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sexta-feira, 10 de julho de 2009

BDSM: Dói mas é tão bom!!! (Carcereiro)

BDSM: do inglês Bondage, Domination, Submission and Masochism

Uma sala à meia-luz. Aparelhos estranhos, correntes, cordas, velas vermelhas. Gritos abafados provocados pelo contato da cera quente com a pele. Chicotes, roupas de couro, pessoas amordaçadas e nuas. A luz fraca pisca quando a corrente elétrica passa pelo corpo de um escravo. Alguns estão de quatro, comendo em tigelas e usando coleiras. Outros são ofendidos, humilhados e pisoteados por mulheres de saltos finíssimos.
A imagem é chocante. Estranha.

Terminados os “jogos”, a rainha – a senhora dos escravos – sai da sala. Todos a seguem. Além dos escravos e submissos, estão também outros mestres dominadores.
Depois de alguns minutos, todos se encontram no hall. Camiseta, calça jeans, tailleur, escarpim – tudo absolutamente trivial. Despedem-se e cada um pega seu carro, vai pra casa encontrar a família, talvez tomar um chope com amigos do escritório. A play party está oficialmente encerrada. Eles somem no meio da multidão.

O que é sadomasoquismo?

O termo “sadomasoquista” nasceu da junção dos nomes de dois autores: Marquês de Sade (França, 1740-1814), cujo principal livro é Os Cento e Vinte Dias de Sodoma, e Lepold von Sacher-Masoch (Lemberg, parte da atual Rússia, 1836-1895), que escreveu Vênus das Peles. Enquanto o primeiro descrevia brilhantemente os fetiches dominadores, o segundo pregava o amor submisso, sofredor e passivo.

Mas as práticas sádicas e masoquistas têm muito mais de 200 anos. Na verdade, sempre fizeram parte da natureza humana. Na Grécia antiga, escravos eram comercializados só para satisfazer os desejos sexuais de seus donos. Roma seguiu na mesma onda, principalmente sob o reino de imperadores sádicos como Calígula e Nero.

Mas peraí: isso é normal?

Bom, sabe-se que no reino animal o homem é o único ser que provoca ou sente dor por prazer. Só que a psicologia não vê isso com bons olhos… Inês Cavalieri, psicóloga do IbraSexo (Instituto Brasileiro para Saúde Sexual) e pós-graduada em sexologia, explica que existem duas opiniões bem divergentes sobre a prática: a da psiquiatria e a da sexologia.

De acordo com a psiquiatria, sadomasoquismo (assim como homossexualismo, podolatria e qualquer coisa que não seja a penetração vaginal, na relação heterossexual) é considerado desvio sexual e merece tratamento.

“Mas o que é normal? Quem definiu a normalidade? A Psiquiatria é arcaica, parou no tempo”, diz Inês.

Já a sexologia tem opinião totalmente diferente: tudo o que é consensual é normal. Você gosta de apanhar e o outro de bater? Vá fundo. Se alguém tem a fantasia mais doida da face da Terra e encontra quem também a tenha, divirta-se! A sexologia apóia a busca do prazer pessoal, independentemente da opção sexual.

Não existe verdade absoluta: há quem prefira jogar no time de Freud e quem aceite o prazer alheio sem tantos julgamentos morais. Em qual você se encaixa?

Realidade SM

Que delícia de espancamento!

A realidade SM é bem diferente das fantasias adolescentes que criamos com mulheres lindas, vestidas de couro, chicoteando homens de bunda branca.

Ninguém está lá para ser espancado até a morte e não optou pelo SM porque enfiou o dedo na tomada quando era criança e adorou a sensação (pode até ser que isso tenha acontecido, mas não é obrigatório). O sádico não é alguém que odeia a humanidade. Ele se preocupa com o prazer do submisso e vice-versa. Esse é o tesão da coisa. A prática envolve prazer, dor, humilhação. O sadismo está intimamente ligado ao masoquismo. Aliás, são inseparáveis.

Segundo os adeptos, a premissa do BDSM (sigla inglesa que significa Bondage, Domination, Submission and Masochism – amarração, dominação, submissão e masoquismo) é: são, seguro e consensual.

São: antes de fazer, é necessário saber do que se trata e como funciona. Sem informação, não dá para optar por nada.

Seguro: as práticas são realizadas depois de muita conversa e, se necessário, exame físico. Senão um epiléptico pode cair duro no chão durante uma sessão de choques, por exemplo.

Consensual: tudo o que acontece é de comum acordo. Caso contrário, é agressão e deve ser denunciado à polícia.

