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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Fetiches e práticas que gostaria de fazer em alguém, que fizessem em mim ou ambas as coisas..kkkkk








Find out where I've journeyed
on the Map of Human Sexuality!
Or get your own here!



Escrava, puta

Passou as mãos na pele da mulher atada , braços para cima, roupas rasgadas que estavam, aos trapos, aos pés dela. Estava preparada para ser completamente usada, todo seu corpo um tributo ao Dono, limpo, perfumado, ainda sem nenhuma marca visível, perfeita, imaculada, totalmente branca...
Os pés levemente levantados do solo foram a primeira parte supliciada, com o chicote com uma lingueta que beijava as partes expostas de ambos os pés. O que era mais doce? A cor que levemente mudava para um rosa e depois para um vermelho tendendo ao vinho ou um breve murmúrio que escapava da boca daquela que se entregara voluntariamente àquele homem? Impossível dizer. 
Os pés um tanto torturados encontraram o solo e pode-se ver uma expressão de dor mesclada ao prazer. Caminhou e sem necessitar de ordem , dizia em voz entremeada à dor:
- Obrigada, Senhor! - olhava diretamente aos olhos de seu Dono  e os olhos brilhavam em esmeraldas torturadas.
Uma ordem, braços colocados para cima da cabeça, os seios perfeitamente expostos, um pequeno pacote com alguns prendedores em metal.
- Segure esse pacote! - disse fazendo com que ela prendesse o saquinho com os dentes de forma que o Dono pudesse pegar cada um dos prendedores e colocasse no bico e na auréola dos seios, a dor, a impossibilidade de gemer, a urgência em murmurar sentimentos e dores, além da submissão.
Nesse momento a documentação da sessão, fotos dos seios, das nádegas, os prendedores coloridos criando "flores" .
 No entanto, havia o último prendedor e para ele estava reservada uma "missão" especial, o de propiciar um resultado que provocava extremo prazer e quase um delírio naquele homem que dominava.
- Abra a boca e estique a língua!
 Pavor , um certo desconcerto , temor, a palavra que quiser porque ela sabia que, de alguma forma aquilo significava mais tortura ao seu corpo e assim foi, um dos prendedores na ponta da língua. Reteve o grito que quis dar em submissão à vontade do Dono mas desejou demais fazê-lo.

- Vai gritar , cadela? Vai? Fale se vai ou não vai! - intimou ante aos movimentos de cabeça que fazia.
 - Não, Senhor... - disse , as palavras saíam sufocadas pela língua esticada para fora. 
- Agora irá sim.. - disse, mostrando um último prendedor de metal trazia no bolso e ao colocá-lo ela não pode reter o grito que abandonou sua boca e também trouxe a farta saliva para além de seus lábios.
 - Cadela incompetente que não retém a saliva na boca! - disse o Dono coletando a saliva e esfregando no rosto da mulher que estava à sua frente como uma forma de uma cruel reprimenda e ali deixou , coletando a saliva para os próximos passos da sessão.

Pegou o chicote e começou a mais torturante dos atos , a retirada dos prendedores com golpes certeiros e gritos inevitáveis. 

- Grite cadela! Grite! - falava entre os gritos e desesperados reclames da mulher que conduzia. 

Chegou e enfiou os dedos na buceta da submissa sentindo-a absolutamente molhada, excitada, louca de dor e tesão, como agradava a alma sádica do Dono. 
Não tirou o prendedor da língua como os outros e nem isso seria viável. Acariciou o cabelos de sua fêmea , aquela que tinha domínio, aquela que lhe pertencia e verificou se os machucados que causara foram algo além do que é devido e não encontrou nada que merecesse mais
- De joelhos, minha puta.
Ajoelhou-se , mãos para trás, boca aberta,o contentamento de um pau enfiado até para a garganta, a saliva escorrendo novamente, a ansiosa e desejada finalização de prazer do Dono. 
Ali, naquele momento, ela era uma puta, uma daquelas que não dizem nada além de não aos maiores desvarios sexuais que propunha quem a usava e a tinha para um prazer inconfessável em dar prazer, em ser uma mulher necessária e de um relevo que, à próprio juízo, achava-se credora.
O pau foi retirado da boca e o leite jorrou em sua boca, rosto e seios e foi coletado gota por gota, até que nada mais sobrasse. 
- Muito obrigada, meu Senhor. Que alegria e privilégio poder desfrutar dessa seiva que o Senhor me dá sem que eu mereça!
Ele nada falou mas intimamente sentia-se, com tão pouco, muito privilegiado. Sabia que podia contar com sua escrava, puta, o que quer que quisesse que ela fosse . Podia não confessar mas tinha profundo carinho por aquela que a servia. Isso tornava tudo mais complexo e feliz.

quarta-feira, 26 de junho de 2013

Retomando o blogue...

Depois de muito tempo sem atividades, esse blog volta à atividade. Espero contar com todos nessa retomada.


After a long time away we are returning to the activity. Count on everybody in this return.


Después de un rato volviemos a la actividad. Sean bienvenidos!

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

En Buenos Aires...



Attención: Esta subasta no es la tradicional. No hay diñero real y los que participan lo hacen en consenso. Es una actividad ludica.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cela de veludo: considerações sobre as relações D/s à partir de um poema de Adélia Prado (Parte 2)

NO BALANÇO DAS TRÍADES

O poema me suscitou emoções muito dadas por fatos que me aconteceram dentro e fora do “meio”. Todas essas coisas, esses fatos, me fizeram ver que o amor e a submissão, o enamoramento e o domínio, são todas facetas distintas do mesmo processo.

Parece-me que algumas pessoas têm resistência máxima em admitirem-se nesse processo de sedução, conquista, realimentação/revisão das expectativas, renovação e inclusive a separação e o distanciamento. Pergunto-me porque e encontro uma resposta que para mim , respeitadas as opiniões divergentes, bizarra: temem os dominadores (as) que a sua autoridade seja solapada por mostrarem-se interagentes no processo que uniu Dominador(a)/submisso(a).
O poema de Adélia, nesse sentido, mostra um antídoto à essa visão torta: é através do sentir-se acolhida, aceita, legitimada que procedeu-se à submissão, à entrega e à sacralização que tornou-se indispensável para atingir-se o estado que fez da personagem uma cultuadora, cuidadora e devota de seu amado.
Talvez falte-nos , ou ao menos para alguns, a visão de uma pessoa em presença, fisica, icônica ou real (segundo o sentimento de cada um) , de um santo. Jogado de joelhos, não pede, implora pelo seu favor. Já presenciei em Igreja de minha cidade, uma mulher que atirou-se ao chão para humilhar-se e pedir uma cura.
A quem mais poderia se tributar tanta reverência e poder senão ao ser que poderia retirar-lhe de sua angústia e de devolver-lhe aquilo que perdera, no caso, a saúde?
A quem mais um(a) submisso(a) consciente de que sua felicidade está diretamente ligada ao ser aceita e legitimada em sua forma de sentir prazer, tributaria fidelidade, desvelo e serviço? Com certeza àquele(a) em quem reconhecesse tal capacidade e tal poder. Portanto, ao meu ver, o enamoramento e a dedicação são os únicos meios de chegar-se à tal devoção, necessitando de um empenho especial por parte do(a) Dominador(a) para que tal estágio seja atingido.
Ao ver alguns casais “BDSMistas” não tenho quaisquer dúvidas que ocorra algo assim. No entanto, se nem no “baunilhismo” isso é norma, não esperaria que fosse possível no BDSM que não tem, em essência, tanta diferença assim das práticas habituais, só tem um caráter um tanto diferente nas práticas.
Isso contempla uma das tríades que H. propôs tão bem, o “Nós dos Nós”. Lembro-me que ali ela pontua que as emoções transcendiam as dores e chegavam à unir almas em algo muito maior , unindo almas e corações. Perfeito!
Passei boa parte da tarde (estou escrevendo na noite/madrugada) pensando o que o masoquismo supostamente afetaria nessa construção que o poema propôs. Concluo que  o masoquismo não aspira consumir-se em si , apesar de poder aspirar a isso eventualmente. No entanto, se prazer causa, carece e espera realimentar-se para tornar a ser satisfatório até quando isso não mais ocorra e transmute-se, eventualmente, em algo mais (ou menos).
Portanto, a concepção do “Nós de nós” está vinculado ao prazer, à dimensão criadora da vida. E a união só se legitima no prazer que aspira e na realização dele.
E o “Tocar as raias”? Será que poderíamos afirmar que “Tocar as raias” é um processo físico, de chegar aos extremos nas práticas? Todos sabem que não. Na verdade, mesmo a prática mais extrema não tem sentido nenhum se não vier secundada de uma profunda ligação erótico-afetiva.
A falta dessa percepção, na minha opinião, empobrece muito o diálogo D/s. Reduzir essa relação em um bate/apanha é empobrecê-la , sem com isso fazer qualquer condenação a quem se proponha a viver algo assim.
E é esse a grande lição que o poema aponta: a submissão talvez não necessite, necessariamente, das práticas mas do grau de sedução que um(a) Dominador(a) tem sob seu submisso(a) e vice e versa.
Alguém tem alguma dúvida que isso também aconteça no enamoramento mais “comum”? Quem confrontado com um(a) “adversário(a)” não empunha todas as armas para afastá-lo? Quem, tendo a “coleira” devolvida, o rompimento do pacto original, não se desestruture? Quem, em separando-se definitivamente do(a) amado(a) não perca o próprio significado de sua vida?
Para encerrar: a maior lição que esse poema nos dá é a da intensidade da entrega, seja no “baunilhismo” seja no BDSMismo. Isso deve inquietar ao nos instigar a pensar em que entrega e que Dominação estamos exercendo. Saber que os mecanismos são sutis e  a prática não pode ser menos sensível à essa sutileza.
Transformar a realidade falsamente árida que o BDSM propõe para uma plenitude que o poema transborda. Algo para a reflexão. Desculpe se essa foi muito extensa.
Saudações à todos.

