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quarta-feira, 7 de outubro de 2009

A educação dos sentidos - Parte 11 - The Education of the Senses - Part 11

(Para:/To: Andrasta Domme)

aleph ficou estranhamente calado como se tudo o que vivera lhe transpasasse o espírito com a capacidade que desconhecia em devastar com a ilusão que pudesse ter quanto à submissão.
Por mais que entendesse que negar seu pólo submisso seria trair a própria essência que tinha, acostumara-se a pensar no poder da culpa enquanto um ente de maior impacto em seu ser do que poderia inicialmente imaginar.Não se tratava de uma afirmação padrão de todo e qualquer de todo e qualquer "bottom" mas uma experiência real, vivida, fora de qualquer hipótese, repleta de concretude.
Queria poder comparar a dor sofrida em sua dimensão meramente carnal com essa dor provocada pela solidão revestida de culpa para chegar à conclusão que coubesse na sua visão individual, no seu sentimento particular. Sabia muito bem que, colocada e manifestada nessas bases, a Senhora provavelmente não consentiria em aplicar-lhe o castigo demandado pela sua necessidade de experiência, ao contrário, a rejeitaria como excessiva e danosa à ele.
Portanto, para experimentar graus maiores de sofrimento deveria demonstrar que o "montante" anterior não fora excessivo e isso apenas estaria evidenciado por uma contínua percepção do seu próprio bem estar por parte da Senhora cujos olhos sempre estavam pousados nele, demonstração da preocupação que Ela tinha.
- Mortifique minha carne, Senhora! Faça-me provar do seu chicote, eu suplico, no limite do que se possa aguentar e além! Eu Lhe suplico! - pensava aleph como querendo transmitir pelos misteriosos mecanismos de uma percepção que ultrapassava os sentidos, era evidente pelo olhar.
Depois da refeição e da lavagem dos pratos, aleph fora convidado ao quarto de sua Dona, perfumado com madeiras queimadas e incenso.
- Deite-se aqui, aleph, ao lado da cama - falou a Senhora apontando a área contígua à cabeceira da cama. Antes que deitasse, substituiu a coleira de passeio pela de sessão o que aguçava o prazer de aleph ao perceber uma convergência entre os seus desejos e de sua Dona.
Adormeceu e talvez em seus pensamentos não lhe ocorrera um fato que já lhe fora narrado mas do qual se esquecera por completo e que revelaria à Dona a extensão do seu inconsciente.
- Dor... Preciso de dor... - murmurou à princípio em tom muito baixo mas não a ponto de passar despercebido à sua Senhora que não tinha sono pesado.
- Senhora!.... Eu peço.... Torture-me... - balbuciava aleph - Mate-me se quiser... Torture-me!
A Senhora ouvia e custava a acreditar no que ouvia. Mesmo quando aleph silenciara e dormia placidamente, a mulher que não mais conseguia dormir, temeu pelas consequências do abandono sofrido horas antes. Seria esse grau de masoquismo intenso, essa atração pela dor, uma fonte de prazer ou apenas uma forma de "auto-punição" se assim pudesse dizer?
Esperou que aleph acordar por si e ordenou-lhe banhar-se novamente e apresentar-se, despido, na sala dos suplícios, uma instalação no que poderia ser chamado de "lado sul" do Templo que fora escolhida como tal por um acidental e providencial isolamento acústico tornando qualquer som ali produzido praticamente inaudível ao público externo. Preparado, aleph dirigia-se à sala quando foi mandado parar e esperar.
- Domme colocará a sua guia e trará até aqui. Não se aproxime antes disso!!!
Domme dirigiu-se a um sinal da Senhora em direção à aleph e colocou-lhe a quia. Mencionou trazê-lo andando.
-Oras, aleph, para quem pretende sofrer os rigores de uma Dona, não seria suficiente vir andando... Venha como um cão! - disse com um sorriso sarcástico nos lábios, do tipo "cuidado com o que deseja" já que não há um plano "B" para os desejos que uma Dona resolve satisfazer.
A confissão sussurrada durante o sono e da qual o submisso não tinha conhecimento, munira a Dominante de todos os recursos e estratégias para "satisfazer" aleph de uma forma planejada.
Foi exatamente onde a Senhora estava e onde aleph foi conduzido pela Domme que o "séquito" fez uma pausa e onde pode-se ver as mãos e os joelhos rubros com o esforço.
- Em pé, cão! Meu querido e amado cãozinho que vai finalmente sentir a dor que deseja tanto a ponto de falar durante o sono! Que bonitinho esse cãozinho! - disse, desferindo um bofetada na cara de aleph. - Vamos ver se suporta a primeira estação da realização dos seus desejos. Calce imediatamente essas sandálias.
aleph não entendeu de imediato a ordem mas nem precisaria. Mesmo sem saber literalmente o que havia dito, com certeza toda a sua energia contida desde a experiência da solidão no quarto deveria ter transbordado durante os momentos onde sua vigilância desaparecera.
Calçar aquelas sandálias seria a primeira etapa? Um riso interiorizado achava que sua Senhora havia se enganado mas , acreditem-me, era aleph deveria ter observado melhor onde colocaria os pés. Aguentaria o que mais estivesse por vir?

(Fim da 11a. parte)

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4 comentários:

  1. Caro Janus,

    Será que é possível se chegar a um coeficiente de dor física que se possa igualar à dor da culpa? Ou ainda, a outras dores psicológicas, como a dor da ausência, da saudade, da rejeição, do abandono, etc.
    A dor física cessa. Seja pelo uso da safe, seja porque o corpo cai e desmaie. A dor psicológica... por vezes ela nos persegue. Não tem safe word, não cessa. Nos persegue até em sonhos, como no pobre Aleph.
    Entretanto, por outro lado,a culpa, é um componente importante no universo BDSM. Quase ouso dizer que não existe submissão sem culpa.
    Enfim... que nós submissos e masoquistas saibamos transformar nossas dores físicas ou psicológicas em muitos orgasmos!
    Se nossa matriz psiquica é essa, vamos então tratar de tirar o melor proveito disso e gozar muitooo, hehehe.

    Beijos,

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  2. É exatamente isso que eu penso, amiga. É algo controverso mas vai ao encontro do que vejo, analiso e penso.
    Beijos e grato pela visita. Saudações ao seu Senhor!

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  3. Caro Senhor Janus!

    Simplesmente deliciosos os textos de "Educação dos Sentidos".
    Sem palavras que expressem o prazer de ler todas as partes que ainda não havia lido.
    Na 10ª Parte está escrito:
    "Queria , e muito, ouvir a voz de sua Senhora mas tudo que conseguiu ouvir foram os passos, a caminhada em silêncio, primeiro na parte externa, após dentro do Templo e agora no hall."
    Sei bem o que é isso quando o desespero se instala.

    Só posso dizer que são cada dia mais envolventes as vivências de aleph.

    Doces besos, Amigo Querido"

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  4. Cara Amar...

    É imensa minha alegria em ler seu comentário. Dá-me muito prazer escrever "A Educação..." e saber que pessoas como você gostam dela, é uma grande alegria.
    Beijos respeitosas, amiga querida!

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