arrancou a fita com a qual estava selada a boca e houve o primeiro grito de dor. Uma bofetada ecoou e calou o choro recém inciado insuflando-a de um orgulho próprio que fora anteriormente retirado e, depois disso, nada foi dito, sequer uma palavra que fosse por mais tempo dispendido em anotações.
- A carne é como o orgulho, um ente que nos salva em qualquer lugar, menos aqui. Aqui, todo o orgulho obstrui o caminho para a livre fruição de nossa essência. O que há de erótico no orgulho? Diga-me! Permanece calada? Como ousa?
Queria dizer-lhe que era , como sempre, dona de si e de seus haveres. No entanto, mais uma vez, dizer isso uniria a certeza do domínio ao impossível de ser dominado. Se parecei ser inevitável a rendição porque prolongar o ato de soberba? Será que a pergunta melhor será feita da seguinte maneira: se a rendição é inevitável porque NÃO prolongá-lo? Decidiu que a rendição seria indesejável, improvável, sem qualquer hipótese de que viesse a acontecer.
Sede... Não iria pedir água! Que quem quer comandar saiba bem a necessidade de seus comandados! Meia, uma, uma e meia, duas horas sem qualquer líquido. Da parte dele, tampouco desviou-se das infindáveis anotações feitas à bico de pena sendo que apenas alguns olhares fortuitos eram dirigidos como constatação de que nada havia se alterado. 
- Não tem sequer o necessário para a sua subsistência mas dedica todo o seu sofrimento à um motivo superior, sem reclamar, sem ao menos ter pena de si mesmo. Sacrifica-se em nome daquele que ainda virá quando tudo estiver acabado e o corpo se desfizer como ente ideal frente às cogitações do cotidiano. Não! Não sucumbirá por mais que esteja pensando que assim será feito. Se tudo basear-se em apenas comer e beber, do que nos distinguimos de qualquer criatura viva que rasteja pelo planeta? Quer liberar sua animalidade? Não! Desnecessária é qualquer resposta. 
Pela primeira vez, levantou-se da mesa, deixou o caderno de anotações e foi para dentro da casa. Trouxe de volta um cocho como aqueles que se dá de beber aos animais e colocou cheio de água fresca não muito distante de onde ela encontrava-se ajoelhada.
- Se quiser saciar seus instintos animais, que seja como um animal.
A sede começava a torturá-la depois das horas sem qualquer líquido e aquela bebida cujo frescor sentia-se à distância a fascinava. Beberia?

(Fim da Parte 2)

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