segunda-feira, 28 de maio de 2012

Fascinação - Parte 2

Olhou diretamente para os olhos de sua peça quando ela agradeceu, aliviada, o fato de seu Dono ter dito que estava feliz em perceber que não abrira a caixa. Ele havia visto e começava a pensar que tanto alívio assim apenas poderia se passar se houvesse algum temor em que o oposto fosse percebido.
- Conhecendo você fico surpreso por sua perseverança , minha escrava... A menos que não tenha seguido minhas ordens à contento. Posso ver em seu rosto uma sombra que me faz pensar que tudo o que disse talvez não seja a realidade. Dispa-se completamente, coloque suas roupas naquela poltrona.
Assim procedeu, deixando sua pele alva exposta aos caprichos de seu Dono. Ele tomou os braços e os prendeu suspensos para cima deixando-a mais à mercê do que pudesse parecer.
- Você sabe minha menina, nada pior do que um Dono desconfiado e sabe porque? Quantas vezes você me viu perdoá-la por algo?
Ela engoliu em seco.
- Nenhuma vez, Senhor.
Ele pegou o chicote e começou a "acariciar" o corpo de sua submissa. Deslizava a lingueta do chicote de equitação de forma a ao mesmo tempo que nada fazia, a fazia sofrer pela expectativa da batida.
- Minha doce menina, pergunto mais uma vez. Você abriu a caixa.
- Não, Senhor, não abri!
Uma chicotada soou em sua cintura, fazendo com que se agitasse quase tirando os pés do chão dada a surpresa já que seu Dono ficara fora de seu campo de visão.
- Se me diz que não abriu.... Não! Algo está muito errado. Não é verdade?
- Não sei o que quer dizer, Senhor...
- Abriu a caixa? - mais uma chicotada estalou em suas nádegas.
- Não, Senhor...
Ele deslocou-se até uma caixa onde guardava seus acessórios e tomou um prendedor de mamilos unido por uma corrente pequena. Colocou no seio direito e atarrachou de forma que os mamilos ficassem mais pressionados, primeiro do lado direito e depois à esquerda. Puxava lentamente a corrente de forma a assegurar-se que os prendedores estavam firmes nos bicos.
- Vou ajudar a sua reflexão acerca dos seus atos.
Depois de dito isso, acendeu uma vela vermelha e sem pressa pingou muitas gotas por sobre os seios causando uma dor que ela sabia que deveria reter para si para não atrair mais ainda uma ira que sentia que ia crescendo. No outro seio, aplicou a cera azul que também causou dores de mesma intensidade e igualmente retidas.
- Ser teimoso e inconsequente é um submisso independente de seu sexo! - disse o Dono provocativamente. - Porque não confessa seu pecado?
- Senhor, eu não abri a caixa, é verdade...
- Não? - disse desconfiado - Huuuuum....
Um pequeno plug foi inserido em seu ânus sem lubrificação que se esperasse, apenas uma pequena para não ferir aquela parte sensível. Murmurou quase imperceptivelmente mas não podia reter aquela expressão de dor que a fazia agitar-se um tanto.
- Não me insulte mais, coisa... Diga-me , imediatamente: abriu a caixa ou não!
- Não abri , Senhor, apenas... - estancou.
- Apenas o que?
- Movi um pouco a tampa mas sem a menor oportunidade de ver o que havia dentro...
O Dono nada falou; tomou em suas mãos o chicote  longo e tomando distância, chicoteou-a incessantemente, apenas dando o tempo para que o corpo contorcido voltasse ao seu lugar.
- Uma pessoa sem decisão, sem firmeza de caráter é um corpo que deve ser educado para ser o que deve através da mortificação da carne que apenas um Dono de coragem deve aplicar e o submisso de juízo deve aprender. Abriu a caixa?
- Não totalmente, Senhor , mas quase abri, Senhor....
- Muito melhor agora... Admitiu sua culpa... Vamos brincar um pouco.
Eletricidade é uma disciplina maravilhosa, permitindo fazer uma corrente de baixa voltagem e considerável amperagem, passar provocando sensações de choque simplesmente torturantes. Um pequeno toque em uma parte do corpo, a eletricidade passa, o corpo se revolta contra a sensação de contrações sutilmente controladas, fazendo com que lágrimas, em algum tempo, também corressem.
- Adianta pedir perdão para mim, cadela?
- Não, Senhor... O Senhor jamais perdoou nenhuma de suas submissas e nem à mim!
- O que então você deve fazer, cadela?
- Obedecer, Senhor, obedecer!!!
- Muito bem! Tempo para meditação...
Desligou a luz e deixou-a amarrada onde estava. Acendeu seu cigarro que enrolara um fino fumo importado, com cheiro agradável mas que naquela circunstância servia apenas para estimular o sentimento de presença inacessível e para completar a sutil tortura, colocou um echarpe dobrado a guisa de venda. 
- Não se mova...
Fez com que seus passos fossem ouvidos mas seguia fumando e permaneceu em rigoroso silêncio. Passaram os minutos, um, dois, três, quatro, cinco , seis , sete , oito, nove, dez, once, doze, treze, quatorze... 
Começou a mover-se lentamente procurando referências quase impossíveis e tanto era assim que não as encontrou. O tempo passava sem piedade e causava as mais desconfortáveis sensações. 
Imaginou ter ouvido um pequeno movimento e um zunido passou-lhe próximo ao ouvido direito.
- Senhor?
Um rápido movimento de chicote estalou em suas nádegas e pela surpresa gritou sendo que por isso tomou mais uma, mais outra e mais outra chicotada. 
Sob suas vendas percebeu que a luz novamente fora acessa e a venda tirada sem permitir que seus olhos acostumassem-se à luz. 
- Gritou , cadela? Abra a boca e tire a língua para fora! Agora.
Fez o que fora ordenado. Ele tirou uma dúzia de prendedores de roupa de plástico cuja tensão era suficiente para prender a roupa e ....uma língua. Pequenos, um depois do outro foram colocados na ponta daquela língua que não explicara claramente o que acontecera, até gastarem metade dos prendedores disponíveis.
Junto com a dor, a humilhação da salivação inevitável, que cobria os seios, corria em um fio de saliva sem qualquer paradeiro. 
- Para que saiba que não admito meias-verdades ou meias-mentiras. Fale o que for perguntado, a sua intenção, não tema o castigo, tema a inverdade. Compreendido?
Um grunhido substituiu a aprovação e foi pedido que repetisse até atingir a compreensão que deseja o Mestre e Senhor.
Deixou-a novamente para ir à casa de banho e retornando, pegou a adaga cerimonial com qual toda a cera que pingava sobre os seios e barriga fora derramada. Consegui sentir o gume da adaga, a saliva a correr, mais e mais se aproximando dos sensibilizados mamilos que ainda tinham as tenazes.
Pacientemente foram tiradas toda a cera e a pele mostrava um tom avermelhado. Uma bisnaga espalhou álcool canforado que apesar de aliviar e higienizar o local, causava uma dor que não podia ser expressa e também não pode ser expressa a dor quando as tenazes liberaram os mamilos que também receberam a substância que era jogada pela bisnaga.
O que faltava? Os prendedores da língua. Foram retirados um a um aos puxões e deixaram uma incômoda e lastimada dor que não cessava. 
- Tem algo a dizer, cadela?
Engoliu a saliva que tinha na boca, respirou fundo e pode pronunciar as palavras que a sufocavam. 
- Obrigada , Senhor, por ensinar sua cadela a agir da forma que o Senhor espera  e que dignifica a sua coleira.
Desatou as mãos e liberou-a recomendando que tomasse um banho regenerador e se vestisse e o sutiã oferecia uma dor adicional que carregaria consigo.
- Gostaria de saber o que há na caixa, cadela?
- Se assim me permitir, Senhor.
Deu-lhe a caixa que causara tanto sofrimento pela curiosidade insatisfeita. Esperou ansiosamente que a ordem para abri-la finalmente lhe fosse dada e quando ela veio, abriu-a devagar. Qual não foi sua surpresa quando viu que naquele pequeno recipiente que causara-lhe tanto dor havia o que menos esperava: NADA.