O que Acontece

A verdade por trás do couro

O SM está mais para jogo sexual do que para espancamento. Alguns o chamam de “psicodrama erótico”. O que acontece é o seguinte:

  • Pessoas com gostos afins se conhecem e combinam o que farão na “cena” – episódios em que são encenados os fetiches: ser pisoteado por saltos altos, ser tratado como cachorro etc. Todos os detalhes e limites são amplamente discutidos e quem determina o que pode ou não ser feito é o submisso, não o dominador. Isso é decidido ANTES da cena e não durante – na hora H, o dominador é quem manda.
  • Para evitar acidentes, é combinada de antemão uma senha de segurança, que só deve ser dita em último caso, quando os limites estiverem sendo ultrapassados. Essa palavra não pode ser “não”, afinal escravo não fala “não” pro dono! Pode ser “chuchu”, por exemplo.
  • Muitos donos, escravos e submissos têm uma relação fora da cena. Eles criam vínculo afetivo, tomam chope, telefonam um pro outro, fazem compras juntos… e até se chamam de “mô” e “bizuzinho”.

Como entrar no mundo SM

E então você decide que quer dar umas palmadas na bunda de alguém sem medo de ser feliz. E aí? Não dá pra sair na rua perguntando: “Ei! Você gosta de apanhar? Usar prendedor de mamilos, então, nem pensar?” A sociedade é mal informada sobre SM e as pessoas acharão que você está precisando de uma camisa-de-força. Não force a barra. Com a Internet, ficou fácil obter informações sobre o assunto, conversar com praticantes e marcar encontros. Porém, para isso, é bom ter alguns cuidados:

  • Procure sites que contenham textos e e-mails de contato – assim dá para tirar as dúvidas. Sugestões: www.nossomos.com.br e www.smsite.com
  • Em chats de SM, tecle várias vezes com a mesma pessoa e só então marque um encontro. Em local público!
  • Marinheiros de primeira viagem devem acessar o site da Associação BDSM Brasil (criada em novembro de 2001, já tem quase 500 associados), que oferece conteúdo escrito, marca eventos e sugere links.

Como é?

Tudo está muito lindo, mas o que te interessa mesmo é saber quem enfia o que e onde. Como foi dito antes, existem graduações, mas não significa que haja “evolução”. Se você quiser fazer a vida inteira a mesma coisa, faça. Aqui vai um pequeno menu de opções:

  • SM LIGHT
    • Tapas: na cara, na bunda e onde mais lhe aprouver.
    • Humilhação verbal: “Cadelinha” ou “Seu broxa bastardo!”
    • Imitação de animais: rastejar e fazer barulho de porco ou de cachorro; colocar sela e montar como se fosse um cavalo (poneyman/woman); comer na tigela, usar coleira (dogwoman/man).
    • Pequenas lesões: arranhões nas costas, beliscões e apertões.
  • SM CLÁSSICO
    • Eletrochoque: não é morder fio desencapado. Existe uma aparelhagem específica para isso: eletroestimuladores, ou TENS (Trans Electric Nerve Stimulator). Eles produzem sensações que vão desde um formigamento até um choque sério. Pode ser usado externamente ou inserido no ânus e na vagina.
    • Cera de vela: o ideal é a de sete dias – acumula mais cera derretida e a mantém quente. Para começar, escolha as partes menos sensíveis do corpo, como braços e pernas. Depois, se gostar, vá para as mais sensíveis: mamilos, pênis, parte interna das coxas… Quanto mais perto da pele estiver a vela, mais quente estará a cera quando chegar ao corpo e, conseqüentemente, mais dor causará.
    • Chicote: dispensa explicações.
    • Prendedor de mamilos: objetos parecidos com pregadores de roupa postos sobre os mamilos (de homens e mulheres). Algumas vezes também ligados à corrente elétrica. Ui!
    • Cócegas: algumas pessoas ficam incontroláveis, em desespero e até chegam ao orgasmo.
  • SM HARD
    • Fist fucking: introdução da mão e do punho no ânus ou na vagina.
    • Water sports: chamados assim porque a matéria-prima são as secreções do corpo (urina, fezes e vômito):
      • o chuva dourada: urinar sobre a boca ou sobre o corpo do parceiro;
      • o coprofilia (ou scat): comer cocô, literalmente.
      • Obs.: alguns estudos antropológicos dizem que essa tara vem do comportamento animal de marcar o território com urina. Sendo assim, o submisso que gosta de tomar o líquido (ou comer o sólido) sente-se “propriedade” do dominador.
    • Misofilia: transar com gente suja e fedida. Mendigos, por exemplo.

Contrato de escravidão: faça já o seu!

