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segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Igualdade de tratamento entre irmãos(irmãs) de coleira e ciúme no BDSM (Janus SW)

Aprendi em minha vida que o fato de um tema ser recorrente em qualquer aspecto nos deveria a levar a pensar não apenas sobre a questão da recorrência mas do próprio "fenômeno" que se observa.
Nos últimos dias, vi um tema para discussão em uma comunidade do Orkut e outra em um outro local que versavam, cada um a seu modo, sobre a questão da irmandade de coleira e suas consequências.
A primeira, dava conta da "desigualdade" de tratamento das submissas em um harém e o outro discorria acerca do "ciúme" em uma relação D/s. Fico aqui pensando, sinceramente, qual são as concepções que permeiam tais impressões e tais dúvidas? Como ambas concepções encaixam-se dentro do contexto da irmandade de coleira? Comecemos pela primeira questão.
Feliz ou infelizmente, muitos resistem em aceitar o óbvio: o nosso meio é tudo menos democrático, ao contrário, é hierarquizado, com instâncias bem definidas e que deveriam ser observadas rigorosamente a bem do relacionamento nas bases que se concebem dentro do BDSM, ou seja, quem manda, manda e quem obedece, obedece e porque quer/deve/tem necessidade de fazê-lo, escolhe-se a razão.
Colocado assim, parece que há um vácuo no relacionamento Top/bottom e, ao meu ver, existe mesmo, cabendo a cada Dominante preenchê-lo da forma mais conveniente que encontrar dentro de um contexto onde a alimentação da submissão é a idolatria do que domina por parte de quem é dominado.
Pode parecer esdrúxulo falar nisso mas se o "encanto" se quebra, não há hipótese em manter-se a relação onde deve haver, mesmo que não enunciada, uma boa razão para se submeter, uma razão íntima e pessoal constantemente "testada" no decorrer da servidão.
Apesar de teoricamente ser uma iniciativa unilateral do Top trazer mais um Bottom para a relação, é evidente ser de bom alvitre que se ouça as percepções do bottom sem querer dizer, absolutamente, que a decisão final seja condicionada pela "aceitação" ou não da situação, afinal, como já tive a oportunidade de escrever em outros momentos, a devolução da coleira não é apenas uma possibilidade mas uma realidade da qual não se deve abrir mão em qualquer circunstância.
É evidente que esse é um equilíbrio delicado ao qual deve-se dar muita atenção. Na fase que dominava mais "amiúde" fui classificado como "Dominador romântico" por ter algumas objeções à irmandade de coleira, principalmente pela percepção de que existem apenas duas condições possíveis: onde há uma convergência da percepção da viabilidade da irmandade entre os envolvidos ou então de um processo desgastante de uma sutil "sabotagem" que deve ser controlada pelo Top com mão de ferro, se necessário.
Estatisticamente, mesmo sem uma amostra tão significativa assim, o que vejo é que na maioria dos casos o que ocorre é a segunda hipótese, normalmente gerando uma série de disputas que acabam por tornar a experiência amarga para o bottom preterido.
Será que o Top consegue dedicar a "mesma" quantidade de atenção à um bottom e a outro? Talvez sim, talvez não, sendo muito maior a hipótese de "não" ser a resposta na maioria dos casos sendo que nesse processo são utilizadas as "armas" mais variadas possíveis, atingindo o quase inimaginável.
O que desejo fazer claro é que a habilidade do Top quando surgem esses conflitos deve ser extrema e sua vontade deverá prevalecer, independentemente de quais questões estejam colocadas. Aos bottoms, cabe a percepção de que nem mesmo pais e mães, ao menos os que tem coragem de assumir, não têm condições de dispensar o mesmo percentual de atenção a mais de um filho(a), além, de por uma questão de empatia (e fato que deveria ser assumido com tranquilidade) sentem-se mais próximos de um ou outro filho sem com isso queira-se dizer que não dedique amor, atenção e cuidado a todos.
Esse raciocínio, ao meu ver, pode ser aplicado perfeitamente quando se instala o "canil": por necessidade, por vontade ou qualquer outra razão, o Top dedicará sua atenção prioritária ou desigual para quem desejar e isso não pode sequer ser questionado já que é um ato de vontade livre de quem pode ter essa capacidade de deliberar.
Em resumo: caberá ao bottom decidir se é suportável a convivência nas condições desejadas pelo Dominante e ao Dono/Dona a vontade de seguir dispondo dos serviços de seu bottom nas condições enunciadas e sem quaisquer posturas inadequadas.
Quanto ao ciúme, permito-me uma abordagem extremamente pessoal: ciúme é para relações baunilhas onde a questão da posse não está claramente enunciada, onde há uma aura até falsa de igualdade entre os parceiros, gêneros ou qualquer outra classificação.
No nosso meio a questão da posse está claramente definida e deve ser respeitada pelos demais que convivem com o Top e seu(sua) bottom. A questão pode ser colocada simples e claramente: qualquer assédio ao bottom de quem quer seja é um desrespeito e deve ser repelido enquanto tal.
Uma distinção clara deve ser feita entre assédio e admiração. Eu mesmo devo confessar que admiro diversas submissas e escravas mas que essa admiração é sempre ditada nas bases do respeito primeiramente pela submissa e depois por seu Top. Nessas bases, a admiração é um elemento de orgulho para qualquer Dominante já que demonstra a qualidade do domínio, a força da personalidade daquele(a) que nos serve.
Esse texto prenuncia algumas linhas de discussão ao qual, como sempre, esse blog está aberto.
Saudações BDSMistas!

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4 comentários:

  1. Parabéns pelo texto!
    Esclarecedor, assim como sua participação na comunidade citada, a qual agradeço.
    O tema irmãs de coleira é, creio eu, o que causa mais polêmica no meio BDSM, por tratar-se de relações complexas onde deve-se respeitar hierarquia, além dos princípios da ética e, principalmente, os da submissão e obediência.
    Acredito firmemente que se é desejo do Top, deve-se fazer o possível para conviver em harmonia, trazendo prazeres, alegrias e orgulho a Ele.
    Não é fácil. Contudo, se cada um dá conta do seu papel, pode ser até possível, mas falo de pessoas que estão realmente dentro do contexto, conscientes do seu papel.
    Das "outras", aquelas que ainda não entenderam os princípios básicos de uma D/s, nem vale comentar.

    Abraços respeitosos.

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  2. Perfeito texto...

    Na realidade, ainda que seja um assunto fartamente debatido e jamais exaurido, as colocações são claras e bem complementadas pela querida {vita}_ST, haverá sempre harmonia, desde que se entenda o contexto, cada um o seu papel e sua disposição para ali estar...

    Parabens!

    saudações

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  3. Meu anjo!!! Por mais que se fale ou tente esclarecer, a irmandade de coleira sempre será um assunto em aberto, pois são poucos(as) sub ou escravos(as) que aceitam verdadeiramente um(a) irmã. Pq afinal sao seres humanos com sentimentos e ai é onde td começa a se mover para o real domínio...Quem comanda deve saber como abrir esse canil sem prejuízos para ambas as partes...assim acredito eu .

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  4. Caras amigas....

    De fato, esse é um assunto palpitante e que jamais deixará de ser debatido e acredito que é indispensável discutí-lo.
    Saudações a todas!

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