domingo, 6 de maio de 2012

Fascinação - Parte 1

Saltos que marcavam seu ritmo no piso de madeira e finalmente entrando na habitação onde um homem encontrava-se sentado à espera. No restaurante elegante havia poucas pessoas distribuídas nas mesas do salão, desfrutando das finas refeições oferecidas pelo estabelecimento. 
- Bom dia, Senhor. 
- Está atrasada! - disse consultando o relógio - Porque?
- Um acidente na Marginal e o trânsito complicado nas cercanias. Não adiantou em nada sair uma hora mais cedo como me ordenou.
- Espero que hoje á noite não se atrase. Não há nada mais irritante do que esperar quem quer que seja. Escolhi seu prato para que não atrasemos mais na volta ao nosso trabalho.
- Grata, Senhor. 
Conversas amenas, quase esquecidas dos contextos implícitos e explícitos da situação que poucos conseguiam perceber. Poderiam dizer, sem sombra de dúvida, que era um casal absolutamente normal.
O almoço continuo rigorosamente normal, primeiro prato, prato principal, sobremesa e café. 
- Satisfeita?
- Sim, Senhor! As escolhas foram absolutamente maravilhosas. Muito obrigada!
- Fico feliz que tenha gostado. Quero muito que você use isso que está dentro desse estojo. Não abra aqui e nem em qualquer momento antes de usá-lo. 
- Sim, Senhor.
- Outra coisa:  não ouse abrir esse estojo antes do tempo determinado porque eu saberei. Você não sabe esconder nada e eu sei como tirar a verdade de você, portanto, não aventure-se.
- Sim, Senhor, como desejar.
A conta foi fechada e caminharam ambos em direção ao estacionamento. Quando o carro dela foi trazido antes do dele, esperou que ela se sentasse e discretamente ofereceu sua mão para a reverência protocolar, um sutil beija-mão.
Aquele estojo branco exercia uma fixação sob ela e o Dono sabia disso, decidindo dessa forma a maior prova que poderia demandar dela. Cada parada nos sinaleiros era uma tortura, passava as pontas dos dedos pelo estojo, era uma fascinação inacreditável que fazia, inclusive, ser um elemento da profunda excitação na qual se econtrava. 
Chegou ao seu trabalho, pegou o elevador e o celular toca:
- Onde está, escrava?
No elevador cheio respondeu baixo que estava no elevador do trabalho.
- Trouxe a caixa consigo?
- Sim, Senhor! Trouxe aqui e está em minhas mãos.
- Não ousou abrí-lo, né?
Aquela pergunta, aquela voz , a entonação a excitava e aquilo não era apenas uma posição mental, era também física e conseguia sentir a umidade tomar-lhe o sexo, além da boca seca, da vontade de ajoelhar-se ali mesmo e render tributo àquele homem imensamente forte.
- De forma alguma Senhor, eu não ousaria!
- Assim, espero. Boa tarde!
- Boa tarde, Senhor.

Que tarde! Em sua empresa era uma comandante firme e séria o que, para os desavisados, poderia parecer uma contradição com seu papel de submissa, o que não chegava a não ser uma surpresa mas era absolutamente incorreta.
Naquela tarde,pouco pode ou conseguiu conciliar as tarefas com a ansiedade que a invadia por conta da sedução do objeto que não via, da sessão que viria, do que Ele faria com seu corpo e sua alma que Lhe pertencia.
A caixa, a caixa, a caixa... Ousou quase a abrir, mas imaginou as dores que poderiam advir daquele fato pela simples curiosidade que teria de controlar. 
O celular toca:
- Não fale nada, não precisa. Cuide-se em não deixar a curiosidade te dominar. Há uma pequena caixa dentro de sua caixa de correios, é um sabonete,tome banho com ele. Ontem te deixei uma caixa com uma roupa específica que espero que também não tenha aberto. Vista-a e apresente-se no lugar determinado. Boa tarde!
Que vontade imensa de responder, fazê-lo saber o quanto o idolatrava, era seu Dono de fato, de direito, uma coleira que estava posta e não seria removida senão se Ele quisesse.
Passaram-se uma, duas , três horas, final do expediente. os papéis rapidamente colocados, celular mais uma vez:
- Ainda aí? Não ouse atrasar-se!!!
- Sim, Senhor.
Dirigiu com velocidade para que não chegasse fora do tempo requerido. Estacionou o carro, abriu a caixa de correios, pegou a caixa, tomou cuidadosamente um banho, encontrou uma roupa maravilhosa de couro branco e botas que modelava seu corpo e a fazia com que apenas realçasse sua bela pele morena, cabelos negros e botas da cor da roupa.
A ida ao ponto de encontro com seu Dono requeria menos tempo para ser atingido do que o caminho que anteriormente fazia. Não estava autorizada a parar na frente do local do encontro mas mais uma vez utilizando o celular indicou onde estava e recebeu a ordem de entrar com o carro na garagem, estacioná-lo, tomar o corredor à direita e entrar na habitação onde transcorreria a sessão. Ao chegar, uma voz na meia penumbra ordenou que preparasse o ambiente, colocasse todos os objetos sobre uma mesa mas que ainda não abrisse a caixa que mantivera consigo e a fascinara completamente.
- Muito bem, menina! Vejo que a caixa não foi aberta, parabéns. 
- Obrigado, Senhor.
Ocupou seu lugar em uma confortável poltrona e ela sabia o que isso significava, era hora de servir. 

(Fim da 1a. Parte)

sábado, 24 de março de 2012

Cela de veludo: considerações sobre as relações D/s à partir de um poema de Adélia Prado (Parte 1)


Para o Zé

(Adélia Prado)

(em Poesia Reunida, Editora Siciliano, S.Paulo, 1991, p.99)

“Eu te amo, homem, hoje como
toda vida quis e não sabia,
eu que já amava de extremoso amor
o peixe, a mala velha, o papel de seda e os riscos
de bordado, onde tem
o desenho cômico de um peixe — os
lábios carnudos como os de uma negra.
Divago, quando o que quero é só dizer
te amo. Teço as curvas, as mistas
e as quebradas, industriosa como abelha,
alegrinha como florinha amarela, desejando
as finuras, violoncelo, violino, menestrel
e fazendo o que sei, o ouvido no teu peito
pra escutar o que bate. Eu te amo, homem, amo
o teu coração, o que é, a carne de que é feito,
amo sua matéria, fauna e flora,
seu poder de perecer, as aparas de tuas unhas
perdidas nas casas que habitamos, os fios
de tua barba. Esmero. Pego tua mão, me afasto, viajo
pra ter saudade, me calo, falo em latim pra requintar meu gosto
Aprendo. Te aprendo, homem. O que a memória ama
fica eterno. Te amo com a memória, imperecível.
Te alinho junto das coisas que falam
uma coisa só: Deus é amor. Você me espicaça como
o desenho do peixe da guarnição de cozinha, você me guarnece,
tira de mim o ar desnudo, me faz bonita
de olhar-me, me dá uma tarefa, me emprega,
me dá um filho, comida, enche minhas mãos.
Eu te amo, homem, exatamente como amo o que
acontece quando escuto oboé. Meu coração vai desdobrando
os panos, se alargando aquecido, dando a volta ao mundo,
estalando os dedos pra pessoa e bicho.
Amo até a barata, quando descubro que assim te amo,
o que não queria dizer amo também, o piolho.