Se você quer umas cadelinhas (ou, sei lá, arrumar um mestre), a Internet pode ser útil: no site do “Carcereiro”, já existem modelos de contrato de escravidão prontinhos! Eles não têm nenhuma validade legal, mas na comunidade BDSM são bem respeitados. É só preencher com seus dados e pronto! Aqui vai um esboço:

Eu,____________________, declaro-me neste documento voluntariamente escrava e submissa ao meu dono e senhor FULANO DE TAL, aceitando todas as regras aqui estabelecidas:

1 Confiarei no meu dono e farei todas as suas vontades.

2 Terei orgulho de ser escrava do meu dono, honrando seu nome e autoridade.

3 Jamais desobedecerei às ordens de meu dono e estarei à sua disposição 24 horas por dia.

4 Jamais gozarei sem a permissão de meu dono e só me masturbarei quando ele permitir ou ordenar.

5 Aceitarei amarramentos, algemas, vendas, palmadas, agradecendo sempre pelo privilégio de servi-lo.

6 Permanecerei cuidadosamente depilada da maneira que meu dono mais gostar.

7 Jamais implorarei para me soltar ou parar de me bater, a não ser que seja essa a vontade de meu dono.

8 Nunca discordarei de meu dono.

9 Dirigir-me-ei a ele sempre como Meu dono e senhor.

10 Sempre tomarei de bom grado o esperma que me for destinado, não derramando uma só gota.

Gostou e quer mais informações? Confira o Site do Carcereiro

A escrava que não é Isaura: Ela nasceu pra servir

Lígia é publicitária em São Paulo. Também se formou em Fisioterapia. Trabalha, ganha seu próprio dinheiro, não sai vestida de preto nem pede pra apanhar na fila da padaria. Ao contrário do que muitos pensam, os SMs não vivem em salas escuras se batendo o dia inteiro – também têm profissão, família, vão ao supermercado e fazem feira.

Você é escrava?
Sou submissa. Na minha opinião, escrava é aquela que se submete apenas fisicamente a um senhor. Já a submissa se submete física e psicologicamente.

Quando você sacou que curtia BDSM?
Há nove anos. O início foi ocasional, com um namorado: um tapa no rosto e uma “humilhação” verbal acenderam o desejo. Praticamos quase dois anos sem saber que o que fazíamos tinha nome. Atualmente estou com outro mestre, oito anos mais novo que eu.

Quais práticas você curte?
Bondage com cordas, correntes; vela e gelo; curto spanking, adoro apanhar com mão, chicote, chibata, cinto, palmatória; adoro vendas, gags e restritores de movimentos e dogwoman: andar de quatro, comer em terrina, dormir no chão, andar de coleira como um cachorro. E tortura nos mamilos e genitais.

Você já foi vendida?
Não. Mas, se meu mestre quisesse me emprestar a alguém de confiança, eu aceitaria.

Existem leilões de escravos ou isso é lenda?
Existem. Pessoas são vendidas, compradas ou emprestadas, de acordo com seus fetiches.

O mestre é sádico e você gosta de apanhar. Caso ele não te bata, isso é sadismo?
O SM não é seco assim. Por exemplo: curto apanhar e meu mestre é mais dominador que sádico – ele me proporciona a dor como uma forma de me ver bem, feliz, ou como prêmio.

Os escravos podem reclamar com os mestres caso estes não cumpram direito seu papel?
Se uma das partes está aquém do que se espera, independentemente de ser dominador ou submisso, a conversa é o ponto de equilíbrio. Sem um feedback, nenhum dos dois vai saber como as coisas andam. Dois pontos unem muito os casais BDSM: confiança e cumplicidade. E, se existe confiança, há total liberdade para conversar sobre assuntos ligados ou não à relação.

Se quiser conversar com a Lígia, o e-mail dela é bixinhu@uol.com.br.

O mestre mandou:
Entrevistamos um senhor de escravos pra ver se é bom.

“Carcereiro” é um engenheiro carioca de 54 anos. Depois que sai do escritório, ninguém sabe o que ele gosta de fazer. “Carcereiro” é mestre SM há muitos anos e nos explica o que, exatamente, isso significa.

O que torna alguém mestre SM?
É a mesma coisa que torna pessoas submissas cadelas ou escravas: a vontade, até meio inexplicável, de viver uma fantasia. Apenas em pólos opostos. Da mesma maneira que eu gosto de bater, há quem goste de apanhar. E ficamos todos felizes.