Assim, te amo do modo mais natural, vero-romântico,
homem meu, particular homem universal.
Tudo que não é mulher está em ti, maravilha.
Como grande senhora vou te amar, os alvos linhos,
a luz na cabeceira, o abajur de prata;
como criada ama, vou te amar, o delicioso amor:
com água tépida, toalha seca e sabonete cheiroso,
me abaixo e lavo teus pés, o dorso e a planta deles
eu beijo.

Calma! Você não lerá um artigo acadêmico por dois motivos: aqui não é o espaço e não tenho cabedal para fazê-lo. Vou apenas tentar compilar algumas coisas que eu escrevei para ninguém ler e o tanto que está em minha cabeça à partir de algumas experiências D/s que vivo.
Porque chamar essa série de reflexões de “Cela de Veludo”? Primeiramente porque o poema lindíssimo de Adélia Prado trata muito de submissão e, como é (ou deveria ser) regra, uma submissão voluntária como pode-se facilmente notar. Em segundo lugar, porque é uma cela confortável, que não tem a intenção de provocar um dano físico ou mental de alguma monta.
Como acredito ter esboçado na minha primeira intervenção, o poema é reconhecidamente “submisso”, estando a palavra entre aspas por uma assunção de que no “diálogo amoroso” não deveria importar (ao menos idealmente) um exercício de poder explícito mas eventualmente construído na dinâmica das relações.
Tudo muito bem, tudo muito bom mas Janus, o que tem isso a ver com o BDSM? – podem dizer os mais apressados. Apesar do que há de peculiar no relacionamento amoroso comum (baunilha?) e no relacionamento Dominador(a)/submisso(a)? Para mim ambos guardam, no fundo, grandes similaridades e igualmente grandes diferenças.
A primeira similaridade, ao meu ver, refere-se ao processo de sedução. Por mais que possamos (queremos?) negar, o processo de “negociação” é na verdade um processo de sedução baseado em características de personalidade pré-existentes e que começam a ser construídas/reconstruídas e/ou moldadas durante esse mergulho no mundo do fetiche.

Um parêntese: tenho visto muitas intervenções em várias comunidades, discutindo se a submissão é construída ou conquistada do submisso(a). Dentro da minha experiência, vejo que a submissão, no BDSM, é uma expressão sistematizada de algo que sempre esteve presente na personalidade do submisso, algo que os psicólogos e demais profissionais de áreas afins podem explicar com mais competência do que eu e acredito piamente que o mesmo valha para os Dominadores(as).
Isso ao meu ver, tem implicações fáceis de serem previstas mas que não tenho visto serem enunciadas: há um processo legítimo de “enamoramento” do Dominador(a) por seu submisso(a). Isso não é novidade? Ufa! Que bom! É novidade? Vamos expandir um pouquinho.
Deve dar calafrios em determinadas pessoas saberem que de repente se enamoraram de seus parceiros BDSM. Isso é rendição ao “baunilhismo”? De forma alguma.
Recorro ao meu “Velhíssimo Dicionário da Língua Brasileira” para achar a significação do verbo “enamorar” e encontro:

“ENAMORAR, v.t. Encantar; enfeitiçar; apaixonar; p. Deixar-se possuir por amor; apaixonar-se; enlevar-se”.

Uia! “Deixar-se possuir por amor”??? Caraca! Porque não “deixar-se possuir pelo desejo” ou “deixar-se possuir-se pelo fetiche” ou finalmente “deixar-se possuir-se pela entrega”? Será que invalida o argumento trocar as palavras? Ao meu ver, não, muito pelo contrário, porque deixar-se possuir é entregar-se (mesmo vocês senhores e senhoras Dominadores e Dominadoras!!!!!). No caso do submisso, essa entrega ocorre no universo do servir e no caso dos (das) Dominadores(as) no receber o gesto de servir.

Sei que muitos vão “torcer o bico” ao ler essa frase mas ao menos para mim, é o que acontece. Mesmo o mais sádico dos dominadores (as) sofrem ou são agentes de um processo de sedução que leva ao enamoramento versão BDSM.
O mais importante é assumir , e não vejo nenhum problema nisso, que somos enamorados de nossos(as) submissos(as) em diversos graus de envolvimento. Assim é a vida e não há porque negá-la.

PASTOREANDO NOS CAMPOS BDSMISTAS

Se não é tão ofensivo ao nossos pudores e conceitos que nos apaixonamos e nos envolvemos com nossos parceiros BDSMistas , vai ficar mais fácil a gente ver o grande contato que há do poema baunilha com os nosso processos de negociação e vivência dentro do BDSM.
Com certeza o “José” do poema é um homem poderoso em sua sutileza e na expressão do seu amor à personagem do poema. Não podemos perceber (ao menos eu não percebo) nenhum sinal de sofrimento ou de dor , ao contrário, transmite-se uma sensação de plenitude que faz com que a personagem viva em intensidade o bem-querer à ponto de colocar-se de “joelhos” ante ao objeto (ops!) de seu amor.
Como já disse anteriormente, a personagem coloca o seu amado em uma altar, há uma sacralização dele de forma inquestionável. A frase do poema “Te alinho junto das coisas que falam uma coisa só: Deus é amor”, vai além dos limites simplistas de uma relação amorosa e coloca no amado a potência de proporcionar não apenas a felicidade mas a “redenção” através dessa experiência, transcendendo os níveis “normais” de uma relação, tocando outra poetisa fantástica, Florbela Espanca, no seu fabuloso poema “Fanatismo” onde ela declara mais explicitamente: “Por que és como Deus, princípio e fim”.
Nesses casos, detecta-se no amado a capacidade de prover o “manjar dos deuses”, o “Maná do deserto”, donde obtém-se a graça (no sentido religioso) e o favor indispensáveis à plenitude de quem ama, portanto, legitimando o servir.

Ops! Cheirinho de BDSM no ar? Huuuuuuuuuum… Estou aqui curtindo-o! Cheiro doce da construção da submissão através da “exposição” (muitas vezes nem tão exposta assim) de um “plano de vôo” que faz subir aos céus, mesmo experimentando uma sessãozinha hard de spanking…rs…
Se o exposto está minimamente coerente, podemos escrever assim: “A relação D/s constituí-se de um processo de sedução onde o(a) submisso(a) coloca o seu Dominador(a) como o único agente que pode, não apenas usufruir de sua submissão, mas de justificá-la, legitimá-la e dar-lhe corpo.
Os cariocas como a Helena diriam: “Que responsa, mermão!!!” Pois é! Pois é! Não vou nem dizer que ser Dominador é mais fácil do que ser submisso porque sei que essa discussão não tem pé nem cabeça até porque , como diria Caetano Veloso, “cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é”, uma frase lapidar. No entanto, isso pode suscitar uma discussão (em outro lugar e momento) se os Dominadores(as) e submissos(as) sabem realmente com o que estão lidando, a responsabilidade e gravidade de cada gesto e/ou atitude tomada.
Se é verdade que a personagem do poema de Adélia é indiscutivelmente submissa e o José um Dominador, convém examinar algumas pistas do caráter da relação que constróem.

(continua)


sexta-feira, 23 de março de 2012

6.000!!!!!


Pois é , gente! 6.000 visitas apenas de internautas brasileiros, 29.000 visitas no total!

Mesmo sabendo que tanto eu como Astharoth tenhamos outros afazeres na vida que tem nos impedido de postar mais frequentemente aqui, não podemos deixar de comemorar esse número. Muitos passaram, muitos comentaram, muitos participam de nossa vida blogueira.
Obrigado!!! Obrigado a todos que leram e deixaram suas impressões e que comentaram em vários canais. É um orgulho muito grande ter feito tantas amizades e poder contribuir com alguém e receber a contribuição de todos.
Pedimos apenas mais um pouco de paciência que logo que tivermos o menor tempinho, publicaremos! Afinal, temos a felicidade de ter amigos aqui e nada mais justo do que nos dedicarmos à eles! Valeu demais pessoal! Vocês são demais!



domingo, 26 de fevereiro de 2012

Posturas e ritualística



Não sou goreano por divergências quanto algumas elaborações mas não deixo de admirar a ritualística envolvida em cada "serve" . Navegando pela internet achei essa foto e publico aqui como uma demonstração do quanto um ritual goreano pode ser belo.
Se algum Master ou kajira que frequentar nosso espaço puder identificar a posição, agradeço.

sábado, 25 de fevereiro de 2012

Porque saí do Fetlife (Janus SW)

Nem sei se alguém está interessando em saber mas eu estou interessado em registrar: nessa quarta-feira pedi para ter meu perfil eliminado do Fetlife, uma comunidade direcionada ao mundo "Kinky" como eles gostam de dizer.
Como usual, gostaria de deixar algumas coisas bem claras para que não pairem dúvidas: fiz e tenho amigos maravilhosos que estão lá e a lista não seria pequena e à eles toda a gratidão e reconhecimento do mundo e quem está nessa categoria sabe muito bem porque está e porque permanecerá nela.
No entanto, como em qualquer comunidade, existem pessoas que me assustam, sinceramente. Se meus 47 anos não servem de respaldo para minhas atitudes já que idade nem sempre significa maturidade, ao menos eles me ofereceram uma coleção de eventos que me permitem analisar criticamente qualquer fase de minha vida e essa experiência me indica que viver no limite já chegou a ser meu modo de vida e, sinceramente, quando faço o "rescaldo" contemplo que muitas das pessoas que viviam da forma que eu vivia ficaram pelo caminho engolidas pela maquinaria que está no entorno do "viver no limite".
Não que eu seja suficientemente careta para dizer que ninguém deva viver como queira, exatamente ao contrário, viver como cada um quer viver chega a ser uma obsessão. Quantas vezes Domme Mãe pediu para sair atrás de minha irmã caçula e ver onde "ia com o namorado"? Claro, não ia me dar ao trabalho de ser um "X9"! Eu sempre confiei na responsabilidade e discernimento das pessoas até que elas me provem em contrário e isso não significaria que eu devesse controlar mas que era hora de cada um trilhar seu caminho. Por motivo semelhante, saio do Fetlife.
Não aceito, não aceitarei jamais que me digam o que devo e não devo fazer. Se tivesse interessando em ter um Dono ou uma Dona , teria procurado e respeitado esse Top da forma que deve ser. Fora disso, desculpem, qualquer um pode expor suas idéias mas jamais terá minha adesão automática ou ainda minha obediência. Não pertenço à manadas, grupos, exércitos, ou qualquer agrupamento que , no fundo, faz com que as coisas virem egolatria, idolatria e por aí vai. Não me ocorre que eu tenha ou queira fazer isso. Minha admiração pelas pessoas provém do fato que as mesmas são e não por que têm, porque se impõe aos gritos e cheios de impáfia e má educação. Por isso nunca fui sub, até porque com uma exceção (até porque a pessoa não desejava ser minha Dona) ninguém conseguiu impor-se pelo que é.
Outro motivo, talvez mais relevante: será que as pessoas sabem, de fato, que estão lidando com algo que coloca as pessoas no limite de suas próprias vidas? Será que nosso meio já está contaminado pela falta de responsabilidade pela vida  alheia, pelas sensíveis e delicadas estruturas corporais e mentais com as quais lidamos com tanto desapreço? Desculpem a generalização, que cada um use a carapuça se de fato serve.
Achar que um Top deve ter responsabilidade compartilhada com o bottom, só para citar um exemplo, é constrangedor. A estrutura não é vertical? Estamos em uma estrutura hierárquica e não democrática? Co-responsabilidade implica em igualdade de valor social (status) e garantia de que a voz será ouvida. Será que temos isso no BDSM? Que cada um responda como acha que deve, eu só sei que EU sou responsável pelo que ocorrer com Astharoth em uma sessão, já que ela poderá estar amarrada, com "gagball" , vendada e não será ela que deverá ser responsabilizada por algo que quem tem total domínio da situação deveria cuidar. Se há uma tendência generalizada em firmar em público essa premissa, estou fora.
Outra coisa que , sinceramente, acho que está colocando muita "pilha" na coisa e que sinceramente é de irritar, é a capacidade das pessoas em não relaxarem e viverem algo agradável e prazeroso dentro do BDSM. Parece que chegamos a um estágio tão grande de competição de visões de mundo que chegamos ao absurdo de contrapor "partes" do nosso universo e dizer que essa é verdadeira, aquela é falsa, aquele é BDSM e aquele outro é "baunilha apimentado". Ah... Não fode, vai! Olha um pouco para fora e verão que europeus, americanos e outros povos curtem mais do que nós, sempre se vê festas onde o pessoal se diverte junto, tem prazer, tem práticas mas sempre aparecem relaxados e felizes. Isso é um erro? Será que o meio sempre tem de ser carrancudo e meio bestializado?
Apenas sei que chegou o momento de parar com alguns níveis da minha inserção e voltar-me à vida real o que dá mais certo. Só sei que ao contemplar tudo o que se passou nesses quase oito anos que estou envolvido com o BDSM vejo que mudei e muito! Ao ler o que eu escrevi no começo, eu rio, sinceramente... Como alguém que pode ser tão ingênuo???? Um professor de Logística me disse um dia : "nenhuma empresa é melhor do que as pessoas que as compõe" e ele estava certo apesar dessa generalização comportar imensas exceções (graças ao Eterno!) e foi por isso que permanecei por um tempo considerável no "Fet". 
O que mais me importa, todavia, é saber que BDSM é algo sexual, sim! e como tal sempre encontra sua plenitude na alcova, na vida do casal, trio, quarteto ou qualquer outro arranjo que se queira. Talvez por isso que Janus pareça tão pouco e mantenha sempre essa aura de falso mistério. Não há mistério em mim, há apenas uma pessoa que ao longo da vida aprendeu que discrição (e olha que não conservo tanto assim) é uma parte da "alma do negócio"
Tem gente que acha que pode mudar as pessoas, verdadeiros missionários da transformação e à esses eu desejo boa sorte  e aviso que as pessoas não mudam se não quiserem. Da minha parte, desisti e tanto eu como Astharoth nos retiramos do Fetlife mas nossa porta está sempre aberta aos amigos, podendo nos acessar por aqui, pelo e-mail sw.janus@gmail.com ou qualquer outro meio, sinal de fumaça, tambor etc. Tenham certeza que amamos cada um de nossos amigos.
No entanto, quando chega a hora, é bom saber que a porta é a serventia da casa e poupa muito aborrecimento.
Saudações sempre BDSMistas

Janus e Astharoth de Janus


segunda-feira, 23 de janeiro de 2012

Como toda cadela...(Astharoth de Janus)

Ele ordenou que eu me deitasse de bruços, rosto encarando somente a cabeceira daquele conhecido quarto de hotel. Uma velha e conhecida tensão, aquela que precede o desconhecido. Antecipar o que Ele deseja é uma das minhas maiores satisfações. Quando sou ordenada a algo e não sei antecipar o que Ele deseja, meu corpo é tomado por terríveis sensações de ansiedade. Logo, em seguida, ele acaricia minha nádegas e eu começo a antecipar Seus desejos. E conhecer Sua vontade me coloca mais cômoda e a preparar meu espírito para o que vem adiante.

Ele ordena que eu conte. Ajeita o cinto de couro que está em Sua mão e o dobra. Em movimentos rápidos e ainda suaves, prepara minhas nádegas para o que de fato Ele deseja e, em um lance tão rápido que mal consigo antecipar, recebo o primeiro golpe. Uma dor quente e irradiante passa por minhas nádegas. Minhas pernas ficam bambas e o suor brota em meu rosto e mãos. Em voz quase inaudível, digo “Um”. “Não ouço sua voz, cadela. Diga mais alto!”, Ele diz, em tom áspero. Eu repito “Um”. “Não te ensinei como se diz? Diga direito!”. “Um, Senhor”. “Muito bem, menina. Agradeça, também”. “Um, Senhor. Obrigada, Senhor”. “Isso, cadela. Siga contando”.

Assim, Ele desfere os golpes de cinto em minhas nádegas, que sentem o ardor na pele e esperam somente que aquele momento acabe logo. Conto até 10, como Ele ordenou. Minha pele negra, que desconhecia até então as sensações e aspectos da dor, permanece inalterada à vista. Mas eu sinto o calor na região recém flagelada. Ele ordena que eu me vire. Com alguma dificuldade, me viro e me coloco deitada, com o rosto olhando ao infinito do teto amarelo daquele quarto. Ele abre minha pernas com a ponta do cinto e ordena que eu as abra bem. Ainda sem me tocar com Suas mãos, acaricia meu sexo. O encara, aprecia e, sem que eu esperasse, bate levemente com a ponta do cinto. Mais pelo susto que pela dor, me agito. Ele não gosta e ordena que eu fique imóvel. Em seguida, desfere vários golpes rápidos e contínuos, que esquentam meu sexo e o deixam sensibilizado. Ele me pergunta quantos golpes havia desferido em minha pele. Eu, atordoada pelas sensações, não sei dizer. Me envergonho de minha displicência.