Existe diferença entre escravo e submisso?
Toda escrava é submissa, mas nem toda submissa é escrava. A escrava é totalmente passiva e não-participativa. Já à submissa é permitido (ou desejado) participação, não só na elaboração de fantasias quanto na existência de rebeldia aos comandos, para que haja a necessidade do castigo, do qual ambos tiram muito prazer. Há ainda a cadela, uma submissa que usa uma coleira e, eventualmente, lambe os pés do dono. No extremo, também pode comer em vasilha usando apenas a língua.

O dono pode vender, emprestar ou alugar seus escravos?
Sim. Submissas, cadelas ou escravas podem ser submetidas a qualquer dessas fantasias, desde que haja acordo prévio.

Só se pode ter um escravo por vez?
Não. Pode-se ter quantos quiser.

Perguntas mais freqüentes sobre BDSM

Rola penetração ou é só estapeação?
A combinar. É mito que nenhuma relação SM tenha aquilo naquilo. Se os envolvidos quiserem que role, rola. Caso contrário, ninguém afoga o ganso.
Esse povo que se açoita acha isso divertido?
É divertido se for a sua praia. Quando estamos sexualmente excitados, a maioria das estimulações podem ser divertidas, ainda mais levando em conta que os nervos sensoriais da área genital são condutores tanto dos estímulos de dor como dos de prazer.
Como saber qual é o limite para não morrer de dor?
A partir do momento em que você não tiver mais prazer, pare.
Mas isso não é pra mim, não!
Será? Se você gosta de assistir a filmes pornôs encenados em masmorras, curte ser arranhado, dar uns beliscões, tapas na bunda ou puxar o cabelo, você tem uma quedinha pelo SM. Caaalma! Da mesma forma que nem todo mundo que curte beber vira alcoólatra, você também não precisa gostar de ser espancado. O BDSM vai do light ao escatológico – o menu é amplo. Você curte dar uns tapas mas não faz chuva dourada nem a pau? Tudo bem. Não é necessário gostar (nem fazer) de tudo.
E se eu tentar mas não gostar?
Caso você experimente e decida que não é para você, que assim seja. Nesse caso, você é um “baunilha” – termo usado para designar os não-adeptos. A gíria nasceu por causa do sorvete de baunilha: ele dá base para a maioria dos outros sabores, mas, sozinho, é bem sem gracinha. Sem gracinha aos olhos deles – isso não quer dizer que você seja sexualmente uma toupeira. Não fique triste: você também é normal.
(Fonte: http://carcereiro.110mb.com/indframes.html)

7 comentários:

  1. É muito bom passear em teu blog Janus!
    Flui que é uma beleza e quando se acaba a leitura, vem a vontade de quero mais!

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  2. Prezada {mazana}MAGNO.

    Esse seu comentário me deixa muito feliz! É uma grande motivação para seguir publicando.
    Beijos respeitosos para vc e saudações ao seu Senhor!
    P.S.: Não se esqueça que se vc quiser, os artigos de minha autoria podem ser baixados em formato PDF no Scribd. Link ao final dos artigos.

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  3. Velho amigo, muitos textos, mesmo de outros sites e fóruns, como este que deixou aqui merecem mesmo a divulgação. Muitas vezes as pessoas não tem acesso aos sites de onde vieram, por desconhecer ou sei lá por quais motivos. Fato é que divulgando sempre ajuda a alguém a aprender um pouco mais sobre este nosso maravilhoso mundo SM.
    Abraços

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  4. Caríssimo Lestat.

    Essa é exatamente a intenção: juntamente com os meus textos de produção própria, trazer para o conhecimento dos meus leitores aquilo que leio e que julgo de qualidade.
    Concordo com vc que essa seja uma das formas mais interessantes de se apredenr sobre o nosso mundo SM: usufruindo das contribuições de pessoas de valor.
    Grato pelo privilégio da visita, caríssimo!
    Abraços!

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  5. como é bom contar com tua amplitude em compartilhar também os textos de tua autoria. Agradeço imensamente! {rianah} a querida amiga, sabe de blogs que alimento, um deles baunilha e essa disponibilização será de grande valia, pois tenho vontade de publicar lá, algum texto bem legal para que visitantes possam compreender que BDSMistas não são “ET’s”. rsrs... né?!

    Dias ensolarado em teu caminhar! Beijo respeitoso da {mazana}MAGNO

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  6. Querida {mazana}MAGNO

    Eu tenho uma opinião muito pessoal e divergente da sua (com todo o respeito) acerca dessa tentativa de fazer os "baunilhas" entenderem o BDSM mas fico feliz que vc tenha gostado do texto do grande Carcereiro.
    Um beijo respeitoso à vc e saudações ao seu Senhor!
    Janus

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  7. Amei o texto e o blog...

    Visita o meu http://natyeeumavidadepaixao.blogspot.com.br/

    Bjs!

    Natye*

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