Visivelmente irritado por minha falta de atenção, Ele nada diz. Somente desfere mais golpes, dessa vez passando pela parte interna de minhas coxas e sexo. Somente sinto o calor e tento contar os rápidos golpes pelo meu corpo. Ele me pergunta o que senti. Digo que senti calor. Ele, tocando meu sexo, percebe que não me excitei. Pergunta se, por acaso, preciso de mais alguns para me excitar. Respondo que não, que não me agradam os golpes. Ele sorri e desfere mais alguns golpes, satisfeito. Me pergunta mais uma vez quantos golpes eu havia recebido. Eu não sei responder, mais uma vez. Sinto vontade de chorar, mas me mantenho firme e digo um número qualquer. Ele percebe minha manobra e põe-Se muito irritado “Cadela, não sabe contar? Como pode não saber?”. Lágrimas começam a brotar de meus olhos. “Vá para o chão, ao lado do Dono. Só saia daí quando Eu mandar, entendeu?”. “Sim Senhor”, respondi, em tom baixo. Ele ordena que eu fale mais alto. Eu digo. E me coloco ao piso, triste por meu fracasso em agradá-Lo. Então sinto Sua mão acariciar meus cabelos e dizer, baixinho “Muito bem, menina. Fique aí, ao alcance do Dono”. E percebo que Ele adormece, ao meu lado. E, assim, me ponho mais tranquila. Vigilo Seu sono. Como toda cadela deve fazer.

quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

#prontofalei: BBB 12, BDSM e aceitação social: O que eu tenho a ver com isso????

Passa tempo, volta tempo, mais do mesmo e com agora uma agravante, o dito BBB12 com uma Dominatrix. Ai, minhas bolas! (perdão pela má palavra) mas eu fico pensando que voltamos a discutir da "aceitação do BDSM na sociedade blá blá blá...". 
Reafirmo o meu ponto de vista: se você está esperando o BDSM ser aceito para falar à alguém que é BDSMista, sinto muito meu amigo, minha amiga mas seus lábios estarão colados com Super Bonder até o fim de seus dias!!!! JAMAIS, digo e repito, JAMAIS o BDSM será aceito como algo "normal", "tolerável" ou quejandos.
O fetichismo sim, é matéria diária em seus mais diversos "formatos" mas BDSM (Bondage, Dominação, Submissão e Sadomasoquismo) "no way". Não vai ter BBB, Fetlife, Club X, Y ou Z que dará jeito, é aceitarmos, de uma vez por todas, que somos marginais (estamos à margem), alternativos, loucos e tudo bem.
É bom lembrarmos , de vez em quando, nosso "grau de heresia" : há um postulado básico que diz que o ser humano tentará colocar sua sobrevivência física e mental em primeiro plano, em qualquer situação, todos os momentos de sua vida. Nem precisa argumentar o que eu sei que muita gente está na ponta da língua para dizer mas negar que andamos no fio da navalha é ingenuidade ou estupidez mesmo! Nós lidamos com um risco imenso e mesmo com todas as "atenuantes" temos de reconhecer que ele é grande e constante e tentamos (ou dizemos tentar) minimizá-lo ao máximo mas imaginem a visão de alguém de fora que tem esses postulados de auto-preservação bastante rígidos e diga-me: vocês o censurariam de pensar que somos o mapa do rascunho do inferno? Eu não!
Se ele pensasse diferente, poderia vir para o nosso "clube" que eu iria dar as boas vindas pessoalmente. Por mais que seja hipócrita, mentiroso, farisaico, esse mundo tem suas regras e dizem que devem ser obedecidas, no caso do nosso país, especialmente para desmoralizar nosso adversários! Meu caro, minha cara, dificil não reconhecer que aceitação social é utopia maior do que pôneis e unicórnios!
Em uma corrente do mundo da sexualidade (apesar da Dominatrix dizer que BDSM é uma coisa e sexo é outra, o que não concordo) como o dito "movimento gay" por mais emancipado, por mais presente na vida diária que seja, um dia desses discutia-se se a homossexualidade é "natural". OMG!!!! O que dizer das nossas pobres práticas!!!
Concordo com uma manifestação que li em uma comunidade do Fetlife que dizia que a Globo sabe muito bem mexer os pauzinhos para ter uma atração diferente, criando um mosaico de pessoas de universos diversos sem que isso repercuta além da duração do programa. Ao contrário do que se afirma, muitos gays alavancaram as próprias carreiras após o BBB mas o programa não tem força e nem a pretensão de mudar comportamentos mas, até certo ponto, reafirmá-los e serem expressões de opções de "consumo" dentro de um universo limitado e limitante da TV.
Portanto, a presença da Dominatrix, sem discutir o seu caráter, o que pretende , sua capacidade intelectual, não fará nem cócegas na questão da "aceitação" e , acredito, nem do preconceito tampouco, sendo desnecessária a "defesa do último bastião BDSMista" sitiado.
Mesmo as redes sociais, clubes e diversos espaços de expressão BDSMista podem, eventualmente, preparar-se para uma relativa presença a mais em seus espaços mas, como uma maré, de toda a "invasão" esperada sobrará pouca coisa no refluxo, apenas ficando pessoas que se identificarão com o BDSM o que é positivo para todos nós até porque a maioria vai perguntar em que "Stultifera Navis" foi embarcar e desce no próximo porto.
Portanto, cara Domme, Dominatrix, Switchers, subs e demais, fiquem tranquilos! A marginalidade de seu estilo de vida está garantida  e eu digo, particularmente, graças aos deuses do chicote e das cordas!!!! Quando o BDSM virar "mainstream" eu apeio e vou buscar outra transgressão. 
Quando ao BBB 12, não assistirei. Prefiro a presença virtual da minha sub (que poderia ser bem real, né?) ou horas de sono a mais do que ver mais do mesmo. 
Saudações a quem está aí para qualquer viagem,como diria o querido Frejat! 

Abração do Janus

P.S.: Para quem não sabe, Stultifera Navis era um navio que circulava pelos portos europeus, sem parada final, colhendo os loucos que habitavam as localidades, o simpático barco da imagem. Se isso lembra a alguém o jornalzinho da Psi da USP na década de 80, também vale

quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Um poema...


Acrobata da Dor

Gargalha, ri, num riso de tormenta,
Como um palhaço, que desengonçado,
Nervoso, ri, num riso absurdo, inflado
De uma ironia e de uma dor violenta.

Da gargalhada atroz, sanguinolenta,
Agita os guizos, e convulsionado
Salta, gavroche, salta clown, varado
Pelo estertor dessa agonia lenta ...

Pedem-te bis e um bis não se despreza!
Vamos! retesa os músculos, retesa
Nessas macabras piruetas d'aço. . .

E embora caias sobre o chão, fremente,
Afogado em teu sangue estuoso e quente,
Ri! Coração, tristíssimo palhaço.


Cruz e Souza, poeta brasileiro.

quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

Sobre submissão e vinhos (Astharoth de Janus)

Recentemente tive contato com o mundo dos vinhos. Apesar de detida leitura de textos sobre o tema, sobre como identificar aromas e paladares, aprendendo até a reconhecer barricas, madeiras e período de guarda, foi a experiência de tutoria a que mais me agregou na área.

Uma grande amiga me levou a feiras de vinho, me ensinou a ver as variações de cor - de um dourado em um branco envelhecido a um rubi de um tinto cheio de personalidade - e de aromas - a cereja, a baunilha, cravo, canela e carvalho - criando um universo com diversas oportunidades e sabores. Aos poucos, você educa seu olfato e paladar a reconhecer a mistura dessas diferentes sensações para, ao final, criar uma sensação gustativa única e pessoal.

Sim, apesar do reconhecimento dos aromas poder ser universal - sendo que quanto mais experimentado em ervas e sabores for o analista, mais fácil será o reconhecimento das diferentes notas de um vinho - a sensação gustativa da mescla de todas essas informações é um aparato único e mesmo que um experiente sommelier aprecie um determinado vinho, você pode reconhecer o grande valor daquele vinho sem, todavia, apreciá-lo tanto assim. Pode preferir um com notas mais fortes, ou mais frutado, ou conforme até seu estado de espírito em determinado dia.

Comparo a minha submissão e sua construção, assim, à essa experiência de formação de sommelier. Tive um contato inicial com a parte intelectual e estética da submissão, que me atraiu para leituras acadêmicas e literárias, que abordavam desde o aspecto patológico ao prazeroso, de como uma pessoa pode se desconstruir ou pode refazer-se por meio do prazer encontrado de forma pouco convencional.
 
Todavia, a “visita guiada” pelo mundo da submissão e servidão foi o que, de fato, me fez compreender os diferentes sabores e variações, que me fez perceber as diferentes formas de irradiação do prazer ou da dor, que ampliou meus sentidos para a percepção das mais variadas formas de se obter o resultado esperado. A partir daí, pude construir meu repertório e conhecer-me melhor, saber quais "sabores"  são os mais ressaltados e quais são aqueles que não me chamam a atenção, provando de vez em quando aqueles que eu não gostei em outros momentos, para ver se minha percepção a respeito deles mudou.


Somente depois dessa aprendizagem mínima da leitura das diferentes sensações, me senti minimamente capaz de me reconhecer como uma submissa. Por isso, àqueles que iniciam ou àqueles que já enveredam por essa estrada a mais tempo do que eu, somente posso dizer que tornar-se um submisso é como tornar-se um sommelier: você necessita de uma experiência teórica, que o habilite a reconhecer e expandir suas práticas; uma experiência sensorial, que consolide sua experiência teórica e que dê sentido e sabor a tudo aquilo que foi intelectualmente conhecido; e, finalmente, uma consolidação e construção de uma experiência sensorial própria, que firme a sua identidade e te faça conhecer seus limites e limitações.

Obviamente que nada disso é uma regra e não se deu de maneira tão ordenada, por isso a tutoria é tão importante, pois é uma oportunidade de aprendizagem imprescindível para a etapa de construção da submissão. Criar oportunidades de diálogo aberto com um alguém que, reconhecidamente, tenha mais conhecimento que você mas, ao mesmo tempo, te dê espaço para seu crescimento individual torna essa construção ainda mais eficaz. A troca intelectual ordena a parte sensorial.

A submissão assim construída torna o submisso mais confiante em sua prática, mais atento a reconhecer “os vinhos que não o agradam” e a reconhecer-se em constante processo de aprendizagem de novas sensações, pois seus sentidos foram “educados” a reconhecer tal expansão.

Assim, convido nossos sommeliers da fina arte da submissão a apreciar com ainda mais requinte e prazer o saboroso vinho que alcança nossos sentidos apurados.

segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

Refletindo acerta do "Decálogo" (Janus SW)

Primeiramente, gostaria de desejar um FELIZ 2012 a todos os leitores de nosso "blog"! Retornando à ativa depois de um período de ausência dado, principalmente, pelo excesso de trabalho, nosso famoso ganha pão.

Pois bem, nesse retorno eu gostaria de submeter à um cotejo um texto que escrevi a muito tempo e que consistia em um decálogo referente às qualidades que uma submissa deveria ter para que merecesse a coleira de Janus.
Antes de quaisquer comentários, vamos reproduzir o tal decálogo:

1. Devotamento inquestionável ao seu Senhor. 
2. Obediência irrestrita ao que lhe é mandado fazer ou não fazer. 
3. Confiança que o seu Senhor tutela pela sua saúde, segurança e bem estar. 
4. Saber que o direito à voz não prescinde da sabedoria do silêncio. 
5. Ter claro que seu Senhor é o centro de sua vida e nada é mais importante do que a satisfação de quem a tem. 
6. Saber que sua vida profissional e pessoal será resguardada mas esse resguardo não a desobriga, em nenhum termo, das condutas convenientes à uma submissa. 
7. Nenhum contato pessoal serão proibido exceto aqueles que ofereçam risco físico e/ou moral à submissa sendo que em todos esses casos será o Dono que tomará as devidas providências. 
8. Honestidade, transparência e lealdade são qualidades essenciais. 
9. O direito à devolução da coleira é assegurado a quem não puder ou não desejar portá-la. 
10. Ter claro que a vida BDSM é algo sério e como tal será conduzido.

Ao ler, confesso, não posso evitar pensar que esse tal decálogo tenha muito de ingenuidade mas devo reconhecer, sem qualquer modéstia, que é algo que tenho a honra de realizar. No entanto, no que ele implica?

1. Obediência absoluta é de fato desejável?

Aqui, antes de qualquer coisa, gostaria de fazer uma observação fundamental: a questão não se coloca quanto à obediência, o que não faria o menor sentido mas o que segue à palavra obediência, ou seja, "irrestrita".
Sigo afirmando o que quem me lê a algum tempo sabe: irrestrito é algo que deve ser visto com bastante cuidado. Irrestrito é sem limites, sem balizas, de forma que desafie qualquer limite. É disso que estamos falando? Espero que não porque não é esse o meu conceito de vida, sexualidade e de BDSM. 
Pensando como alguém na posição de submissão, a obediência não pode prescindir de um olhar voltado para si mesmo, apesar de várias declarações de obediência absolutamente irrestrita. Se esse olhar faltar, cabe ao Dono ou Dona dar conta desse cuidado.

2. Confiança que o Top cuida de sua saúde, bem estar e segurança

Vamos e venhamos: será que alguém em sã consciência se sujeitaria em submeter-se em alguém que não tivesse o mínimo respeito por quem se submete? Que ninguém tenha ilusão: o cuidado de saúde, bem estar e segurança é fundamental para quem quer dominar e para quem quer se submeter, principalmente o primeiro.
Demonstrações concretas de cuidado e de respeito pelo submisso são condições fundamentais para que não existam fatos a se lamentar nem tão pouco aquela vitimização que coloca "Doms e Dommes vilões" e "subs inocentes vítimas deles".

3. Saber que sua vida profissional e pessoal será resguardada mas esse resguardo não a desobriga, em nenhum termo, das condutas convenientes à uma submissa. 


Não conheço muitos casos entre meus amigos onde um dos dois membros da dupla (ou demais arranjos) não trabalhe ou desempenhe alguma atividade profissinal autônoma e isso, ao menos para mim, tem implicações importantes no que se refere ao cuidado que o Top deve ter no exercício de seu mando.
Por mais que desejemos, esse mundo não é necessariamente tolerante com a diversidade, seja racial, de credo, de concepções de mundo e de sexualidade, especialmente com coisas que não compreendem como o BDSM por exemplo.
No entanto, cada um de nós tem de ganhar o pão de cada dia, não é certo? E como fica essa questão de possíveis "impulsos de intereferência"? Acredito que aí deva existir uma dose reforçada de bom senso e o respeito pela vida privada de nossos queridos e queridas "bottoms".
O mais importante, na minha concepção, é estar "presente" na vida de nossos bottoms em profundidade, na consciência e na alma de cada um deles o que implica estrita observância das posturas e atitudes dignas de cada um, configurando-se o real domínio.

4. Honestidade, transparência e lealdade são qualidades essenciais. 


Fico pensando aqui o quanto isso é fundamental para QUALQUER relação humana  e não apenas no BDSM! Penso também o quanto deve-se criar uma atmosfera onde a livre expressão, resguardado o respeito devido, a lealdade e a transparência , significando menos fazer da vida "um livro aberto" mas sim responsabilizando-se pelo que se faz, jogando limpo, sejam coisas que se imponham pelo convencimento e pela cumplicidade entre Top e bottom, não transformando o domínio numa atividade ditatorial e de falas duras e berros!
Sinceramente, para mim domínio jamais foi uma estrada de via única mas que se reafirma pelo diálogo, por poder olhar nos olhos e aprender cada vez mais. Fora disso, a ditadura só é justificável na fantasia de ambos e não apenas de um.


5. Ter claro que seu Senhor é o centro de sua vida e nada é mais importante do que a satisfação de quem a tem. O direito à devolução da coleira é assegurado a quem não puder ou não desejar portá-la.

 São coisas diversas mas que têm muito a ver uma com a outra. Ter clareza de que a satisfação de seu Senhor ou Senhora é central é garantia de exercício de todos os demais itens, de garantir sua satisfação pelo serviço que é dignificado pelo prazer que proporciona.
No entanto, a vida é dinâmica, os relacionamentos SM ou baunilhas vão se transmutando e por conta disso, muitas vezes, não conseguimos dar conta de comandar ou servir. Tanto quanto tomar a coleira, devolvê-la é um gesto, ao menos para meus olhos, de extrema dignidade!
Longe de ser um gesto de fraqueza significa um reconhecimento de suas limitações, do respeito, consideração e lealdade que todo Top merece. Melhor assim do que terminar "relacionamentos" de forma desgastada e desgastante, gerando aborrecimentos e ressentimentos onde deveria apenas existir boas lembranças e satisfação.

Por fim, algo que tenho procurado sempre manter em mente em minhas ações dentro do BDSM: BDSM é coisa séria e assim deve ser tratada. Infelizmente, vemos por aí que há muita brincadeira em meio a gente que se diz séria mas que prefere esquecer das graves conseqüências físicas e emocionais que a nossa prática enseja e que cautela e respeito devem ser sempre a tônica.
Em uma sociedade cada vez mais individualizada, preconceituosa e que não coloca outro limite senão o desfrute individual, agir com conseqüência é um grandíssimo desafio para todos nós. Que estejamos à altura dela.

Saudações SM

Janus SW

sábado, 26 de novembro de 2011

Discoteca básica de Janus - Buraka Som Sistema



Ultimamente tenho ouvido , por sugestão de Astharoth, muito de Buraka Som Sistema um grupo angolano sediado em Lisboa. Eles fazem uma vertente do kuduro, música angolana.
Aqui um pequeno exemplo da música deles.


Lately I´ve heard, suggested by Astharoth a lot of songs by Buraka Som Sistema a group from Angola based in Lisbon. They do a kind of kuduro, music of Angola with guests like M.I.A.
A little sample of their work.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Caixa de Pandora - Soberba - Parte 2

(continuação)

Quando deixamos nossos amigos, ela estava ajelhada com dores espalhavam-se por seus membros inferiores mas jamais pensou em manifestar quaisquer sentimentos que inspirassem algum sentimento de vitória naquele homem.
O que mais queria? Até onde chegaria? Tomava notas em um caderno com capa de couro durante bem mais de meia hora como se não estivesse ali. Por mais que desejasse que houvesse alguma manifestação, jamais ousaria dar conta de seu desassosego.
- Na Idade Média os açoites eram feitos de couro, no entanto, tinham em suas pontas elementos metálicos em forma de uma pequena bola sendo que algumas, principalmente das pontas, eram feitas em diversos tamanhos para provocar ulcerações as mais diversas possíveis. Os cortes sangravam e pelo sangue se esvaiam não apenas a matéria corpórea mas todo o orgulho e, assim, faziam aflorar a humildade e a penitência de pequenos animais insubordinados como você. Com certeza essa cabeça já está maquinando o quanto a deixaria aí ajoelhada sem qualquer palavra que fosse. Se fez essa pergunta mentalmente , creio que a fez, não ouse repeti-la pois acumulará a desilusão de não encontrar reposta. Aliás, desde quanto o mundo ou alguém nele foi feito para seu prazer pessoal?
Arrancou a fita com a qual estava selada a boca e houve o primeiro grito de dor. Uma bofetada ecoou e calou o choro recém inciado insuflando-a de um orgulho próprio que fora anteriormente retirado e, depois disso, nada foi dito, sequer uma palavra que fosse por mais tempo dispendido em anotações.
- A carne é como o orgulho, um ente que nos salva em qualquer lugar, menos aqui. Aqui, todo o orgulho obstrui o caminho para a livre fruição de nossa essência. O que há de erótico no orgulho? Diga-me! Permanece calada? Como ousa?
Queria dizer-lhe que era , como sempre, dona de si e de seus haveres. No entanto, mais uma vez, dizer isso uniria a certeza do domínio ao impossível de ser dominado. Se parecei ser inevitável a rendição porque prolongar o ato de soberba? Será que a pergunta melhor será feita da seguinte maneira: se a rendição é inevitável porque NÃO prolongá-lo? Decidiu que a rendição seria indesejável, improvável, sem qualquer hipótese de que viesse a acontecer.
Sede... Não iria pedir água! Que quem quer comandar saiba bem a necessidade de seus comandados! Meia, uma, uma e meia, duas horas sem qualquer líquido. Da parte dele, tampouco desviou-se das infindáveis anotações feitas à bico de pena sendo que apenas alguns olhares fortuitos eram dirigidos como constatação de que nada havia se alterado. 
- Não tem sequer o necessário para a sua subsistência mas dedica todo o seu sofrimento à um motivo superior, sem reclamar, sem ao menos ter pena de si mesmo. Sacrifica-se em nome daquele que ainda virá quando tudo estiver acabado e o corpo se desfizer como ente ideal frente às cogitações do cotidiano. Não! Não sucumbirá por mais que esteja pensando que assim será feito. Se tudo basear-se em apenas comer e beber, do que nos distinguimos de qualquer criatura viva que rasteja pelo planeta? Quer liberar sua animalidade? Não! Desnecessária é qualquer resposta. 
Pela primeira vez, levantou-se da mesa, deixou o caderno de anotações e foi para dentro da casa. Trouxe de volta um cocho como aqueles que se dá de beber aos animais e colocou cheio de água fresca não muito distante de onde ela encontrava-se ajoelhada.
- Se quiser saciar seus instintos animais, que seja como um animal.
A sede começava a torturá-la depois das horas sem qualquer líquido e aquela bebida cujo frescor sentia-se à distância a fascinava. Beberia?

(Fim da Parte 2)

Caixa de Pandora - Soberba - Parte 1


- Isso não faz o menor sentido...
Uma figura de mulher estava olhando um detalhado desenho de uma sessão sado masoquista de muito tempo atrás. Disfarçado sob a delicada cobertura de purificação, previa a mortificação da carne como a condição necessária e suficiente para a liberação do espírito.
- O que não te faz sentido? - perguntou o homem que estava ao lado dela. - Não sabia que o corpo aprisiona o espírito e isso é conhecido milenarmente? Basta que experimente deixar as marcas indeléveis no corpo para perceber que pouco é essa carcaça que um dia será um repasto de vermes.
Ela virou-se e fitou-o diretamente nos olhos:
- Sem isso, o espírito não tem materialidade. Será que temos de destruir tudo para que possamos ter iluminação mesmo que seja pouca?
- Quem disse "destruir"? - perguntou reforçando as aspas com as pontas dos dedos. - Basta na verdade não concentrar-se nela, exatamente sabê-la frágil para que a sua real essência liberte-se.
Ela sabia que, no fundo, provocar aquele homem que tanto queria bem seria uma grande e inconsequente loucura. No entanto, como dizer-lhe que fartara-se da sanidade que supostamente lhe era oferecida em todas as oportunidades que havia em classificar o inclassificável?
- Consegue me mostrar o que significa essa libertação?
Ele olhou com profunda desconfiança e até certa dose de desprezo para ela e perguntou-se se, verdadeiramente, estava a desejar o que a boca falava.
- Você não conseguiria suportar sequer a décima parte do que isso representaria. Não peça aquilo que não pode suportar.
Ela não acreditava no que estava a ouvir. Seria tão desprezível o seu propósito a ponto de merecer aquele grau de desconsideração? Novamente arguiu, novamente obteve a mesma resposta.
- Fato é que o que você não deseja mostrar, caríssimo, é a sua incapacidade de me mostrar o caminho que fica a dizer aos quatro ventos que é o mais indispensável para o esclarecimento humano, aquele que liberta do corpo a essência mais verdadeira e primeira de todos nós. Basta de palavras!
Ele apertou os olhos e logo compreendeu qual era o jogo que estava sendo travado. Porque ceder a alguém que fazia de uma provocação básica demais para ser considerada sequer relevante.
- Quer mesmo saber o que é isso? Nem sequer teme pelo que possa te acontecer? Tem a dimensão de qual batalha está querendo travar? Claro que não. Soubesse, evitaria-a com todas as suas forças.
- Porque sou indigna de atingir o estado maior?
- Não! Exatamente porque não sabe o que o estado maior possa vir a significar.
- Mostre-me...
- Quando eu desejar e não antes. No entanto, veremos do que você é feita: dispa-se completamente de suas roupas e ajoelhe-se aqui, no caminho frio.
Começou a livrar-se de suas roupas mas foi dito para que se afastasse quando estava a preparar-se e só voltar quando estivesse totalmente nua.
Não demorou em nada para fazer tal coisa e em sua nudez aproximou-se dele. A primeira providência foi colar um pergaminho na boca com a palavra "silêncio" de forma a impossibilitar-lhe qualquer comunicação senão por grunhidos que, classificados como inumanos sequer eram considerados. Em seguida, uma corda de seda atou-lhe as mãos e os pés e assim foi mandada ajoelhar-se.
Para tal, não pode ajudar com os pés a ter a estabilidade necessária para ajoelhar-se de forma tranquila mas soltou-se em um movimento que causou-lhe dor a ponto de querer gritar mas não conseguia.
- Fique calada e pronta.
O que viria a seguir? Pouco sabia, menos era dito. Restava esperar.

(Fim da Parte 1)